Boas polêmicas
O governo federal lançou uma iniciativa de combate a fake news sobre políticas públicas bastante criticada por profissionais do fact checking. Governos podem checar notícias e informações? Quem pode? Como os governos podem reagir à desinformação sobre políticas públicas?
Taís Seibt* A criação da página Brasil Sem Fake, anunciada pela Secretaria de Comunicação Social da Presidência como uma plataforma de checagem de informações e combate à desinformação, causou desconforto. Agências de checagem criticaram publicamente o que classificam como politização do combate à desinformação. Os argumentos para crítica são balizados pelas boas práticas de fact-checking globalmente compartilhadas por iniciativas de verificação signatárias da International Fact-checking Network (IFCN), criada em 2014. Nesta quase uma década de IFCN, a checagem de fatos passou de inovação...
Quando ainda tinha interesse em comprar o Twitter, Elon Musk falou em abrir os algoritmos da rede. Isso é possível? Como pode ser feito?
Christian Perrone Logo após anunciar a aquisição do Twitter, Elon Musk indicou em um press release a sua visão para a plataforma, o que inclui a proposta polêmica de tornar público o seu código. A preocupação de Musk parece derivar do que ele entende como possíveis vieses políticos presentes no algoritmo da plataforma que diminuiria o alcance de certas vozes na rede social. A medida serviria, então, como uma forma de gerar maior transparência sobre o modo como os tweets circulam e são classificados e ordenados na plataforma. A questão que fica é se essa publicidade com relação ao algoritmo...
As mídias partidarizadas têm um papel na democracia e na garantia de informações de qualidade?
Ana Cristina Suzina Para começar, precisamos entender que ser partidário tem dois sentidos. O primeiro é estar filiado a um partido e o segundo é associar-se a uma escola de pensamento. As duas podem coincidir, porque uma pessoa filiada a um partido, em geral, compartilha uma visão de mundo com seus pares. Porém, ter uma visão de mundo não requer, necessariamente filiar-se a um partido político. Expandindo essa compreensão para a esfera midiática, podemos identificar mídias partidárias como o Boletim Informativo do Partido dos Trabalhadores ou a página do Partido da Social Democracia...
Quais os riscos e os benefícios de se consumir notícias por plataformas de mensagens, como o WhatsApp e o Telegram?
Giuliander Carpes As organizações de notícias brasileiras não deveriam enviar boletins para seus leitores no WhatsApp, o aplicativo mais utilizado do país? Não existe uma oportunidade para os meios de comunicação investirem numa rede onde a desinformação é reconhecidamente um problema e a informação de maior credibilidade fornecida pelo jornalismo profissional poderia funcionar como um antídoto? Desde pelo menos a metade da década passada, quando o WhatsApp se descolou de competidores como Viber e Messenger para se tornar o aplicativo de mensagens mais popular do Brasil (e do mundo), essas...
O que o caso Facebook Papers ensina sobre a cobertura dos veículos de comunicação? Colaboração é sempre o melhor caminho?
Lúcia Mesquita Desde 2016, com a divulgação do até então maior projeto colaborativo da história dos veículos de mídia de todo o mundo, o mundo passou a conhecer melhor uma prática do jornalismo que já há muito existia, mas que mais recentemente passou a ser conhecida como jornalismo colaborativo. O Panama Papers representou para o jornalismo praticado globalmente um ponto de inflexão. Dali para adiante os jornalistas e os veículos de comunicação viriam que o jornalismo investigativo e o jornalismo como um todo ganhavam um novo aliado. Isso fez com que estes reconhecessem na colaboração uma...
Devemos comentar/noticiar as fake news que viralizam ou a melhor estratégia é o silêncio? Quais os critérios para entrar na cobertura?
Bernardo Barbosa Dar atenção ou não a um conteúdo com desinformação é um dilema enfrentado diariamente por quem trabalha com checagem de fatos. De um lado, há o temor de amplificar algo que pode estar circulando apenas em grupos bastante restritos; de outro, existe a necessidade de colocar à disposição do público um esclarecimento sobre um assunto que já corre solto nas redes sociais e nos aplicativos de mensagem. Em resumo, ao avaliar se devemos ou não falar sobre uma fake news que viralizou, a minha resposta inicial é: depende. Não creio que haja uma resposta exata sobre como...
Como é possível equilibrar a identificação de responsáveis pela desinformação e a proteção de dados pessoais?
O 'Boas Polêmicas' é um espaço de debate do *desinformante. Quinzenalmente convidamos dois especialistas para responderem uma única questão. As divergências e pontos contrários que eventualmente surgem nos fazem refletir e aprender ainda mais sobre o tema em questão. Nesta edição contamos com a presença da equipe do Data Privacy Brasil (Bruno Bioni, Gabriela Vergili, Hana Mesquita e Jaqueline Pigatto) e com a advogada Samara Castro. Leia os textos abaixo e entre nessa conversa com a gente!Bruno Bioni, Gabriela Vergili, Hana Mesquita e Jaqueline Pigatto O fenômeno da desinformação é...
Afinal, por que as pessoas compartilham fake news?
Ricardo Lins Horta A crescente preocupação com a forma como a arquitetura e o funcionamento das redes sociais têm afetado nossas vidas tem mobilizado pesquisadores de várias áreas. Fala-se dos efeitos na esfera pública da “polarização afetiva”, em que sociedades passam a ser divididas por grupos que nutrem ódio um pelo outro[1]. Uma das frentes mais instigantes de pesquisa é a de cientistas comportamentais que fazem experimentos com centenas ou milhares de pessoas, tentando entender quais mecanismos psicológicos ajudariam a explicar por que notícias evidentemente absurdas ou exageradas...
Afinal, as mídias sociais criam bolhas onde só vemos postagens alinhadas com o que pensamos ou elas também criam espaço para divergências?
Raquel Recuero Essa é uma questão muito importante, que várias pesquisas na área da desinformação têm tentado responder. Mas para discuti-la, precisamos primeiro entender o conceito de bolha na mídia social. Essa ideia, que foi proposta por vários pesquisadores, como o Eli Pariser, que usa a noção de filtro-bolha. Mas o que é isso? Basicamente, a ideia é que as plataformas de mídia social têm características técnicas e de apropriação pelas pessoas que facilitam a presença de conteúdos semelhantes para pessoas que tendem a concordar com ele. Sabemos que redes sociais, ou grupos sociais,...
As plataformas devem ter algum tipo de responsabilidade sobre conteúdo desinformativo publicado pelos usuários?
“Apressa-te devagar” (festina lente) era o lema frequentemente repetido pelo imperador romano Augusto. A frase, que atravessou os séculos, foi adotada pelos Médici e virou marca de relógio. As suas várias interpretações geralmente convergem para a ideia de que toda ação possui seu tempo, e que desempenha-la apressadamente, com o intuito de dar cabo de algo que parece urgente, é a receita para o desastre. Não se nega a urgência das coisas – ao contrário -, mas joga-se luz tanto nos custos de se fazer logo apressadamente, como nos ônus de nunca se fazer nada. O debate sobre os remédios que...