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Fernando Frazão/Agência Brasil

Entre novas e velhas, fake news impactaram primeiro turno

Fernando Frazão/Agência Brasil
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“O Tribunal Superior Eleitoral foi extremamente ágil no julgamento de todas as ações, de todas as representações de combate à desinformação, de discursos de ódio, das fake news. Me parece que não tenha tido grande influência nessas eleições”, afirmou Alexandre de Moraes, presidente do TSE, na coletiva à imprensa realizada na noite de domingo (2). No entanto, pesquisadoras e especialistas no tema da desinformação avaliam que esta afirmativa precisa ser lida com ressalvas. Monitoramentos feitos durante a véspera e o dia da votação apontam grande fluxo desinformativo nos grupos de extrema direita. O TSE recebeu 783 denúncias de desinformação e disparos em massa nos dias 1 e 2 de outubro.

Pesquisadoras concordam que a Corte agiu mais rapidamente quando acionada, o que não significou pouca influência da desinformação na disputa eleitoral. Helena Martins, coordenadora do “Telas – Laboratório de Pesquisa em Políticas, Tecnologia e Economia da Comunicação” e professora da UFC, lembra que “houve muitas decisões importantes desde o período inicial, especialmente sobre o financiamento empresarial para desinformação”.  

“Várias pesquisas mostraram a permanência de links de conteúdos desinformativos, o próprio Tribunal teve que pressionar as plataformas para a retirada desses conteúdos. Então, isso revela uma desigualdade de poder em relação ao Judiciário do Brasil e as plataformas. E isso é algo que a gente vai ter que enfrentar no próximo período”.

Análise semelhante faz Ana Regina Rego, professora da UFPI e coordenadora da Rede Nacional de Combate à Desinformação (RNCD Brasil). “Grande parte da desinformação não foi coibida dentro das plataformas digitais e também não chegou a ser objeto de judicialização”. 

A pesquisadora acrescenta que foram utilizadas narrativas antigas e novas, todas com desinformação, vinculando o candidato do PT e da esquerda ao tráfico, corrupção e fechamento de igrejas. “Isso ocorreu muito e, em nossa avaliação, foi decisivo nesse momento”.

Nos grupos evangélicos de extrema direita, nas narrativas de bem contra o mal (comunismo) e fechamento de igrejas, a pauta moral e de costumes prevaleceu junto com críticas às urnas eletrônicas e às pesquisas eleitorais, conforme plantão de monitoramento das redes, na véspera e no domingo de votação, realizado pelas organizações Casa Galileia, NetLab, Novelo e Democracia em Xeque.  Os pesquisadores ressaltam que a satanização de Lula e da esquerda também é encontrada em grupos católicos, reforçando a importância da pauta religiosa nesta disputa eleitoral. 

Maria Paula Almada, pesquisadora do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Democracia Digital (INCT.DD) da UFBA, lembra que a Justiça Eleitoral age quando é demandada,  tomando como o exemplo a desinformação que circulou em sites e perfis pessoais tentando fazer a  vinculação de Lula ao traficante do PCC Marcola. “. 

A matéria foi publicada originalmente no site Antagonista. A postagem feita por Bolsonaro no Facebook, logo após a meia-noite, chegou a mais de 36 mil curtidas e 11 mil compartilhamentos e inicia atacando Lula: “O crime organizado apoia Lula, porque Lula representa os interesses deles”. Já a deputada Carla Zambelli optou por compartilhar o trecho da informação dada pela Jovem Pan. O vídeo atingiu mais de um milhão de views.  “A esmagadora maioria das notícias que circulam não passa pelo tribunal”, afirmou Almada. Pesquisadores reforçam o caráter multiplataforma da desinformação. Apesar da remoção em determinados canais, ela continua circulando em redes menos conhecidas e em outros formatos. 

Viviane Tavares, da secretaria-executiva do Coletivo Brasil de Comunicação Social – Intervozes, disse que  “Mais do que nunca vimos o quanto fez falta a aprovação do PL 2630 e  a cobrança por mais transparência das plataformas digitais. Nos deparamos com uma enxurrada de fake news e tendendo a aumentar durante esses próximos 28 dias”. 

Discursos radicais para grupos pequenos e decisivos 

Especialistas se manifestaram no Twitter sobre o impacto da desinformação nas eleições. Para Tai Nalon, fundadora da agência de checagem Aos Fatos e membro da Ajor, a radicalização do discurso (que descamba para a notícia falsa) se manteve fora dos holofotes, ficando em redes de nicho. Esta é uma característica das fake news deste ano, segundo ela, que são plantadas em núcleos minoritários, mas em momentos decisivos. 

Ela deu o exemplo da notícia sobre o vínculo entre PCC e PT, publicada originalmente no site O Antagonista, mas que se espalhou como pólvora pelas redes sociais até o TSE decidir pela remoção do conteúdo.

Cristina Tardáguila, fundadora da Agência Lupa, também deu seus palpites no Twitter. Tardáguila acredita que houve menos fake news que em 2018 (até agora). Ela ressaltou a eleição de vários negacionistas e muitos desinformadores contumazes, “o que indica que a desinformação foi capaz de catapultar perfis e angariar votos”. Dessa forma, ela conclui o fio dizendo que “o fact checking de 2023 passa necessariamente pelo Congresso Nacional”.

Suspeitas de fraude, ataques às urnas e às pesquisas 

Entre sexta, dia 30 de setembro, e sábado, dia 1 de outubro, os principais temas da desinformação que circularam pelas redes monitoradas pelas organizações Democracia em Xeque, Netlab, Novelo Data e Casa Galileia, foram ataques à segurança das urnas, ao processo de apuração e incitação à violência política. 

Já no domingo, dia do pleito, o mesmo monitoramento apontou que a existência de filas nas seções eleitorais foi explorada para turbinar questionamentos ao TSE, como ganhou destaque a circulação da “notícia” de que o traficante Marcola teria declarado voto em Lula.

Em relação à integridade das urnas e ataques às pesquisas, o monitoramento verificou que posts sobre fraude nas urnas foram numericamente mais frequentes, mas, mesmo em menor número, posts que questionam as pesquisas obtiveram mais interações, principalmente no Instagram. Assim, a quantidade de interações de posts sobre pesquisas foi, no Facebook, 7,4 vezes maior do que a dos posts sobre urnas.

No Instagram, a interação de posts sobre pesquisas foi 14,5 vezes maior do que a de posts sobre urnas. Não foram comparadas métricas de diferentes plataformas.

Ataques aos moradores do Nordeste

Durante a tarde desta segunda (3/10), a palavra “nordestinos” permaneceu nas tendências do Twitter. O resultado final no Nordeste neste primeiro turno é o dobro da diferença final entre os candidatos. No Brasil inteiro, Lula ficou 5,19 pontos à frente do ex-capitão. Por isso, sem os votos em massa dos nordestinos, o petista teria ficado em segundo lugar no pleito de ontem. Isso provocou ataques xenófobos aos moradores do Nordeste nas redes sociais e discurso de ódio. Por outro lado, foram detectados também vídeos e postagens de texto colocando em dúvida o resultado obtido na região.

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