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Johannes Plenio para Pexels

jun 10, 2022 | Destaques, Notícias

Informações falsas sobre clima engajam mais que conteúdo verificado, aponta pesquisa

Johannes Plenio para Pexels
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No início deste ano, pela primeira vez,  o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas abordou  as consequências da desinformação climática sobre o consenso científico e a urgência ambiental.  De acordo com o relatório, a “retórica e a desinformação resultantes sobre a mudança climática e o enfraquecimento deliberado da ciência contribuíram para a má percepção do consenso científico, incerteza, risco e urgência desconsiderados, e dissidência”. Nesta quinta-feira (9), o Institute for Strategic Dialogue (ISD) divulgou relatório que documenta o ecossistema da desinformação ambiental e aponta saídas, com foco na COP26. O estudo foi realizado em parceria com o CASM Technology e a aliança Climate Action Against Disinformation (CAAD).

A pesquisa, realizada durante 18 meses, aponta que “para resolver a crise climática, também devemos enfrentar a crise da informação”. De acordo com a pesquisa, há uma tendência no discurso desinformativo que afasta uma negação total das mudanças climáticas e se aproxima em direção a algo que os pesquisadores definem como “guerras culturais” a partir de “discursos de atraso”. Quatro desses discursos foram detectados pelos pesquisadores como proeminentes durante a última Cúpula do Clima. 

O primeiro deles, e que mais ganhou tração durante a COP26, foi categorizado como ‘Elitismo/Hipocrisia’. Essa narrativa buscava trazer o evento como corrupto e irrelevante a partir do questionamento do impacto ambiental da sua realização e das medidas de saúde pública, como por exemplo: a pandemia desapareceu convenientemente agora eles querem discutir as mudanças climáticas. Já a segunda narrativa encontrada buscava absolver um determinado país de não ter adotado qualquer ação climática, destacando as falhas percebidas em outro, um discurso fortalecido pelo populismo e isolacionismo. Além disso, a equipe de pesquisadores identificou conteúdos que questionam a viabilidade e eficácia de energia renovável e conteúdos que, de forma pontual, semeavam desconfiança a partir de informações falsas sobre veículos elétricos.

“Mesmo com amplo consenso sobre a realidade das mudanças climáticas, há um longo caminho pela frente e uma janela de oportunidade cada vez menor para alcançar mudanças políticas, de acordo com os alertas do IPCC e os objetivos do Acordo de Paris. Isso torna as tentativas de retardar a ação por meio de desinformação potencialmente tão prejudiciais quanto as alegações anteriores que negavam a própria existência das mudanças climáticas”, destaca o relatório. 

 

O ecossistema da mídia

A partir de dados das redes sociais, o relatório apontou como a desinformação é disseminada e amplificada. Os pesquisadores destacaram, por meio da comparação de postagens do centro de ciência climática oficial do Facebook e posts de páginas com ceticismo climático, que as informações falsas sobre o clima possuem muito mais engajamento e tração que conteúdos com informação verificada promovida pela própria plataforma. Outro ponto identificado pela pesquisa é que os conteúdos danosos foram publicados por pessoas influentes que possuíam contas verificadas pelas mídias sociais.

Os resultados também indicam que essas pessoas influentes podem gerar um efeito desproporcional na disseminação desse conteúdo adverso. “De 25 de outubro a 21 de novembro de 2021, tweets e tweets de citações de 16 contas acumularam um total de 507.000 curtidas e retuítes (“interações”) apenas em narrativas climáticas”, aponta o relatório. Além disso, os “infratores reincidentes” costumam espalhar desinformação sobre vários tópicos, como Covid-19 e teorias conspiratórias como o QAnon.

Os pesquisadores constataram que muitas contas que espalharam desinformação tinham conteúdos verificados por checadores de fatos, mas isso não gerava uma resposta significativa das plataformas. “Nossos analistas encontraram alguns casos em que rótulos de verificação de fatos foram aplicados ou casos em que os usuários foram direcionados para fontes de conteúdo mais confiáveis. No entanto, além dessa medida, encontramos poucas evidências de qualquer ação contra disseminadores de desinformação conhecidos, mesmo durante momentos críticos como uma cúpula climática global ou eventos climáticos extremos”, indicou o relatório. Além disso, a partir da análise de 140 páginas do Facebook, a pesquisa concluiu que o conteúdo enganoso carece de rotulagem, alertas ou qualquer forma de contexto adicional, indicando que nem todos os conteúdos que incluem desinformação recebem rótulos e que os que recebem ainda assim continuam a gerar interações e engajamento.

Outra questão apontada na pesquisa é que os meios de comunicação são fundamentais para o ecossistema de desinformação sobre mudanças climáticas. “A cobertura em rádio, mídia impressa e de transmissão continua a amplificar e legitimar visões céticas do clima e, por sua vez, fornecer pontos de referência ostensivamente ‘críveis’ para especialistas e contas de alta tração nas mídias sociais”, indicou. Entre os veículos em que os pesquisadores encontraram esse tipo de conteúdo estão o The Daily Mail, The Telegraph, The Wall Street Journal e Sky News Australia.

Por fim, os pesquisadores relataram que a desinformação viral geralmente se espalha por meio de conteúdo baseado em imagens, sejam vídeos, memes ou fotos descontextualizadas e que publicidade paga nas plataformas digitais, inclusive de empresas de combustíveis fósseis e seus grupos de fachada, continua a aumentar o alcance do greenwashing e outras narrativas de atraso.

 

Possíveis soluções

O relatório ‘Deny, Deceive, Delay: Documenting and Responding to Climate Disinformation at COP26 and Beyond’ também aponta possíveis respostas para o problema por meio de cobranças direcionadas a agentes governamentais, órgãos multilaterais e plataformas digitais. Para os dois primeiros grupos, a coalizão indica implementar uma definição unificada de desinformação e desinformação climática dentro das principais instituições e limitar as brechas de isenção de mídia na legislação, como por exemplo a Lei de Serviços Digitais da UE e a Lei de Segurança Online do Reino Unido.

Já para os reguladores e empresas de tecnologia, se postula:

 

  • Refletir sobre a definição de desinformação e desinformação climática nos Padrões da Comunidade e/ou Termos de Serviço da empresa de tecnologia.
  • Aplicar as políticas da plataforma contra contas de infratores reincidentes.
  • Melhorar a transparência e o acesso a dados para pesquisadores sobre tendências de desinformação climática, bem como o papel desempenhado pela amplificação algorítmica.
  • Restringir a publicidade paga e o conteúdo patrocinado de empresas de combustíveis fósseis, grupos de fachada conhecidos e/ou outros atores que repetidamente espalham desinformação.
  • Garantir uma melhor rotulagem da plataforma em ‘contexto ausente’ e a republicação de conteúdo antigo ou reciclado.
  • Habilitar pesquisas baseadas em imagens da API para apoiar pesquisas sobre desinformação viral.
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