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Markus para Pexels

mar 30, 2022 | destaques, notícias

Pela primeira vez, relatório da ONU aponta efeitos da desinformação nas mudanças climáticas

Markus para Pexels
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O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) abordou pela primeira vez os efeitos da desinformação para retardar a ação sobre as mudanças climáticas. No relatório previsto para ser publicado no próximo dia 4 de abril, cientistas enfatizam como a  desinformação e a polarização sobre a ciência têm dificultado a ação climática, principalmente na América do Norte.

Segundo a versão preliminar do relatório do IPCC, “os interesses econômicos e políticos adquiridos organizaram e financiaram a desinformação e a comunicação ‘contrária’ à mudança climática”. Os pesquisadores também apontaram que a “retórica e a desinformação resultantes sobre a mudança climática e o enfraquecimento deliberado da ciência contribuíram para a má percepção do consenso científico, incerteza, risco e urgência desconsiderados, e dissidência”. 

O texto também ressalta que a falta de percepção pública dos riscos climáticos e o apoio público polarizado às ações climáticas estão apoiados em uma tendência da mídia de “ampliar de forma desigual certas mensagens que não são apoiadas pela ciência, contribuindo para a politização da ciência”. 

Em um artigo publicado no jornal britânico The Guardian, a jornalista ambiental Amy Westervelt critica o IPCC por não nomear os culpados. Segundo Westervelt, a indústria de combustíveis fósseis é a principal responsável por essa polarização da ciência ao financiar pesquisas que propõem soluções que não funcionam ou que se aplicam apenas para poucos. 

A jornalista lembra que é a primeira vez que o IPCC inclui cientistas sociais nos grupos de pesquisadores das mudanças climáticas. Esses vêm argumentando há décadas que o maior obstáculo à ação climática não é a falta de compreensão científica ou de dados, mas a falta de vontade política. 

 

É preciso entender a desinformação climática

Outro problema é a falta de consenso sobre o que é desinformação climática. A resolução de 9 de março de 2022 do Parlamento Europeu sobre a interferência estrangeira em todos os processos democráticos da União Europeia também abordou o tema. Foi reconhecida a necessidade de uma definição de desinformação climática para combatê-la. Segundo a instituição, é preciso adotar uma definição universal e delinear ações para tratar do assunto, assim como criar um código de conduta global sobre esse tipo de desinformação. 

Em novembro de 2021, uma carta aberta da Conscious Advertising Network (CAN) já havia pedido que os líderes da COP 26 e as plataformas de mídia social (Meta, Google, Twitter, TikTok, Pinterest e Reddit) adotassem uma definição clara e universal do que constitui a desinformação climática para identificá-la e combatê-la. 

 

STF julga pacote ambiental alimentado por articulação negacionista

O Brasil está nesse momento discutindo temas ambientais que se transformaram em trincheira polarizada e desinformativa.  O Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu dar um recado ao governo e colocou para julgamento, juntos, sete temas ambientais neste 30 de março. O primeiro é a retomada do Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia (PPCDAm).  Também está na pauta a reativação do Fundo Amazônia, doações bilionárias da Noruega e da Alemanha que foram atacadas pelo governo Bolsonaro. Sem esse dinheiro, as ações de fiscalização do Ibama foram reduzidas, gerando recorde de desmatamento em 2021

O processo de destruição da fauna e flora brasileiras durante o governo Bolsonaro não se dá apenas por meio do enfraquecimento de legislações e desmantelamento dos órgãos ambientais, mas também pela implementação de um discurso alternativo sobre a Amazônia, que vem sendo construído ao longo dos últimos anos por grupos de extrema direita.

Em um estudo publicado na última semana na revista Earth System Governance, uma dupla de pesquisadores do IASS (Instituto de Estudos Avançados em Sustentabilidade), na Alemanha, e da Unimes (Universidade Metropolitana de Santos) detalhou como grupos de apoiadores do atual governo vêm reproduzindo discursos que contestam e descreditam sistemas de monitoramento por satélite, com o utilizado pelo Inpe, que há décadas geram dados confiáveis sobre o avanço do desmatamento e outras mudanças no uso da terra, para impor uma “verdade alternativa” sobre o bioma, na qual o desmatamento seria um preço aceitável a se pagar pelo desenvolvimento econômico.

Outras pautas alimentadas pelo negacionismo do atual governo incluem a sua própria omissão  no combate ao desmatamento (ADO 54), o uso das Forças Armadas e a Operação Verde Brasil 2 para delitos ambientais (ADPF 735), a exclusão da sociedade civil do conselho deliberativo do Fundo Nacional do Meio Ambiente (FNMA) (ADPF 651), a retomada da resolução 491/2018 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) sobre a qualidade do ar (ADI 6148) e a contestação da Medida Provisória que prevê concessão automática de licença ambiental para empresas de grau de risco médio e impede a requisição de informações adicionais. 

 

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