O dia da diplomação acabou com cenas de vandalismo, durante a noite, em Brasília, protagonizadas por bolsonaristas radicais. Foram pelo menos três carros e cinco ônibus queimados, além da tentativa de invasão da sede da Polícia Federal. Um mapeamento realizado por Andressa Costa, doutoranda em Ciência Política no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade de Lisboa (ULisboa) e membro do Centro de Administração e Políticas Públicas (CAPP/ISCSP), mostra o passo a passo das principais narrativas que circularam no aplicativo de mensagens Telegram e que contribuíram para os atos extremistas.
A primeira narrativa que surgiu nos grupos e canais bolsonaristas, no dia 12, dizia respeito à convocação para o Palácio da Alvorada. Esse foi o tema central da manhã de segunda-feira, com mensagens orientando que os manifestantes pró-Bolsonaro não fossem a Esplanada, mas sim ao Palácio da Alvorada.
Já na tarde de segunda-feira, durante a diplomação do presidente eleito, as mensagens mais compartilhadas nos grupos e canais monitorados criticavam o evento. “Essas demonstravam revolta com o reconhecimento da eleição do presidente, especialmente associando a um ‘conluio’ com o ministro Alexandre de Moraes e o Judiciário em geral. Além disso, também incentivavam os manifestantes a se dirigirem a Brasília e mostravam multidões que estariam protestando no local”, destacou a pesquisadora no relatório.
A terceira narrativa encontrada foi uma reação à prisão do indígena José Acácio Serere Xavante, conhecido como Cacique Sesere (ou Tsereré) Xavante, decretada pelo ministro Alexandre de Moraes por participações em atos antidemocráticos. Tais mensagens circularam mais fortemente após as 20h, quando houve a prisão, e colocaram o ato como uma ação violenta e arbitrária por parte da Polícia Federal e a mando de Alexandre de Moraes.
Após a prisão, atos de vandalismo explodiram em Brasília e deram espaço para a narrativa que atribuiu as ações a infiltrados da esquerda, especialmente ao MST, ao grupo Black Bloc ABC ou a “falsos indígenas”, também identificando a figura de alguns infiltrados. “Essa narrativa começou a aparecer mais tarde à noite, após as ações”, destaca o levantamento de Andressa Costa.
Além de atribuírem os atos a infiltrados, há uma narrativa presente de manter a o que os manifestantes chamam de resistência nos quartéis generais e que sigam conclamando a ajuda das Forças Armadas.
A pesquisadora fez o levantamento de pelo menos 326 canais e 181 grupos com o uso do “Monitor”, uma ferramenta desenvolvida pelo Laboratório de Humanidades Digitais da UFBA (LABHD) e InterneLab. Além disso, foram observados in loco alguns grupos e canais de Direita e Extrema-Direita para se aprofundar mais na compreensão das discussões.