Pode ser difícil identificar o que é uma informação verdadeira e o que é desinformação nas redes sociais. Para auxiliar nesse processo, o *desinformante conversou com dois especialistas no tema e traz algumas dicas importantes que ajudam a identificar uma fake news e desconfiar de que uma informação pode, na verdade, buscar propositalmente confundir o leitor.
Cristina Tardáguila é fundadora da Agência Lupa, cujo objetivo é combater a desinformação com o fact-checking e promover educação midiática. Ivan Paganotti é professor da Universidade Metodista, possui trabalhos acadêmicos sobre o tema e também é um dos fundadores da plataforma Vaza Falsiane, focada na promoção de cursos gratuitos de capacitação sobre fake news e similares. Veja abaixo um resumo das principais orientações e fique por dentro de como estar mais protegido contra conteúdos maliciosos que circulam nas redes:
- Sempre busque a fonte
A primeira dica é sempre buscar saber quem produziu o conteúdo que chegou até você. “É importante saber qual é a fonte dessa informação, se essa fonte teve contato direto, presenciou, ou então se essas informações podem ser verificáveis, checáveis”, destaca Ivan Paganotti, lembrando que muita desinformação chega por repasses de áudios em plataformas de mensagens nos quais é impossível verificar a autenticidade do seu autor ou mesmo do relato produzido. “Temos que praticar o exercício saudável da dúvida, sem sermos uns chatos. Para tanto, é preciso tempo, mesmo que sejam segundos, para um prazo de reflexão”, afirma Cristina Tardáguila, e acrescenta: “nos dias de hoje é preciso desconfiar de todas informações – nem que seja um pouquinho. E independente de onde elas vêm.”
- O contexto da informação
Notícias verdadeiras podem ser usadas como ferramentas de disseminação de desinformação. Por isso, sempre é importante buscar conhecer o contexto da notícia e sua data de publicação, por exemplo, para saber se ela se refere corretamente a algo. Algo verdadeiro publicado no passado se torna falso quando usado como relato de outro evento que não o original. “Às vezes a informação pode ser verdadeira, uma fonte de informação jornalística confiável, mas essa informação pode ser antiga. Por exemplo, você pode receber uma notícia falando que a ‘inflação no Brasil é a mais baixa na história recente’, mas essa informação é de 15 anos atrás”, exemplifica Ivan Paganotti. Para além do tempo, descontextualizações de lugares (dizer que algo aconteceu em determinada localização, quando na verdade foi em outra) também é comum como estratégia de desinformação.
- Informações boas demais para serem verdadeiras
Muita desinformação é desenhada e produzida para reforçar estereótipos e percepções colocadas. Boa parte das informações falsas levam em consideração preconceitos, predisposições, preferências políticas, por exemplo. “Quando a gente recebe uma informação que se encaixa perfeitamente na nossa visão de mundo, essa informação acaba tendo uma facilidade maior para ela ser recebida e acolhida sem tanto criticismo”, alerta Paganotti. Cristina Tardáguila apresenta a mesma precaução ao dizer que “normalmente as notícias falsas tentam alcançar nossos desejos, nossas crenças e nossos gostos”, e continua: “a desinformação costuma deixar o indivíduo muito triste, raivoso, feliz, entusiasmado, surpreso. O ‘muito’ é a peça-chave”.
- Apelo emotivo e exagero
As fake news tentam se passar por verdadeiras, mas há alguns sinais que devem levantar desconfiança, como o abuso de adjetivos (que são pouco comuns na escrita jornalística padrão), o apelo ao emocional e o exagero. Ivan Paganotti lembra que elas “apelam muito para as nossas emoções, então têm um tom de sensacionalismo. As emoções ajudam a desligar, diminuir a nossa capacidade racional e de desconfiança. Informações emotivas têm uma propensão maior para serem replicadas, passadas para frente, compartilhadas”. Desconfie, também, quando há o apelo na mensagem para que ela seja “amplamente compartilhada”.
Se desconfiar, o que fazer?
Antes de tudo, não repassar para não colaborar com a disseminação da desinformação em potencial. “Muita gente passa para frente, com desconfiança, ‘não sei se é verdade, mas estou passando, prefiro passar’… isso é muito prejudicial”, destaca Ivan Paganotti. O próximo passo é procurar mais informações sobre o que recebeu, ou, como sugere Cristina Tardáguila, “agir como um jornalista: buscar o nome do autor e saber se ele/ela tem conhecimento suficiente sobre o assunto, buscar a data e ver se a informação é mesmo recente, buscar de onde a notícia veio. Perguntar à pessoa que repassou a informação sobre se ela fez esses mesmos questionamentos”.
Paganotti ressalta que é importante pedir mais informações para a pessoa que repassou alguma informação duvidosa, porém de forma amistosa. “Não é muito vantajoso você já chegar atacando a pessoa que passa uma informação falsa. Não adianta você já chegar agredindo a pessoa verbalmente, dizendo que ‘isso é falso’, ‘que ignorante’… esse tipo de comportamento agressivo não traz bons resultados, só traz animosidade. E para quem publicou a informação falsa isso não cria necessariamente um sentimento de vergonha, pelo contrário, isso pode fortalecer essas percepções porque muitas pessoas preferem reforçar as informações falsas do que admitir o erro”.
Procurar saber se a informação que recebeu também foi divulgada por meios mais confiáveis é importante, ainda que seja uma característica da desinformação se apresentar como “exclusiva” ou “secreta”, tratando de um assunto que os grandes meios de comunicação tentam esconder por determinado interesse.
Muitas plataformas digitais permitem que você denuncie conteúdos enganosos, o que faz um alerta para que ele seja verificado. O maior número de denúncias aumenta a chance de análise de algum conteúdo inadequado e sua consequente exclusão caso seja efetivamente comprovada sua inautenticidade.