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Extrema direita corre para redes com “liberdade” para desinformar e atacar

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Publicações incitando a violência e com desinformação são alvos constantes de remoção em plataformas como Twitter e Instagram, mas não na Gettr. A empresa faz parte das redes sociais alternativas que, em oposição às tradicionais, oferecem menor ou nenhuma moderação de conteúdo. Sua oferta de uma “liberdade de expressão” ilimitada vem conquistando cada vez mais usuários de extrema-direita no Brasil.

Desde o fim do segundo turno das eleições, no dia 30 de outubro, a Gettr registrou um aumento de 500% dos usuários no país, segundo informações da própria empresa. O crescimento é creditado como reação às decisões do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de deplataformização de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro no Twitter e Telegram. 

“Nós sempre temos nossos grandes momentos, seja no Brasil ou em outros lugares, quando as pessoas estão sendo suspensas ou expulsas das redes sociais”, disse Jason Miller, fundador da Gettr e ex-assessor de Donald Trump, à coluna Painel da Folha de São Paulo.

O aumento da base bolsonarista da Gettr já impacta nos conteúdos postados por lá. Um mapeamento feito por Andressa Costa, doutoranda em Ciência Política no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade de Lisboa (ULisboa) e membro do Centro de Administração e Políticas Públicas (CAPP/ISCSP), identificou que houve uma atividade na plataforma muito maior do que de costume entre os dias 30 de outubro e 7 de novembro.

No período, foram utilizadas hashtags em apoio a Bolsonaro e às mobilizações antidemocráticas. Narrativas de fraude eleitoral ganharam destaque centradas na auditoria argentina e na atuação do TSE, orientado pelo ministro Alexandre de Moraes.

As derrubadas de perfis bolsonaristas em outras redes sociais, segundo a pesquisadora, também serviu de mote para alegações de censura e de “criminalização” da objeção sobre o processo eleitoral.

As postagens questionando a integridade das eleições, inclusive, são facilmente encontradas por quem acessa a rede social. Na segunda-feira (14), a equipe do *desinformante entrou na Gettr, cujo processo de cadastro solicita apenas e-mail, nome de usuário e data de nascimento.

Sem seguir nenhum perfil, apenas marcando previamente interesse em temas como política e notícias, já foi possível ver conteúdos antidemocráticos e ofensivos circulando livremente e até sendo sugeridos pela própria plataforma.

Redes sociais alternativas realizam menor moderação de conteúdo prometendo liberdade de expressão

Como a Gettr, fazem parte do grupo de redes sociais alternativas as plataformas como Parler, Truth, Telegram e Mastodon. Todas elas têm em comum uma menor ou até mesmo nenhuma moderação de conteúdo. 

O afrouxamento de políticas internas dessas empresas sobre as discussões realizadas em seus respectivos espaços se faz com a promessa de cumprir o direito de liberdade de expressão e o livre debate dos usuários.

A Truth Social, rede social criada pelo ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump, por exemplo, afirma ser uma “plataforma que encoraja a conversação aberta, livre e honesta sem discriminação baseada em ideologia política”.

Como aponta Viktor Chagas, professor associado do Departamento de Estudos Culturais e Mídia da Universidade Federal Fluminense (UFF), essas redes defendem uma leitura tolerante à liberdade de expressão que fomenta discursos preconceituosos, violentos e extremos sob um ponto de vista democrático.

“O resultado prático é uma política de moderação frouxa e inconsistente que garante a determinados atores a condição de espalhar conteúdos e discursos ofensivos a indivíduos e grupos, em particular aqueles já compreendidos como grupos minorizados”, explica Chagas.

Sob a égide da liberdade de expressão, essas plataformas também são espaços para circulação livre de desinformação e teorias da conspiração. Em 2021, pesquisadores da Universidade do Kansas, nos Estados Unidos, descobriram que as principais discussões sobre vacinação contra Covid-19 realizadas na Parler levantavam informações erradas que poderiam desencorajar a imunização dos indivíduos.

O impacto no contexto midiático digital

Essas redes sociais têm papel ainda limitado no contexto informacional contemporâneo, mas mobilizam uma parcela fiel de consumidores de notícias. De acordo com a pesquisa divulgada pelo Pew Research Center, cerca de 6% dos cidadãos norte-americanos utilizam as plataformas alternativas para se informarem. 

Desse número, 66% se dizem apoiadores do Partido Republicano, conhecido pelas pautas conservadoras e, recentemente, pelas falsas alegações de fraude eleitoral nas eleições de meio mandato nos Estados Unidos. Além disso, 15% das principais contas criadas sofreram banimentos ou desmonetização em redes sociais tradicionais.

Ainda segundo Viktor Chagas, mesmo que o impacto dessas redes alternativas seja razoavelmente limitado a setores de extrema-direita, elas possuem papel importante na mobilização desses atores. Nas palavras do professor, “elas servem para oferecer diretrizes comportamentais, mobilizar e chamar à ação militantes, discutir estratégias de ação e perpetuar ataques”.

A coordenadora acadêmica do *desinformante, Nina Santos, também abordou o papel que essas redes sociais alternativas no quadro *desinformante comenta. Veja abaixo.

Mastodon atinge pico de usuários após compra do Twitter por Musk

Com as recentes mudanças e inconstâncias no Twitter sob a gestão do bilionário Elon Musk, muitos usuários decidiram encerrar seus perfis na rede social de micromensagens ou explorar outras possibilidades. A Mastodon foi a principal beneficiária desse cenário, ganhando mais de 1 milhão de novas contas desde o final de outubro.

Parecida com o Twitter, a rede social cujo símbolo é um elefante também se baseia na publicação de pequenas postagens. Lançada em 2016, a Mastodon é bastante celebrada por ser um sistema sem fins lucrativos com uma estrutura de código aberto e descentralizada, em que qualquer pessoa pode subir e gerir um servidor próprio.

No sistema, a moderação de conteúdo é feita pela própria comunidade. Cada servidor, por exemplo, pode ditar as diretrizes de publicação que acharem mais coerentes. Já a identificação e classificação de conteúdo impróprio fica a cargo de cada usuário. A autonomia na moderação de conteúdos, no passado, já resultou em problemas com grupos nazistas.

Parler sob nova direção

Depois de ter perfis no Instagram e Twitter bloqueados após não respeitar as diretrizes políticas com comentários antissemitas e fake news, o rapper Ye, também conhecido como Kanye West, anunciou na segunda quinzena de outubro a compra da rede social Parler, conhecida por ser fórum de livre debate e de articulação dos apoiadores de Trump.

Com o anúncio do novo dono, a empresa se pronunciou afirmando que o acordo proporcionará à plataforma criar um “ecossistema não-cancelável” na Internet.

Criada em Nashville, nos Estados Unidos, em 2018, a Parler também é uma espaço semelhante ao Twitter e desenvolvida, segundo a própria empresa, em resposta às “mudanças na política de Big Tech influenciadas por vários grupos de interesses”. 

A rede social, inclusive, foi utilizada como um dos principais meios de articulação e de preparação para os ataques do Capitólio, em janeiro de 2021, que buscavam impedir o reconhecimento dos resultados das eleições presidenciais do ano anterior.

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