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Nos EUA, plataformas ainda correm atrás de proteção das eleições

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Enquanto o Brasil está às voltas do segundo turno, os Estados Unidos se preparam para realizar no dia 8 de novembro as eleições de meio mandato com o objetivo de eleger representantes do poder legislativo. Como por aqui, as plataformas de redes sociais lançaram seus compromissos e ações para a proteção da integridade eleitoral norte-americana contra desinformação e violência política. Lá, o episódio de invasão do Capitólio, em janeiro de 2021, reverbera na memória dos norte-americanos e as redes sociais se viram pressionadas a oferecer mecanismos de proteção contra desinformação, fraude eleitoral e teorias conspiratórias.

Dentre as ações anunciadas pelas gigantes como Meta, Twitter, TikTok e Google, estão parcerias com agências de checagem e moderação de conteúdos. Centros e institutos de pesquisa internacionais, porém, afirmam que ainda existem pontos a serem aperfeiçoados e que a desinformação e narrativas de fraudes correm soltas nas redes sociais em território norte-americano.

A Meta, por exemplo, publicou uma lista com compromissos e ações para “combater a interferência estrangeira e campanhas domésticas de influência” para o pleito norte-americano.

Alguns dos planos da empresa de Zuckerberg para as eleições nos EUA consistem em criar centrais de informações oficiais sobre como e onde votar, como também  identificar e remover conteúdos nas plataformas do grupo que espalhem informações incorretas sobre as eleições ou promovam discurso de ódio e violência, principalmente aos profissionais que trabalharão no dia da votação.

Em um momento no qual o país enfrenta ondas de desinformação focadas no eleitorado latino e imigrante, a empresa anunciou também a parceria com 10 agências de checagem de fatos para o monitoramento de desinformação em inglês e espanhol. Produção ou checagem de conteúdos bilíngues também foi prometido pelas demais redes sociais analisadas.

Google, TikTok e Meta estabelecem regras para anúncios pagos 

Das redes sociais analisadas, apenas Google, TikTok e Meta possuem ações relacionadas à publicidade paga com teor político para as eleições norte-americanas.

Com o objetivo de “garantir que os eleitores tenham confiança no conteúdo dos anúncios”, o Google estabeleceu regras que exigem ao anunciante completar o processo de verificação e seguir as políticas de anúncio da empresa. 

Também foram adicionadas aos relatórios de transparência de anúncios políticos novas funcionalidades que permitem acessar e filtrar informações sobre segmentação, localização e formatos de anúncios eleitorais.

Os planos da empresa também fazem menção à expansão das ferramentas de transparência publicitária para a América do Sul, como Brasil e Argentina. Porém, conforme comenta Humberto Ribeiro, diretor jurídico e de pesquisas do Sleeping Giants Brasil, os relatórios chegaram por aqui em 2022 –  com quatro anos de atraso em relação a outros países – somente depois de uma campanha por igualdade de tratamento direcionada à empresa.

“Depois de alguma pressão a gente teve sucesso, mas essa ferramenta foi incorporada aqui diferente daquela disponível nos países do norte global”, explica Ribeiro. Com foco apenas em candidatos em nível federal, o relatório deixou de abranger os gastos publicitários dos candidatos às assembleias legislativas e aos governos estaduais, questão atualizada após, novamente, campanha nas redes sociais encabeçada pelo Sleeping Giants junto com o coletivo Intervozes.

Já o TikTok proíbe qualquer forma de anúncios de conteúdos do tipo desde 2019. A gigante chinesa reforçou as medidas para as eleições de 2022, incluindo também o Brasil. Como já noticiado pelo *desinformante, em setembro, a empresa apertou o cerco para qualquer tipo de movimentação financeira, seja para monetização ou investimento em publicidade, em perfis e contas de políticos, partidos e governos.

Já a Meta proibirá novos anúncios políticos, eleitorais e com questões sociais durante a última semana da campanha, como fizeram em 2020. Os anúncios que forem veiculados anteriormente a esse período poderão continuar circulando, mas sem possibilidade de edição. Conforme explica a empresa, o período de restrição será suspenso no dia 9 de novembro, sem intenção de estendê-lo.

Ambas as plataformas também anunciaram colaborações com órgãos públicos eleitorais e de segurança norte-americanos, como a National Association of Secretaries of State (NASS) e a Cybersecurity and Infrastructure Security Agency, para providenciar informações seguras sobre as eleições dentro das plataformas ou orientar ações específicas.

Twitter e Youtube focam em moderação de conteúdo

Em meio a um aumento de consumo de notícias por meio de redes sociais pelo público norte-americano, o Twitter diz se preocupar com a construção de conversas cívicas saudáveis e a garantia que as pessoas tenham o contexto que precisam para tomar decisões informadas sobre conteúdos que encontram.

Para isso, pretende identificar tweets que violam a política de Integridade Cívica da empresa, como conteúdos que buscam intimidar ou dissuadir os usuários de votar, e rotulá-los com links que levam o usuário a informações confiáveis ou a contextos adicionais. 

Em setembro, a empresa também anunciou a expansão do projeto Bird Watch, projeto colaborativo contra fake news. A iniciativa ainda está limitada aos EUA e não tem previsão de chegada ao Brasil. 

O Youtube também direciona seus esforços em ações de moderação de conteúdo. Recomendações de informações oficiais e de fontes confiáveis, como jornais e redes de televisão, fazem parte do plano de ação para o pleito norte-americano.

No dia das eleições, por exemplo, a plataforma de vídeos pretende destacar na página inicial dos usuários a cobertura jornalística de fontes já conhecidas pelo público. Ademais, segundo a empresa, equipes acompanharão de perto o período eleitoral para remover rapidamente os conteúdos que violam as políticas internas. “Estaremos atentos antes, durante e após o dia das eleições”, prometem.

Pesquisadores apontam falhas nos planos das plataformas

O mestre em Direito por Harvard e pesquisador sênior no Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro (ITS Rio), João Victor Archegas, explica que o comprometimento escrito divulgado pelas empresas é resultado da pressão exercida pelo poder público, organizações da sociedade civil e representantes da academia.

“São esses atores que no primeiro momento vão apontar esses problemas para as plataformas e vão atuar lado a lado para construir soluções”, comenta Archegas.

Mesmo com a divulgação pública dos compromissos, centros de pesquisa e organizações civis buscaram nos últimos meses identificar se os planos das redes sociais seriam suficientes para minimizar os efeitos da desinformação à integridade eleitoral norte-americana.

Com o objetivo de monitorar os compromissos realizados, a Liga Anti-difamação norte-americana (Anti-defamation League, ADL, em inglês) publicou em setembro relatório com a análise dos planos de oito plataformas para as eleições de meio mandato

Segundo parecer da organização, nenhuma delas possui política distinta para desinformação nem permite acesso total a terceiros independentes para auditar suas alegações de maior segurança e melhor detecção de desinformação.

A ADL ainda pede que as empresas mantenham ações constantes e não apenas em situações pontuais, como fizeram após a insurreição de 6 janeiro ao Capitólio. “[Eles] devem ser proativos para evitar tratar informações falsas e enganosas como questões de curto prazo. Caso contrário, a formulação de políticas após o fato permite que esse conteúdo prospere”, afirma a organização em documento.

Já o Centro de Negócios e Direitos Humanos da Universidade de Nova York,  no relatório “Spreading the big lie: how social media sites have amplified false claims of U.S. election fraud” (Espalhando a grande mentira: como os sites de mídia social amplificaram falsas alegações de fraude eleitoral nos EUA, em tradução livre), evidenciou a insistente circulação de narrativas negacionistas sobre as eleições norte-americanas, apesar dos esforços anunciados pelas empresas.

Como pontua o centro de pesquisa, “as empresas de mídia social prometeram proteger as próximas eleições de meio de mandato contra boatos e desinformação, mas suas políticas falhas e aplicação inconsistente resultam na ampliação contínua do negacionismo eleitoral”.

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