O laboratório de pesquisa NetLab UFRJ, da Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro, analisou o Índice de Transparência de Dados (ITD) e o Índice de Transparência da Publicidade (ITP) das plataformas digitais e concluiu que nenhuma delas tem o nível ideal de transparência nos dois quesitos.
Para analisar a transparência dos dados, o NetLab UFRJ considerou critérios como acesso à interface de coleta de dados, acesso gratuito, acessibilidade, conformidade, completude, consistência, relevância e atualidade. A partir desses pontos, apenas o YouTube tem um nível satisfatório de transparência com 63 pontos, mas ainda longe do ideal (a partir de 81 pontos).
De acordo com o NetLab, a plataforma de vídeos tem como pontos positivos o “acesso integral ao universo de dados públicos por meio de API gratuita”. Além disso, coloca o laboratório de pesquisa, o YouTube também permite a recuperação ágil de dados recém-publicados e de dados históricos. No entanto, a rede peca ao retornar os dados solicitados com inconsistências e incoerências.
Já as plataformas da Meta, Facebook e Instagram, são caracterizadas com um grau ‘regular’ de transparência. No entanto, esse número deve ser menor atualmente e, pela faixa proposta pelo NetLab UFRJ, as plataformas seriam consideradas com uma transparência precária. Isso porque a análise do laboratório considerou a presença do CrowdTangle, ferramenta de transparência que foi descontinuada em agosto pela Meta, e quase metade da nota (25 pontos) dependia disso.
Mesmo quando era ativa, a ferramenta não apresentava níveis satisfatórios para o acesso aos dados. “O CrowdTangle apresentava diversas limitações que prejudicavam a completude dos dados: não permitia acesso a comentários vinculados às postagens originais ou acesso a conteúdos temporários, como fotos e vídeos publicados em stories”, pontua o NetLab.
Já X e o Telegram possuem uma transparência considerada precária pela pesquisa. A rede do bilionário Elon Musk garante o acesso a dados de forma paga, com preços considerados proibitivos, e não divulga relatórios de transparência sobre o contexto brasileiro desde 2021. No entanto, pontua o NetLab, “é a única que sinaliza adequadamente conteúdos removidos e, embora o acesso seja pago, a API oferece dados consistentes e completos”.
O Telegram, por sua vez, oferece uma API gratuita, mas isso não garante o acesso ao universo de dados porque seu uso requer o conhecimento prévio dos grupos que serão analisados. “Entre os pontos positivos, os resultados entregues pela API são completos e consistentes com filtros aplicados e a plataforma não impede a raspagem de dados”, acrescenta o NetLab.
Abaixo dos 20 pontos, o Kwai, o TikTok e o WhatsApp foram classificados com uma transparência irrelevante ou nula. O TikTok alcançou uma pontuação de 7 pontos, mas o laboratório de pesquisa destaca que a plataforma disponibiliza uma API para pesquisadores da Europa e dos Estados Unidos, mas não para países do Sul Global. Como destaque positivo, a rede divulga relatórios de transparência com detalhes sobre ações de moderação no Brasil. Já o Kwai atingiu apenas 4 pontos por não apresentar a maioria dos critérios analisados, como interface de coleta e publicação de relatórios.
O WhatsApp é o último da lista com apenas 1,5 pontos. A rede, que tem um funcionamento próprio e se caracteriza como aplicativo de mensageria com criptografia, foi considerada pelo NetLab como precária por falhar em três eixos prioritários de transparência: “não oferece API oficial gratuita para a coleta de dados, não disponibiliza interface para a coleta, nem publica relatórios periódicos de transparência sobre ações de moderação no Brasil”.
Transparência de publicidade
O NetLab UFRJ também avaliou os mecanismos de acesso a dados de impulsionamentos e conteúdos monetizados nas principais plataformas no Brasil, o Índice de Transparência da Publicidade nas plataformas digitais (ITP). Também nesta avaliação nenhuma das plataformas alcançou um nível ideal de transparência.
A Meta, que possui a maior pontuação, ainda se encontra em um grau considerado ‘regular’, especialmente por oferecer apenas API e interface gratuitas no caso de conteúdos políticos, eleitorais ou de relevância social. Já o Google, outra gigante no mercado publicitário, tem uma transparência irrelevante. De acordo com o NetLab UFRJ, ela “é prejudicada em grande parte porque a API do seu repositório só recupera dados de anúncios políticos e eleitorais veiculados até o fim de abril de 2024, já que estes estão teoricamente proibidos em suas plataformas desde 01 de maio”.
A pesquisa do NetLab foi realizada no âmbito do Observatório da indústria da desinformação e seu impacto nas relações de consumo no Brasil, projeto firmado em parceria entre o NetLab UFRJ e a Secretaria Nacional do Consumidor do Ministério da Justiça e Secretaria Pública (Senacon/MJSP).