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jul 11, 2024 | Destaques, Notícias

Novo negacionismo prega que mudança climática é “plano maligno” de governos

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À medida que eventos climáticos extremos se tornam mais frequentes pelo mundo, a desinformação climática também segue crescendo. Um relatório publicado este mês por uma rede de checadores de fatos europeus mostrou uma nova estratégia das teorias da conspiração: narrativas falsas estão atribuindo a responsabilidade dos eventos extremos a governos e ao uso de “tecnologias secretas” na Itália, Espanha e Grécia.

O relatório, produzido pela Rede Europeia de Checadores de Fatos, analisou postagens com desinformação climática nas redes sociais dos três países e concluiu que a principal mensagem difundida pelas narrativas negacionistas encontradas afirmava que secas e inundações, que assolaram nos últimos anos as regiões, não foram acontecimentos naturais, mas sim parte de um “plano maligno” dos governos para causar danos à população.

Na Itália, país que sofre com cheias anualmente, a rede de checadores identificou narrativas falsas alegando que tanto o episódio como os danos provocados por ele foram causados por abertura de barragens, numa clara tentativa de relacionar a situação a uma ação deliberada do governo italiano.

Outro argumento compartilhado nas redes buscava afirmar que as fortes chuvas no país teriam sido causadas pela manipulação artificial de nuvens, técnica chamada de “semeadura de nuvens” (cloud seeding, em inglês). “A sementeira de nuvens tornou-se agora protagonista de uma vertente distinta de negação climática: as mesmas pessoas que negam que certas atividades humanas possam alterar o clima a longo prazo culpam outras atividades humanas por eventos climáticos individuais”, pontuou o documento.

Enquanto a Itália sofre com o excesso de chuvas, a Espanha passa nos últimos anos por ciclos frequentes de seca. Por lá, as teorias da conspiração também afirmam que os baixos índices de precipitação foram causados artificialmente e de forma deliberada pelo governo local. Na Grécia, as narrativas culpam a instalação de infraestruturas verdes, como turbinas eólicas, pelos incêndios florestais que ocorrem na região. 

“Apesar destas teorias negacionistas terem feito acusações graves sem provas, elas também têm sido amplamente partilhadas por figuras públicas e outros atores políticos relevantes que desempenham papeis importantes na formação da opinião pública, mas também na tomada de decisões políticas e ações sobre ela”, destacou o relatório, sem especificar, porém, quais redes sociais foram mapeadas e o tempo específico de coleta de dados.

Um outro estudo, desta vez produzido pelo Centro para Combate ao Ódio Digital e publicado em fevereiro, também destacou como o negacionismo climático vem mudando de cara nos últimos anos após o crescimento de episódios climáticos extremos. De acordo com a organização, a nova onda de desinformação sobre o tema no YouTube vem apoiada em três argumentos principais: o de que os impactos do aquecimento global são benéficos ou inofensivos, que as soluções climáticas não funcionam e que as pesquisas científicas climáticas não são confiáveis. 

QAnon exporta métodos negacionistas para a Europa

O QAnon, grupo conhecido por ser um movimento marginal de teorias da conspiração nos Estados Unidos, está levando seu modus operandi para a Europa, afirmou um relatório da organização Lighthouse Reports. O estudo analisou mais de 100 milhões de postagens com teorias da conspiração nos grupos do Telegram e identificou a forma como o grupo opera para criar narrativas negacionistas, principalmente relacionadas às mudanças climáticas, no continente.

De acordo com a organização, o grupo busca levantar narrativas conspiratórias nos grupos de mensageria e, por meio de técnicas de marketing digital, consegue fazer com que os boatos ganhem cada vez mais força e maior disseminação no debate público, até ser reforçado por uma figura pública, como um jornalista ou político.

“Um representante eleito ou um jornalista apresenta o absurdo como realidade, legitimando uma teoria que foi espalhada em primeiro lugar pela mídia de notícias alternativas e pelo Telegram”, concluiu o relatório.

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