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fev 12, 2024 | destaques, notícias

Atacar soluções e questionar a ciência: a nova cara do negacionismo climático no YouTube

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O negacionismo climático vem mudando de discurso nos últimos anos, deixando de questionar a crise climática causada pelos humanos e passando a focar em ataques às soluções que buscam mitigar as mudanças do clima, como as energias renováveis. Essa foi uma das principais conclusões trazidas em um relatório divulgado em janeiro pelo Centro para Combate ao Ódio Digital (CCDH, na sigla em inglês), que mapeou vídeos negacionistas publicados no YouTube ao longo do ano passado.

O relatório mostrou que, em 2023, o chamado “novo negacionismo” representou 70% de todos os discursos que questionaram as mudanças climáticas na plataforma de vídeos, um crescimento de 35% em relação a 2018. Enquanto o “velho negacionismo” – que afirma que o aquecimento global não está acontecendo e que os gases de efeito estufa emitidos pelas atividades humanas não contribuem para o processo – caiu de 65% em 2018 para 30% das alegações no ano passado.

De acordo com o estudo, a nova onda de desinformação sobre o tema vem apoiada em três argumentos principais: o de que os impactos do aquecimento global são benéficos ou inofensivos, que as soluções climáticas não funcionam e que as pesquisas científicas climáticas não são confiáveis. 

Entre 2018 e 2023, por exemplo, alegações de que as energias renováveis não ajudam a combater o aquecimento global aumentaram 10,8%, enquanto discursos afirmando que políticas climáticas são prejudiciais para a população cresceram 8,1%. Isso acontece, segundo o estudo, porque está cada vez mais difícil negar a existência da crise climática em razão das catástrofes climáticas que diversos países estão enfrentando

Para Imran Ahmed, diretor-executivo do CCDH, a mudança de discurso negacionista precisa ser levada em consideração por todos que lutam para combater a justiça climática. “A mudança narrativa da ‘Velha Negação’ para a ‘Nova Negação’ procura minar as soluções para mitigar a crise climática e atrasar a ação política. A incapacidade de mudar nossas estratégias [de ação] pode ser extremamente prejudicial”, afirmou Ahmed.

O estudo do CCDH vai ao encontro também do relatório publicado em dezembro passado pela Ação Climática contra Desinformação (CAAD), que alertou para conteúdos nas redes que se esforçam em atrasar o combate à crise climática e desorientar legisladores na criação de regulações e esforços governamentais. “Sejam movidos pelo oportunismo ou pela ideologia, pelos lucros ou pelo ego, os atores em todos os níveis estão explorando com sucesso as redes sociais e outras plataformas digitais para atingir os seus objetivos”, destacou o documento.

A diretora de comunicação das Nações Unidas, Melissa Fleming, também lembrou que estamos correndo contra o tempo para mitigar os impactos negativos do aquecimento global e que a desinformação climática atrasa o desenvolvimento desses esforços. “O tempo está se esgotando. Precisamos de todos a bordo se quisermos sobreviver. É por isso que a desinformação climática é tão perigosa”, alertou Fleming.

Por outro lado, ações para conter a desinformação climática também estão sendo feitas com ajuda das tecnologias digitais. Em janeiro, um coletivo internacional de pesquisadores lançou o ClimateGPT, um chatbot nos moldes do ChatGPT, que reúne pesquisas e conhecimentos científicos, auxiliando na procura de informações seguras e confiáveis sobre questões ambientais. De acordo com os desenvolvedores, com o ClimateGPT será possível descobrir as principais descobertas científicas sobre as mudanças climáticas, identificar tecnologias inovadoras e avaliar estratégias para mitigação dos impactos ambientais.

YouTube continua lucrando com desinformação climática

O estudo do CCDH também mostrou que anúncios com discursos do novo e do velho negacionismo continuam sendo impulsionados dentro do YouTube – apesar de já existirem políticas que proíbam a monetização de vídeos com desinformação climática -, o que rendeu uma receita publicitária estimada em 13,4 milhões de dólares para a plataforma de vídeo. De acordo com outra pesquisa do CAAD, o YouTube só perde para o X (ou antigo Twitter) no combate à desinformação climática.

Além disso, o relatório alerta que a política da empresa existente foca apenas nas alegações do velho negacionismo, proibindo alegações de que o aquecimento global não está acontecendo, de que as mudanças climáticas são uma farsa e de que a emissão de gases poluentes e a atividade humana não contribuem para a crise ambiental atual. Os novos pontos do movimento negacionista estão fora dessas regras.

A partir disso, o CCDH traz recomendações para o YouTube e demais plataformas digitais, como a atualização da política de conteúdo negacionista para abarcar as novas alegações falsas que focam nas soluções. “Sem atualizar e aplicar esta política, os fornecedores da Nova Negação e as plataformas que os acolhem continuarão a facilitar e a lucrar com a negação climática fora dos parâmetros estreitos da política atual do Google”, destacou o documento. 

Outro ponto é a urgência em desmonetizar e diminuir o alcance das postagens com desinformação climática dentro das plataformas. Ainda nas palavras da organização, isso pode eliminar os incentivos econômicos que sustentam a criação de conteúdos do tipo.

Metodologia

O estudo partiu do entendimento de negacionismo climático como “tentativas de minar o consenso científico sobre as mudanças climáticas baseadas em argumentos retóricos” e transcreveu mais de 12 mil vídeos de 96 canais de negacionismo climático no YouTube. Juntos, os vídeos somaram 325 milhões de visualizações. O mapeamento e análise dos vídeos foi realizado com a ajuda de um modelo de Inteligência Artificial treinado para identificar discursos de negacionismo climático. De acordo com a organização, a tecnologia tem 78% de precisão na categorização dos discursos.

O estudo do CCDH, intitulado “O novo negacionismo climático: como as plataformas de redes sociais e produtores de conteúdo estão lucrando ao espalhar novas formas de negacionismo climático”, pode ser lido em inglês aqui.

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