A Meta divulgou nesta sexta-feira (1) que, a partir de abril, vai descontinuar nos Estados Unidos e na Austrália – os últimos dois países que tinham o recurso – o Facebook News, uma aba dedicada a notícias e, a partir de agora, não vai mais realizar acordos com veículos de comunicação para garantir “o investimento contínuo em produtos e serviços que gerem engajamento por parte dos usuários”.
A empresa disse que não realizará novos acordos comerciais para conteúdos de notícias na Austrália, França, Alemanha, Estados Unidos e no Reino Unido e não oferecerá “novos produtos do Facebook exclusivamente para veículos de notícias no futuro”, o que coloca diretamente em xeque o cumprimento do News Bargaining Code na Austrália.
A legislação prevê a negociação entre empresas jornalísticas e big techs para a remuneração do conteúdo jornalístico. Depois de uma enorme resistência e de bloquear as notícias no país em 2021, a Meta realizou acordos que estão prestes a expirar nos próximos meses. Após expirarem, a big tech garantiu que não vai mais alocar recursos para os veículos.
Representantes do governo australiano já se pronunciaram sobre o caso. A ministra australiana das comunicações, Michelle Rowland, e o tesoureiro assistente e ministro dos serviços financeiros, Stephen Jones, classificaram a decisão como um “abandono do seu compromisso com a sustentabilidade dos meios de comunicação australianos”.
“A decisão elimina uma fonte significativa de receita para as empresas de mídia noticiosa australianas. Os editores de notícias australianos merecem uma compensação justa pelo conteúdo que fornecem”, avaliaram os ministros que garantiram que vão trabalhar com todas as opções disponíveis previstas na legislação para reverter a situação. “O Governo continuará a colaborar com editores e plataformas de notícias através deste processo”, concluíram.
Além disso, o comunicado desta sexta-feira também encerra a aba de notícias nos últimos dois países em que ela funcionava. A empresa já tinha indisponibilizado o recurso no Reino Unido, França e Alemanha no ano passado.
O recurso, que tinha sido lançado em 2019, consistia em um espaço destinado às notícias que continham as principais novidades do mundo, tópicos específicos como saúde, negócio e entretenimento, além de uma seção destinada a notícias locais para os usuários.
A plataforma esclarece que “as pessoas nesses países ainda poderão ver notícias no feed do Facebook e os veículos de imprensa continuarão a ter acesso a suas contas e páginas do Facebook, onde poderão publicar links para notícias e conteúdo”. Ou seja, as notícias seguem no feed e os usuários que seguirem os veículos poderão acessá-las, mas não terão mais acesso à gama e diversidade de informações que continham na aba de notícias.
A justificativa oficial da Meta para essa decisão é “simples”: as pessoas não querem ver notícias. De acordo com a empresa, o número de pessoas usando o Facebook News na Austrália e nos Estados Unidos caiu mais de 80% no ano passado. “Sabemos que as pessoas não acessam o Facebook em busca de notícias e conteúdos políticos — mas sim para se conectar com outras pessoas e descobrir novas oportunidades, paixões e interesses. Como já compartilhamos anteriormente em 2023, as notícias representam menos de 3% do que as pessoas ao redor do mundo consomem no feed do Facebook e isso representa uma parcela pequena da experiência do uso Facebook para a grande maioria das pessoas”, complementa a big tech.
O site The Verge lembra que, quando lançou a aba, o Facebook disse esperar que “este trabalho ajude em nosso esforço para sustentar um excelente jornalismo e fortalecer a democracia”.
De acordo o NiemanLab, o Google também está testando retirar a aba de notícias do seu campo de busca. Apesar de garantir que não tem planos de removê-lo, usuários notaram que a aba desapareceu durante testes que a empresa fez para atualizar o seu sistema de buscas.
No pano de fundo de todas essas mudanças está a tramitação – e aprovação – de diversos projetos de lei que buscam obrigar as plataformas digitais a remunerarem o conteúdo jornalístico. O mais recente aprovado foi o Online News Act no Canadá, que gerou o bloqueio de notícias da Meta e a ameaça do mesmo pelo Google.
No Brasil, tramita o projeto de lei 2370/2019, que abarcou a remuneração do conteúdo jornalístico antes previsto no PL 2630/2020. O tópico gerou intensa campanha negativa das plataformas digitais, o que foi recentemente caracterizado como abuso de poder do Google e Telegram pela Polícia Federal.