A presença de deepfakes nas eleições globais de 2024 parece estar preocupando, além da sociedade civil e governantes, as próprias big techs. Seis empresas líderes em Inteligência Artificial estão planejando apresentar hoje (16), durante a Conferência de Segurança de Munique, um compromisso coletivo para tentar controlar conteúdo político criado com IAs generativas, noticiou esta semana o jornal The Washington Post.
O compromisso – encabeçado pelo Google, Microsoft e Meta – prevê a criação de tecnologias para identificar e rotular imagens sintéticas que buscam enganar eleitores, além de promover ações educativas sobre os riscos trazidos pelas IAs. Também integram o acordo a OpenAI, Adobe e TiktTok. Na versão do documento obtida pelo veículo norte-americano, o X (antigo Twitter), desenvolvedor do chatbot Grok, não aparece como signatário.
O texto reconhece que os conteúdos gerados pelas IAs generativas apresentam riscos para a realização de eleições justas, ainda mais no momento em que o mundo passa por um ano eleitoral intenso.
“A geração e distribuição intencional e oculta de conteúdo eleitoral enganoso de IA pode ludibriar o público de maneira a comprometer a integridade do processo eleitoral”, pontua o documento.
A apresentação do acordo nesta sexta-feira foi confirmada ao jornal norte-americano pelo porta-voz da Microsoft, David Cuddy. Nas palavras de Cuddy, esse é um “ano crítico para eleições globais” e que as empresas de tecnologia estão trabalhando juntas para “combater o uso enganoso de IA direcionado aos eleitores”.
A colaboração entre empresas desenvolvedoras de IA foi citada pela Meta no início deste mês, quando a big tech anunciou a rotulagem de imagens geradas por IA publicadas no Facebook, Instagram e Threads. “Estamos trabalhando ao lado de parceiros da indústria para padronizar questões técnicas comuns na identificação de conteúdos de inteligência artificial, incluindo vídeos e áudios”, diz o comunicado no site oficial.
Também no início de fevereiro, outro compromisso foi fechado entre oito empresas de tecnologia – incluindo a Microsoft – e a Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) para a construção e o desenvolvimento ético e responsável de sistemas de IA. O acordo estabelece que as corporações criem seus modelos inteligentes seguindo valores e princípios recomendados pela organização, garantindo, por exemplo, a construção de padrões de segurança para identificar e mitigar os efeitos adversos causados pelos seus produtos.
Vale lembrar que, em janeiro passado, a OpenAI começou a proibir o uso do ChatGPT e de sua API em aplicações para campanhas políticas e lobby. Dias após anunciar a nova regra, a empresa baniu o chatbot que imitava Dean Phillips, candidato democrata à presidência dos Estados Unidos.
UE abre consulta pública para proteger as eleições do bloco
A União Europeia abriu consulta pública, no último dia 8, para construção de normas de proteção da integridade eleitoral nos países do bloco pelas plataformas digitais. A proposta apresenta exemplos de medidas de mitigação de riscos que deverão ser aplicadas, considerando, por exemplo, os conteúdos produzidos por IA generativa.
A consulta pública, que se encerra no dia 7 de março, faz parte dos esforços previstos no artigo 35 da Lei de Serviços Digitais (o DSA, na sigla em inglês), que permite a criação de orientações para o combate a riscos específicos por parte das empresas de tecnologia. A proposta regulatória existente no Brasil, o PL 2630, também prevê orientações adicionais em situações sensíveis para a sociedade.
“2024 é um ano significativo para as eleições, por isso, vamos nos valer de todas as medidas previstas no DSA para garantir que as plataformas cumpram as suas obrigações e não sejam utilizadas para manipular as nossas eleições, salvaguardando, ao mesmo tempo, a liberdade de expressão”, afirmou Thierry Breton, comissário da UE.
Outra iniciativa com vistas à proteção das eleições na UE parte do Google, segundo a Agência Reuters. A plataforma estaria preparando uma campanha contra a desinformação em cinco países europeus antes das eleições parlamentares, marcadas para junho deste ano.
Bélgica, França, Alemanha, Itália e Polônia, conforme a notícia, receberão ações de imunização informacional, o chamado prebunking, desenvolvidas em parceria com pesquisadores das Universidades de Cambridge e Bristol. Nesta estratégia, antes de o usuário da plataforma entrar em contato com as fake news, ele recebe informações confiáveis sobre determinado tópico sensível, de modo a estar preparado para confrontar a desinformação.