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Conteúdo antidemocrático cresce com proximidade da diplomação de Lula

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O discurso antidemocrático parece não enfraquecer. Os conteúdos golpistas começaram a ganhar novos espaços, numa última tentativa de marcar território diante da proximidade da diplomação de Lula, da ausência de provas de fraude eleitoral e do silêncio de Bolsonaro.  

O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva e seu vice, Geraldo Alckmin, serão diplomados na próxima segunda-feira (12). O evento, em que a Justiça Eleitoral atesta que o candidato foi efetivamente eleito pelo povo e está apto a tomar posse, poderia acontecer até o dia 19 de dezembro. De acordo com colunistas, o adiantamento foi uma demanda de  Lula para arrefecer movimentos golpistas que ocorrem em diversas cidades. 

Num ato extremo, na quarta-feira (7), um grupo de manifestantes fez a leitura de uma carta conclamando a anulação das eleições democráticas realizadas em outubro e reivindicando novas eleições – que para eles deveriam ser realizadas em cédulas de papel. A leitura foi feita em um auditório dentro do Congresso Nacional. O material lido ainda dava um ultimato para as instituições e marcava uma data para a ‘tomada de Brasília’, além de convocar as Forças Armadas, em claro aceno contra a ordem democrática.

Desde o dia do segundo turno, 30 de outubro, manifestantes inconformados com o resultado das eleições e munidos por informações falsas, como “auditorias que comprovavam irregularidades”, realizaram bloqueios em estradas de diversos estados. As alegações de fraude no sistema eleitoral, no entanto, não se sustentam. No início de novembro circulou um conteúdo de suposta fraude, que foi refutada pelas inconsistências apresentadas nele. A falta de evidências também se deu na tentativa do Partido Liberal de contestar as urnas no segundo turno. Além do Tribunal Superior Eleitoral, o Ministério da Defesa e missões internacionais também já refutaram a possibilidade de irregularidades nas eleições.

Desinformação antidemocrática circula mais no Telegram e no Youtube 

As ações antidemocráticas são orquestradas e alimentadas, principalmente, via aplicativos de mensagens, como o Telegram. Um levantamento realizado pela pesquisadora Andressa Costa, do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas (ULisboa) e Centro de Administração e Políticas Públicas (CAPP/ISCSP), mostra que uma das narrativas que mais circularam na rede, na primeira semana de dezembro, apela para que as pessoas permaneçam em frente aos quartéis, “pois somente os militares poderão alegadamente salvar o país”. 

Fora dos serviços de mensageria, o movimento com pautas golpistas vem engajando principalmente via YouTube, de acordo com um monitoramento feito pelos pesquisadores do Grupo de Pesquisa em Comunicação, Internet e Política da PUC-Rio, Carol Pecorato e Yago Cury. Entre os dias 5 e 7 de novembro, o conteúdo que alcançou o maior número de visualizações foi um vídeo repercutindo as manifestações bolsonaristas e de extrema-direita em Brasília com imagens de protesto contra o presidente eleito e de manifestantes perfilados em formato de cruz e repetindo uma marcha de tom golpista (“o povo está dando autorização, Forças Armadas salvem a nação”).

A incitação ao golpe também se dá por veículos que se nomeiam como jornalísticos, como a Jovem Pan – recentemente desmonetizada pelo YouTube por desinformação eleitoral -, e por líderes religiosos. O pastor Silas Malafaia iniciou uma série de vídeos na rede evocando o artigo 142 da Constituição Federal e chamando o atual presidente Jair Bolsonaro para convocar as Forças Armadas para “colocar ordem na bagunça que esse ditador fez”. Para o pastor, o ‘ditador’ seria o presidente do Tribunal Superior Eleitoral, ministro Alexandre de Moraes – alvo constante da extrema direita. 

No levantamento realizado pela Novelo Data e Essa Tal Rede Social, entre os dias 28 de novembro de 4 de dezembro, sobre a política brasileira nas redes sociais a partir de uma análise da extrema direita no YouTube, foi destacado o seguinte movimento narrativo: “Após a derrota nas urnas, a extrema-direita entrou em um ciclo: prometer e sugerir ações das Forças Armadas para manter a base mobilizada. Quando elas não veem, dobra-se a aposta.  É neste contexto que deve ser entendido a radicalização do discurso bolsonarista no YouTube, liderado principalmente pela Jovem Pan”.

Influenciadores do campo bolsonarista também apostam na narrativa. Houve grande repercussão após a participação de Bolsonaro em um evento das Forças Armadas na segunda-feira (5), em que teorias foram criadas para ‘desvendar’ determinados aspectos dos encontros. Uma delas se pautava na leitura labial em que um general teria afirmado que estava ‘aguardando o comando’ do presidente. Tal vídeo inflou ainda mais o discurso de golpe militar.

O silêncio de Bolsonaro

A aparição no evento marcou uma das poucas vezes que Jair Bolsonaro esteve em público após a sua derrota. Esse sumiço se reflete até nas redes sociais. Recluso desde que perdeu as eleições, o atual presidente deixou de se comunicar com seus apoiadores pelos meios que se tornaram seu diário nos últimos anos, como o Twitter. 

“Bolsonaro tem adotado, em mídias sociais mais populares e plurais como Facebook, Instagram e Twitter, a estratégia de cultivar o silêncio. Isso tem ocorrido de duas maneiras: a primeira é não realizar mais publicações diárias nessas redes e a segunda é postar fotos sem legenda, em uma tentativa, a meu ver, de trabalhar a força da imagem para transmitir, indireta e subliminarmente, a mensagem do patriotismo”, explica a pesquisadora do INCT.DD, Tatiana Dourado.

Nas mídias mais populares, como o Instagram ou TikTok, o conteúdo publicado após o pleito se resumiu a imagens antigas, geralmente sem legendas e sem uma comunicação direta. Isso se tornou um espaço fértil para interpretações de seus seguidores nas últimas semanas.

Fonte: Levantamento Novelo Data e Essa Tal Rede Social

“Bolsonaristas buscam encontrar significado nas recentes aparições públicas do presidente, tentando compreender se houve ali alguma sinalização para as manifestações. Portais ligados ao presidente seguem estimulando a busca por ‘mensagens subliminares’ em publicações de Jair que, por sua vez, aparenta alimentar por meio de suas redes esse movimento”, destacou o relatório dos pesquisadores. Uma das imagens compartilhadas era a de Bolsonaro assinando um documento que foi interpretada por muitos como um sinal de que ele estaria apoiando o movimento. Hoje, publicou apenas uma foto olhando para o lado.

Foto publicada por Bolsonaro nesta quinta-feira (8)

“Embora postagens sem legenda recebam interações e conquistem engajamento em todas as redes, percebe-se que, no Instagram, há o componente dos famosos, que usam prioritariamente essa plataforma. Atletas e artistas que surpreendem positivamente a base bolsonarista ao expressar apoio ao presidente nesses posts com fotos sem legenda. O efeito disso nas manifestações golpistas precisa ser acompanhado, mas, penso eu, ser uma camada de endosso que agrava o contexto bastante contencioso e delicado”, analisa Tatiana Dourado.

A comunicação nas últimas semanas se deu de forma mais significativa por canais alternativos como o Telegram – onde tem quase 3 milhões de inscritos -, o Gettr, o LinkedIn e o aplicativo ‘Bolsonaro TV’, o qual Bolsonaro faz propagandas para download nas redes mais tradicionais. “Com isso, Bolsonaro passa agora a priorizar comunicação ainda mais direta com o seu público fiel, que o segue nessas redes de nicho, embora tenha interrompido o nível de interação que mantinha até antes das eleições”, destaca Dourado.

Estes espaços alternativos passaram a receber a própria comunicação governamental, como publicações sobre emprego, impostos, preços do gás de cozinha ou da gasolina. No entanto, também há conteúdos que se apresentam de forma menos enigmática, mas ainda não tão direta. Um vídeo publicado no Instagram do aplicativo Bolsonaro TV traz a mensagem: ‘não ouse tocar na liberdade do meu povo’, o que serviu para alimentar os seguidores que buscam acenos do seu líder. 

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