Atualmente os termos fake news e desinformação estão cada vez mais populares e em pauta nos sites de notícias. Fake news podem ser uma notícia ou um rumor criado com o foco de chamar atenção, para prejudicar a reputação de uma pessoa ou organização. Tendem a se propagar facilmente pois muitas vezes possuem conteúdos sensacionalistas.
Diversas questões sobre as fake news chamam a atenção da comunidade científica: Quais são suas origens? Elas ocorrem de forma espontânea? São criadas com algum propósito? Tentando responder algumas dessas questões, estudos mostraram que sua disseminação está relacionada à forma como é escrita, que a torna sedutora aos leitores. Muitas vezes o estilo narrativo é simples, fácil de ler e defende um determinado ponto de vista de forma mais radical, despertando indignação ao leitor a ponto de compartilhá-lo. Essas características acabam fazendo com que as fake news viralizem muito mais rápido que uma notícia comum.
Investigações recentes mostraram que não é só o formato que estimula essa disseminação, muitas vezes há grupos com determinados interesses que se utilizam das fake news para propagar uma ideologia ou defender interesses econômicos. As fake news, portanto, se mostram um negócio lucrativo. Por exemplo, conteúdos que viralizam facilmente gerando muitos acessos a determinados portais. Normalmente, esses conteúdos estão hospedados em sites que possuem anúncios remunerados, ou seja, aqueles que hospedam esse conteúdo falso ou enganoso recebem por ele.
As fake news, além de resultarem em ganhos econômicos, podem colocar vidas em risco. Durante a pandemia da Covid-19, pudemos ver como a circulação de informações falsas e distorcidas sobre a prevenção e tratamento do vírus, por exemplo, dificultou seu combate. Da mesma forma, vídeos associando mortes à vacinação dificultaram a aplicação de políticas públicas para erradicar a doença. Nessa crise sanitária também foi constatado que alguns canais no YouTube ganharam dinheiro com a propagação com fake news relacionada à pandemia. A CPI da pandemia pediu ao YouTube a remoção de 385 vídeos de desinformação sobre a pandemia, sobre tratamento e prevenção do novo coronavírus. A CPI constatou que esses canais ganharam US$ 45 mil com desinformação, aproximadamente R$ 215 mil.
A indústria de desinformação vai muito além de canais no YouTube. Uma reportagem da BBC narrou a existência de uma pequena indústria na Macedônia do Norte, cujo objetivo é a produção de notícias falsas. A reportagem destacava o dia-a-dia de uma funcionária da “indústria de fake news”, cujo objetivo era reescrever notícias de sites da extrema direita norte-americana adicionando conteúdo de desinformação. As notícias eram reescritas alterando os fatos de forma tendenciosa e adicionando imagens fora de contexto. Segundo a reportagem da BBC, os adolescentes que administram esses sites de desinformação alegam receber milhares de dólares por mês. Esses sites não foram criados espontaneamente por adolescentes da Macedônia do Norte. A investigação apontou que podem ter sido financiados por um candidato republicano que concorreu à assembleia do estado de Nevada nos Estados Unidos.
Detectar e combater fake news é uma missão complexa (ou impossível de resolver). Rastrear o fluxo do dinheiro que financia sites e canais para propagarem desinformação pode ser uma uma alternativa no combate à desinformação. Por exemplo, uma pesquisa recente constatou que 61% dos sites de desinformação são financiados pela plataforma de anúncios Google Ads. Ao exigir que grandes empresas de tecnologia, como a Alphabet, conglomerado do Google, e Meta, dona do Facebook, Instagram e WhatsApp, apresentem de forma mais transparente como determinados sites são remunerados e criem mecanismos e ferramentas de combate a desinformação remunerada pode ser uma alternativa para mitigar o problema das fake news. Afinal, ao cortar o financiamento dessas atividades, a tendência é que a propagação desse tipo de conteúdo deixe de ser lucrativo, acarretando na queda desse tipo de atividade de forma gradual ao longo do tempo.