Trocas de acusações de mentira entre os candidatos à presidência mais bem colocados nas pesquisas, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL), dominaram o primeiro debate na TV aberta, ontem à noite. No momento mais violento, o presidente Bolsonaro atacou a jornalista Vera Magalhães, da TV Cultura. “Vera, não podia esperar outra coisa de você. Eu acho que você dorme pensando em mim, você tem alguma paixão por mim. Você não pode tomar partido num debate como este, fazer acusações mentirosas a meu respeito. Você é uma vergonha para o jornalismo brasileiro”, atacou Bolsonaro, que foi condenado em segunda instância em junho deste ano por fazer ataques considerados misóginos a outra jornalista que também fez parte do debate, Patricia Campos Mello, do jornal Folha de S.Paulo.
O ataque a Vera Magalhães, da TV Cultura, aconteceu depois que ela questionou o candidato Ciro Gomes (PDT) sobre a queda da cobertura vacinal infantil no Brasil e as mortes pela Covid-19. Ela perguntou se, na avaliação de Ciro, “a desinformação sobre vacinas, difundida inclusive pelo presidente da República” havia contribuído para a situação. Bolsonaro tinha direito a comentar a resposta.
Enquanto isso, nos bastidores do debate um bate boca quase leva as vias de fato o ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles e o deputado André Janones (Avante-MG), apoiador da campanha de Lula. O motivo teria sido dados sobre recorde de desmatamento durante o governo Bolsonaro, mencionados por Lula, o que gerou reação indignada do ex-ministro Salles, prontamente rebatido por Janones. A situação provocou correria e reforço na segurança na sala dos assessores, os únicos a acompanharem o debate. O confronto, segundo Janones, foi fruto de provocações de Salles e também do presidente da Fundação Palmares, Sérgio Camargo.
Diante do ataque misógino desrespeitoso, Simone Tebet, candidata do MDB e Soraya Thronicke (União Brasil) se solidarizaram à jornalista Vera Magalhães. Tebet lembrou que também foi vítima de violência política por ministros do presidente e afirmou que “não tem medo do presidente nem de fake news”.
A candidata do MDB pegou a dianteira da defesa das mulheres e se destacou na pauta feminina. Chegou a enumerar ataques do presidente Jair Bolsonaro às mulheres e perguntou: “Por que tanta raiva das mulheres?” Em sua resposta, o candidato do PL disse que as acusações eram sem provas e a questionou sobre sua posição em relação à liberdade de imprensa (sic) no caso dos empresários investigados pelo TSE por discurso antidemocrático em grupo do WhatsApp. Tebet devolveu: “Mais uma vez o senhor é um presidente que fabrica fake news e divulga fake news”.
Pior posicionado entre as mulheres, segundo as pesquisas, Bolsonaro recorreu a números de projetos, 60 segundo ele, aprovados durante seu governo em benefício das mulheres e destacou a atuação da primeira dama com o voluntariado.
Polarização política gera oportunismo
Bolsonaro e Lula se atacaram mutuamente de mentirosos. Sobre as denúncias de corrupção, Lula voltou a citar as iniciativas de transparência de seu governo, mesmo caminho adotado em sua entrevista ao Jornal Nacional. Já o presidente Jair Bolsonaro rebateu acusações de corrupção na compra de vacinas durante seu governo dizendo que eram “só fake news a meu respeito”. Em determinado momento, Bolsonaro chegou a dizer ao ex-presidente Lula: “Para de mentir, está no seu DNA mentir e inventar números”.
O candidato Ciro Gomes (PDT) aproveitou o clima de polarização para se colocar como a solução que vai acabar com o ódio e a mentira e o “crescimento sofrível da economia brasileira”.
Pior posicionados nas pesquisas, Luiz Felipe D´Avila (Novo) e Soraya Thronicke (MDB) se apresentaram como os novatos da política, com defesa da agenda neoliberal de privatização, redução de impostos e corte dos gastos públicos. “não sou do mundo político, sou empreendedor”, disse Felipe.
“Sou da paz”, seguiu o mesmo tom o discurso de Soraya, que disse ainda estar “vacinada contra mentira” “Mas o povo brasileiro não está vacinado. Não aguento mais mentira nem corrupção”.
O Data Folha selecionou 64 eleitores indecisos ou que pretendem votar em branco em todo o Brasil, de todas classes sociais, para avaliarem o desempenho dos candidatos neste debate. No primeiro bloco houve empate entre Simone Tebet e Ciro Gomes. No segundo bloco, Simone Tebet aparece sozinha como o melhor desempenho e no terceiro bloco Simone e Ciro novamente. Bolsonaro foi considerado o pior desempenho no debate em geral.