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@thiagoilustrado

mar 15, 2024 | destaques, notícias

O papel do WhatsApp e Telegram nos ataques às eleições de 2022 

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Um estudo realizado pelas pesquisadoras brasileiras Lori Regattieri e Débora Salles para a Mozilla Foundation identifica o papel do WhatsApp e do Telegram nos ataques à integridade eleitoral e nas ameaças à democracia. Um dos resultados da pesquisa indica que os ciclos de desinformação nesses aplicativos são fundamentais para as operações de influência da informação que minam a integridade eleitoral.

A partir do monitoramento de 390 grupos públicos no WhatsApp e 864 no Telegram entre janeiro de 2021 e outubro de 2022, as pesquisadoras investigaram 267.209 mensagens relacionadas a fraudes eleitorais (99.894 no WhatsApp e 167.315 no Telegram). Entre os destaques, a pesquisa acompanha a temporalidade dessas mensagens, verificando picos como o 7 de setembro de 2021.

Além disso, com base na análise dos dados, o estudo de caso sugere que o ciclo de manipulação dentro desses aplicativos tem cinco características principais. A primeira delas é que esses serviços de mensageria atuam como um repositório de conteúdo,  armazenando de forma centralizada desinformação e propaganda enganosa e facilitando o acesso rápido e distribuição por membros desses grupos.

A segunda característica é a ativação de um mensagem permanente para garantir  o envolvimento constante dos usuários, mantendo a narrativa viva e ressonante, além de atuar como lembrete e gatilho de conteúdo, reforçando a mensagem enganosa repetidamente. A terceira característica encontrada pelas pesquisadoras é o compartilhamento em massa, visto que amplia o alcance e os canais de distribuição da desinformação e permite que a mensagem seja amplificada em múltiplas plataformas, aumentando sua credibilidade e visibilidade.

A mobilização de transmissão – quarta característica indicada no estudo – indica que os aplicativos capacitam seus usuários a propagarem a mensagem de forma ampla e rápida e a explorarem o recurso “transmitir para muitos”, ampliando exponencialmente o alcance da mensagem. Por fim, as autoras destacam a orquestração de mensagens em rede multiplataforma. De acordo com o estudo, há uma sincronização da mensagem enganosa em diversas plataformas, garantindo consistência e maior alcance, além de uma coordenação com outras mídias sociais, o que cria um efeito cascata.

“Plataformas como Facebook, Instagram e Twitter não são meros espectadores, mas desempenham papéis fundamentais, interligando públicos e solidificando ainda mais um sistema de crenças partilhado dentro do ciclo de manipulação”, diz o relatório.

O relatório da pesquisa elenca as ações realizadas pelo Tribunal Superior Eleitoral para conter desinformação nas plataformas, mas destaca que “a batalha contra a desinformação política encontrou numerosos desafios, com grande parte do conteúdo em grupos e canais públicos escapando à regulamentação”. Além disso, destaca que o WhatsApp e o Telegram funcionam como plataformas eficazes para a construção de comunidades e táticas de mobilização, nas quais o público amplifica ativamente fontes de notícias inúteis e cocria teorias da conspiração. 

O papel desses serviços de mensageria na desordem informativa é amplificado pela confusão entre os limites da comunicação pública e privada, de acordo com as autoras, justamente por criarem uma infraestrutura digital única que traz “uma mistura potente de disseminação rápida, ressonância profunda e crença generalizada em narrativas enganosas”.

“Estas possibilidades, quando exploradas sem restrições regulamentares para salvaguardar um ecossistema de informação confiável, podem amplificar narrativas numa escala sem precedentes e, se as plataformas não agirem em conformidade, terão efeitos duradouros na percepção das pessoas sobre os elementos-chave dos procedimentos democráticos que sustentam a integridade eleitoral”, conclui o relatório.

Recomendações para combater a desinformação eleitoral

A pesquisa também traz recomendações para as autoridades brasileiras a partir dos resultados encontrados. A primeira delas destaca o lançamento, por parte do WhatsApp, de ferramentas como o Comunidades e Canais, serviços que amplificam o público de uma mensagem. “Há uma necessidade urgente de quadros regulamentares e de governação capazes de incluir análises de risco sistémico sobre o âmbito e a conceção destas novas funcionalidades nas aplicações de chat antes de serem lançadas para uso público”, indica o relatório.

A segunda recomendação aborda a publicidade permitida no Telegram e reforça a necessidade de as instituições brasileiras trabalharem em conjunto com a empresa para garantir que os candidatos não explorem a opacidade do aplicativo. Por fim, as pesquisadoras recomendam que WhatsApp e Telegram considerem incluir novas ferramentas no compartilhamento de conteúdo que sirvam como “micro limites reflexivos”, como um breve aviso ou uma etapa de verificação para que os usuários reflitam sobre as implicações de partilhar informações amplamente. 

Esse estudo faz parte de um projeto do Mozilla Foundation que busca compreender como as plataformas trabalham para desenvolver políticas e intervenções significativas em torno das eleições, especialmente, quando confrontadas com ambientes de informação, línguas e contextos culturais complexos. Também estão disponíveis estudos sobre plataformas de mensagens e integridade eleitoral na Índia e as intervenções de plataformas em um ambiente eleitoral de baixa confiança na Libéria.

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