Aumento de discurso de ódio, volta de QAnons, desinformação climática e debandada geral de usuários para redes sociais alternativas. Nas últimas semanas, notícias como essas envolvendo o Twitter se tornaram regulares nos noticiários nacionais e internacionais. Reveja aqui alguns dos acontecimentos mais marcantes destes 50 dias de gestão Elon Musk.
Desde que assumiu o comando da empresa, na noite da quinta-feira, 27 de outubro, o empresário Elon Musk vem tomando decisões, por muitas vezes inconstantes, que foram na contramão do que já estava sendo feito pela plataforma, numa gestão que a imprensa internacional já chama abertamente de caótica.
Se, ainda em outubro, os especialistas e pesquisadores já temiam os impactos negativos no ecossistema da rede social, baseados nas promessas feitas pelo próprio bilionário a favor da liberdade de expressão, sete semanas depois já é possível construir um panorama da mudança do ecossistema da plataforma.
Elencamos as principais notícias sobre desinformação, moderação de conteúdo e dinâmicas de comunicação da própria rede social que aconteceram nos primeiros 50 dias de Musk como novo dono do Twitter. Leia abaixo.
1) Desmantelamento das equipes de confiança e segurança
Logo após completar a compra da rede social, ainda no dia 27 de outubro, Elon Musk iniciou a dissolução do conselho administrativo da companhia, com a demissão de 3 executivos, incluindo a diretora responsável por deplataformizar Donald Trump em 2021, a chefe de segurança, confiança e políticas, Vijaya Gadde.
Além disso, mesmo prometendo não cumprir os rumores de uma demissão em massa que surgiram antes da finalização da compra, dez dias após estar no comando da plataforma, o empresário iniciou um processo de gigantescos cortes no pessoal da empresa.
Estima-se que 50% dos funcionários tenham sido demitidos. Departamentos importantes para o funcionamento da empresa foram descontinuados, como os de Direitos Humanos e de Ética e Inteligência Artificial.
O Brasil também foi afetado pelas demissões em massa no período, quando cortaram grande parte da equipe nacional. “Neste momento, não há ninguém a quem recorrer”, afirmou em novembro Nina Santos, coordenadora acadêmica do *desinformante, “todas as pessoas com quem conversávamos não estão mais lá”.
Já no dia 13 de dezembro, o Twitter decidiu encerrar as atividades do Conselho de Confiança e Segurança, formado desde 2016 por organizações civis e especialistas para assessorar a plataforma em decisões que envolvem governança de conteúdo, direitos humanos e saúde mental.
2) Interferências de Musk na moderação de conteúdo
Em busca de promover a “liberdade de expressão”, Musk vem assumindo decisões diretamente sobre a governança de conteúdo na rede social. Logo quando chegou, por exemplo, proibiu perfis de paródias após diversas contas se passarem por ele.
Também reintroduziu ao Twitter o ex-presidente norte-americano Donald Trump, desplataformizado em janeiro de 2021 após incentivar a invasão ao capitólio, e prometeu anistia geral aos perfis bloqueados pela gestão passada.
Tais ações incentivaram o restabelecimento de contas dos QAnons, conhecidos por ser um movimento marginal de teorias da conspiração que ganhou, nos últimos anos, espaço na Internet ao apoiar Trump.
Mais recentemente, por meio da exposição de documentos e dados internos da empresa, Musk sugeriu ter havido um suposto favorecimento partidário e ideológico da antiga gestão a políticos e usuários de esquerda nos Estados Unidos. Segundo ele, no Brasil, algo parecido também poderia ter ocorrido nas eleições de 2022. Tal iniciativa ficou conhecida como Twitter Files.
Nesta semana, a empresa suspendeu a conta “@ElonJet”, que monitorava e compartilhava as rotas aéreas feitas pelo empresário. O bilionário também prevê o rastreamento de dados dos usuários de forma forçada, prática que viola as diretrizes da Apple.
3) Aumento do discurso de ódio e da desinformação climática
De acordo com mapeamento realizado pelo Network Contagion Research Institute, da Universidade de Princeton, nas doze primeiras horas do dia 28 de outubro foi registrado um aumento de mais de 500% de mensagens racistas na rede social.
As injúrias contra a população LGBTQIAP+ também cresceram instantaneamente no período, segundo relatório divulgado pelo Gay & Lesbian Alliance Against Defamation (GLAAD) e Media Matters. Os pesquisadores analisaram nove contas populares de direita e descobriram que tais perfis tiveram um aumento de 1.200% nos tweets e retuítes utilizando insultos.
Outro ponto foi o aumento do número de tweets mencionando o termo “fraude climática” (“climate scam”, em inglês). O dado foi identificado por pesquisadores da Universidade de Londres para o jornal britânico The Times.
Além disso, desde o dia 23 de novembro o Twitter não aplica mais a sua política contra desinformação sobre Covid-19, iniciativa criada logo no início da pandemia, em 2020, responsável por remover quase 100.000 conteúdos que espalharam informações falsas sobre o assunto.
4) Migração de usuários para redes sociais alternativas
Entre os dias 17 e 18 de novembro, frente uma onda de demissões voluntárias entre os 2.900 funcionários que restavam na empresa, diversos perfis na rede social começaram a alegar o fim do Twitter. Hashtags como #RIPTwitter e tweets envolvendo o nome de Elon Musk chegaram aos principais tópicos debatidos na plataforma.
Com o clima de fim de festa, milhares de usuários resolveram explorar outras redes sociais alternativas. Uma delas, a indiana Koo, recebeu mais de um milhão de downloads no Brasil em 48h após o dia 18. A descentralizada Mastodon também vem angariando novas contas desde outubro. No início de novembro, a plataforma já havia batido o recorde de atividade, com mais de um milhão de usuários ativos mensais.
Famosos também resolveram encerrar seus perfis no Twitter em forma de protesto às decisões do novo dono e, consequentemente, ao clima de desinformação e discurso de ódio que se instaurou após outubro. Além de Jim Carrey, que saiu tecendo críticas diretas a Elon Musk, Elton John também saiu recentemente da rede.