Antes das eleições de meio de mandato dos Estados Unidos, o TikTok já se mostra uma fonte de informações sem fundamento e enganosas tão problemáticas quanto Facebook e Twitter, aponta reportagem do jornal The New York Times (NYT). O mesmo já ocorreu em outras eleições como Alemanha, Colômbia e Filipinas. Segundo a reportagem, os mesmos recursos que permitem que a função “para você” do TikTok viralize danças e músicas, dando um enorme alcance para anônimos, também podem dificultar a contenção de afirmações imprecisas e falsas na plataforma.
Durante as eleições nacionais da Alemanha, o TikTok foi usado por usuários para fazerem se passar por algumas figuras políticas proeminentes do país, segundo estudo da Mozilla Foundation. Na vizinha Colômbia, vídeos enganosos do TikTok atribuíram falsamente uma frase de um candidato a uma personagem do desenho animado Simpson, popularizando a hashtag #SimpsonsPredictions no pleito. Igualmente, um vídeo de comédia da tiktoker Ornela Cabezas se popularizou como se fosse filha de outro candidato. O TikTok também influenciou as eleições nas Filipinas ao amplificar mitos sobre o ex-ditador do país com campanhas coordenadas, ajudando Ferdinand “Bongbong” Marcos Junior, filho do ex-ditador, a prevalecer na corrida presidencial.
Os mesmos problemas começam a aparecer nos Estados Unidos, antes mesmo do início das eleições de meio de mandato. Assim como no Brasil, teorias de conspiração sem fundamento sobre fraudes eleitorais estão sendo amplamente vistas na plataforma. Enquanto a hashtag #StopTheSteal foi moderada, a hashtag #StopTheSteall tinha acumulado quase um milhão de visualizações, sendo desativada logo após o NYT entrar em contato com a plataforma. Alguns vídeos convidaram os usuários a votar em novembro, citando rumores já desmentidos sobre o ataque ao Capitólio em 6 de janeiro de 2021. Também foram identificados vídeos do TikTok que relacionavam o surto de infecções Covid-19 a uma tentativa de desencorajar a votação presencial.
Apesar de enfrentarem o mesmo desafio de Twitter e Facebook, vídeo e áudio são muito mais difíceis de moderar do que o texto, especialmente quando eles são postados com efeitos. Ao mesmo tempo, o TikTok, que é propriedade do gigante tecnológico chinês ByteDance, enfrenta muitos questionamentos do governo americano em relação à influência da China em suas decisões comerciais e de moderação de conteúdo.
Em junho, a empresa chinesa fez acordo com a Oracle, após longa pressão do governo dos EUA, para encaminhar todos os dados de usuário dos EUA para a infraestrutura de nuvens no país. Segundo artigo publicado pela Axios, a Oracle começou a vetar os algoritmos e modelos de moderação de conteúdo da TikTok para garantir que não fossem manipulados pelas autoridades chinesas. Esses esforços, conhecido como Projeto Texas (local da sede da Oracle), têm o objetivo de oferecer mais garantias de que a versão americana do TikTok opera independentemente da influência do Partido Comunista Chinês e os dados dos usuários no país estão seguros e as recomendações de conteúdo não estão sendo manipuladas. No passado, investigações do jornal britânico The Guardian indicavam que a TikTok tinha censurado o conteúdo de forma alinhada com a mensagem da política externa de Pequim.
TikTok nas eleições brasileiras
O TikTok já está presente na política brasileira. Segundo estudo do Laboratório de Combate à Desinformação e ao Discurso de Ódio em Sistemas de Comunicação em Rede da Universidade Federal Fluminense, desde 2018 existem pelo menos 264 perfis de políticos no TikTok.
O estudo indica que há quase duas vezes mais políticos de direita no TikTok em relação ao número de políticos no campo da esquerda. Também foi identificado que políticos de direita não utilizam tanto uma linguagem política para comunicar com o público, utilizando referências ao universo do entretenimento, do humor e das trends da plataforma. Isso reflete nos índices de engajamento e em um maior número de seguidores. Os políticos de esquerda também tendem a receber menor quantidade de visualizações nos conteúdos publicados.
Os pesquisadores também perceberam que o Partido dos Trabalhadores (PT) tem mais políticos com contas no TikTok do que outros partidos da esquerda. Porém, a maior parte dos políticos presentes na plataforma são de direita (57,5%). De cada três usuários, apenas um é de esquerda. Entre osquatro políticos com altos índices de engajamento no TikTok, dois de esquerda e dois de direita, são: Manuela d’Ávila, Carlos Zarattini, Tiririca e Renan Bolsonaro.
Embora o uso da plataforma em 2020 concentrou-se em conteúdos educativos e descontraídos, para se conectarem diretamente com o público mais jovem, os pesquisadores deixam claro que há uma grande expectativa em torno dos usos do TikTok nas eleições de 2022 com receio de que se torne um canal de intensa disseminação de desinformação e discursos extremistas.
Leia o relatório completo aqui.