O ano de 2023 vai ser importante para Amanda. Em novembro, a adolescente de 17 anos irá prestar o Exame Nacional de Ensino Médio, o Enem. Além dos estudos e da pressão comuns nesta época da vida, ela precisará lidar com mais um desafio: o TikTok. Além de viciante, o aplicativo é avaliado como danoso para saúde mental dos jovens e adolescentes.
Na semana, a jovem passa, em média, duas horas por dia na rede social, que considera um dos seus aplicativos favoritos. O uso constante, porém, já é visto como uma distração para o período de preparação para o vestibular.
“Por ter vídeos curtos, o pensamento de ver apenas mais um é constante”, explica a estudante, que já busca criar meios de limitar o uso excessivo da plataforma com cronômetro.
Amanda é uma dos milhares de adolescentes brasileiros que já usam o TikTok como uma das principais redes sociais para comunicação e entretenimento. Em 2022, cerca de 58% dos usuários entre 9 a 17 anos no país já estavam na rede social, de acordo com a pesquisa TIC Kids Online Brasil.
Além da preocupação com o uso desmedido e distraído do aplicativo, que também atinge adultos de diversas idades, pesquisadores e especialistas apontam riscos para a saúde mental dos jovens.
Um estudo desenvolvido pelo Centro de Combate ao Ódio Digital identificou conteúdos problemáticos no TikTok em menos de dez minutos de uso. Vídeos sobre suicídio, por exemplo, foram recomendados na aba “For You” em dois minutos e meio de acesso.
Temas relacionados a distúrbios alimentares e à imagem corporal, como dietas sem embasamento e reforço à magreza, também foram identificados no teste.
Além disso, os pesquisadores encontraram uma comunidade para conteúdos sobre transtorno alimentar, acumulando 13,2 bilhões de visualizações, e 56 hashtags projetadas especificamente para fugir da moderação
“Os resultados são o pesadelo de todos os pais: os feeds de jovens são bombardeados com conteúdo prejudicial e angustiante que pode ter um impacto cumulativo significativo na compreensão do mundo e na saúde física e mental”, escreveu Imran Ahmed, chefe-executivo da organização.
Neste contexto, o impacto negativo na saúde dos adolescentes pelo uso do TikTok não são iguais para todos. De acordo com John Haltigan, professor da Universidade de Toronto, os usuários mais expostos são adolescentes do gênero feminino.
Isso acontece pois depressão e ansiedade, como explica o docente, já são questões geralmente identificadas nas jovens nessa fase da vida, podendo ser reforçadas e até ampliadas pela “natureza imersiva audiovisual e comunitária” da rede social.
Em resposta ao estudo do Centro de Combate ao Ódio Digital, o TikTok afirmou:
“Esta atividade e o que se resultou dela não refletem o comportamento genuíno e experiências de usuários reais. Consultamos regularmente especialistas em saúde, removemos conteúdos que violam nossas Diretrizes da Comunidade e fornecemos acesso a recursos de suporte para qualquer pessoa que precise. Estamos cientes de que as pessoas têm níveis diferentes de sensibilidade para cada tipo de conteúdo e nos mantemos focados em promover um espaço seguro e de confiança para todos, incluindo pessoas que optam por compartilhar suas jornadas de recuperação, aprendizados e que podem educar outras pessoas sobre temas importantes.”
Escolas aumentam cerco contra plataformas
Recentemente, a escola Pedro II, no Rio de Janeiro, reuniu os pais dos alunos do ensino fundamental para alertar sobre o uso excessivo do TikTok pelas crianças pós-pandemia, mesmo o aplicativo indicando a idade mínima de 13 anos. Os professores já identificam que a plataforma deixa os estudantes mais agitados e violentos.
Nos Estados Unidos, escolas públicas de Seattle entraram com um processo contra diversas empresas de tecnologia, incluindo TikTok, alegando que elas possuem impacto negativo na saúde mental dos estudantes, impedindo que as instituições de ensino cumpram sua missão de educar.
No processo, o distrito escolar, que conta com mais de 50 mil alunos, afirmou que as ações tomadas pelas plataformas “foram um fator substancial para causar uma crise de saúde mental juvenil, marcada por proporções cada vez maiores de jovens lutando contra ansiedade, depressão, pensamentos de automutilação e ideação suicida”.
TikTok atualiza sistema de moderação de conteúdo
Na quinta-feira (2), a plataforma anunciou a atualização do sistema de moderação e revisão de contas, buscando agir de forma mais rápida, transparente e eficaz contra infratores reincidentes.
A partir do novo sistema, se um perfil violar as diretrizes da comunidade e repetir o descumprimento, seja pela mesma ferramenta (como comentários) ou pela mesma política, atingindo o limite de advertências, ele poderá ser banido permanentemente na plataforma.
Em comunicado, a empresa disse que os limites variam dependendo do potencial da violação em causar danos aos membros da comunidade, podendo ser mais restrito em desrespeito a políticas de discurso de ódio do que atividades de spam.
Apesar de levantar o argumento da transparência no anúncio, o TikTok não deu mais detalhes sobre como serão realizadas as notificações, nem sobre o limite exato de reincidências que será estabelecido como parâmetro para a remoção do usuário.