Às vésperas dos atos de 7 de setembro, convocados por Jair Bolsonaro, o grupo Meta ainda contribui para promover a violência e a narrativa antidemocrática. É o que aponta um relatório da organização internacional de campanhas SumOfUs, que monitorou anúncios nas plataformas Facebook e Instagram, além de grupos do aplicativo WhatsApp.

“A Meta segue aprovando sistematicamente anúncios que incitam a violência, disseminam desinformações e lançam dúvidas sobre a integridade das próximas eleições”, diz o relatório. Há semanas, o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, e seus aliados vêm disseminando nas redes desinformações incendiárias, incitando a violência e convocando seus apoiadores a participar de um ato nacional amanhã, 7 de setembro. 

O relatório da SumOfUs, que pode ser encontrado aqui (em inglês), elaborado com base em uma amostra de 2.800 anúncios, detalha como a Meta tem colaborado com isso, ao identificar dezenas de anúncios problemáticos, incluindo um que mostra uma faca e equipamentos de combate militares com hashtags relacionadas aos atos de 7 de setembro. Essas publicações acumulam 615.000 impressões, o que evidencia o papel do Facebook na disseminação e promoção de conteúdos violentos e de ódio, criados para minar a confiança nas eleições e ampliar o apoio a um golpe.

No mês passado, outra organização internacional, a Global Witness, realizou um experimento para verificar o que as plataformas da Meta estariam fazendo para proteger as eleições brasileiras. E o resultado também foi decepcionante. Todos os dez anúncios com informações falsas – criados pela Global Witnewss – sobre o pleito brasileiro foram aprovados pelo Facebook, mostrando grande vulnerabilidade dos sistemas de proteção da big tech.

Muitos dos anúncios identificados pelos pesquisadores da SumOfUs também estão em desacordo com a lei eleitoral brasileira, que proíbe os candidatos na disputa às eleições de 2 de outubro de fazerem campanha antes de 16 de agosto. 

Anúncio veiculado pela Meta no Brasil mostrando uma faca e equipamentos de combate militares com hashtags que mencionam 7 de setembro

Flora Rebello Arduini, diretora de campanhas da SumOfUs, afirma: “É como se estivéssemos revivendo o cenário criado em 6 de janeiro nos Estados Unidos — a Meta está ajudando ativamente a mobilizar um exército online no Brasil responsável pela disseminação de teorias conspiratórias sobre a integridade das eleições e que ameaça dar um golpe violento. As autoridades em todo o mundo precisam agir com urgência ou estaremos fadados a ver esses tipos de ataques à democracia se intensificarem”.

O relatório da SumOfUs, “Stop the Steal 2.0: como a Meta está subvertendo a democracia brasileira”, em tradução livre], ilustra como as plataformas da Meta promovem o crescimento da narrativa extremista, incluindo a reivindicação por um golpe militar, a destituição de juízes do Supremo Tribunal Federal e a disseminação de desinformações relativas às eleições e à integridade do sistema de votação eletrônica – preparando o terreno para que agentes mal-intencionados contestem o resultado das eleições, como ocorreu durante o processo eleitoral dos Estados Unidos, em 2020. O relatório também mostra que o Facebook aprovou anúncios contendo ataques pessoais a candidatos, servidores públicos e instituições, permitindo que acumulassem centenas de milhares de visualizações. 

O WhatsApp, plataforma de mensagens da Meta, usado por 79% dos brasileiros como sua principal fonte de informações, também tem sido usado como uma plataforma central para a organização das forças antidemocráticas, revela o relatório. Três grupos de WhatsApp monitorados pelos pesquisadores da SumOfUs foram bombardeados com milhares de mensagens por dia, muitas em antecipação aos atos de 7 de setembro, e algumas pedindo explicitamente a derrubada de um possível novo governo.

O relatório também ressalta que essa não é a primeira vez que a Meta é cúmplice na disseminação de desinformações relativas a processos eleitorais e no incitamento de violência política no mundo real. O que aconteceu no Quênia, em Mianmar e a invasão ao Capitólio em 6 de janeiro, nos EUA, são exemplos assustadores de como os algoritmos e as ferramentas da Meta, bem como a negligência na aplicação de suas políticas, levaram democracias a um ponto de ruptura, indica o relatório. 

Para mudar de rumo e impedir que os eventos de 6 de janeiro se repitam no Brasil e em outros países, a SumOfUs pede que a Meta implemente imediatamente as recomendações de mais 90 grupos da sociedade civil, incluindo o fortalecimento dos seus sistemas de moderação e verificação de contas para publicação de anúncios. A organização também solicita ao Tribunal Eleitoral do Brasil que investigue os exemplos citados no relatório.