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out 10, 2025 | Destaques, geral, Notícias

Relatório internacional defende imposto digital para financiar jornalismo

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O Fórum sobre Informação e Democracia lançou, durante o M20 Summit, um relatório que defende a implementação de impostos digitais como solução para enfrentar a crise de financiamento do jornalismo. O documento, intitulado Taxa digital para apoiar o jornalismo de qualidade (A digital tax to support quality journalism), parte do diagnóstico de que o setor vive um colapso estrutural, mas se concentra principalmente em apresentar recomendações concretas aos governos.

Segundo o Fórum, a proposta central é que países criem tributos sobre serviços digitais, como receitas publicitárias ou monetização de dados, e destinem parte da arrecadação diretamente ao jornalismo. “Os Estados não devem esperar por um consenso internacional para agir”, afirma o relatório, numa referência à suposta paralisia das negociações globais sobre o tema.

O Fórum sobre Informação e Democracia é uma iniciativa internacional criada em 2019 a partir de uma parceria lançada pela França e hoje apoiada por 56 Estados signatários. Fundado pela Repórteres Sem Fronteiras (RSF) em conjunto com instituições de referência em direitos digitais, mídia e direitos humanos, o Fórum tem como objetivo principal garantir que propostas regulatórias ou de autorregulação para enfrentar a crise da informação estejam alinhadas a princípios democráticos.

Ao propor a criação de impostos digitais para financiar o jornalismo, o Fórum busca recolocar a sustentabilidade da imprensa no centro da agenda democrática global. Para os autores, não se trata apenas de uma questão econômica, mas de preservar um bem público essencial: a informação de qualidade. “O financiamento do jornalismo é uma questão democrática e global”, pontua o relatório. 

As principais recomendações

Entre as orientações, cinco se destacam:

  1. Implementar rapidamente impostos digitais, com parte da receita vinculada ao financiamento do jornalismo, adotando como justificativa o princípio do poluidor-pagador — ideia de que plataformas digitais poluem o ambiente informacional e devem arcar com os custos de reparação.
  2. Adotar impostos amplos sobre serviços digitais ou, em alternativa, tributos focados em publicidade.
  3. Levar em conta os impactos da inteligência artificial na formulação desses impostos.
  4. Seguir princípios de governança transparente na destinação dos recursos, o que inclui distribuição feita por agência independente com participação de profissionais de mídia, critérios claros e públicos, acesso garantido a veículos pequenos, independentes e digitais, além da preservação da autonomia editorial.
  5. Não esperar por acordos internacionais: os países devem avançar mesmo sem um marco global.

Para o Fórum, esses princípios são essenciais para evitar distorções. “Os critérios de distribuição devem ser claros, transparentes e predeterminados”, reforça o documento.

Por que isso é necessário

A defesa de um imposto digital surge em um contexto de deterioração acelerada do modelo de negócios do jornalismo, é o que revela o documento. O panorama apresentado é o de nas últimas duas décadas, a combinação da plataformização das notícias, ou seja, a crescente dependência de buscadores e redes sociais, somado com a concentração do mercado publicitário nas mãos das plataformas reduziu drasticamente a receita destinada a veículos de imprensa.

O cenário se agravou com a pandemia de COVID-19 e, mais recentemente, com a popularização de chatbots de inteligência artificial, apontados pelo relatório como uma nova ameaça existencial ao setor.

O princípio do poluidor-pagador

Um dos eixos centrais do relatório é a aplicação do princípio do poluidor-pagador ao ambiente informacional. A ideia é simples: assim como empresas que poluem o meio ambiente devem financiar a limpeza do dano causado, plataformas que concentram recursos e contribuem para a degradação do ecossistema de notícias devem ser responsabilizadas.

Na visão do Fórum, taxar receitas publicitárias ou a monetização de dados pelas grandes plataformas e redirecionar parte desses recursos para financiar jornalismo de qualidade seria uma forma de “limpar” esse ambiente.

Desafios e resistências

O relatório reconhece, no entanto, os desafios políticos e diplomáticos. Um dos principais obstáculos é a forte oposição da atual administração dos Estados Unidos aos impostos sobre serviços digitais, que considera discriminatórios para suas empresas de tecnologia.

Além disso, permanece o risco de que recursos arrecadados fiquem concentrados em grandes conglomerados de mídia, se não houver critérios claros de distribuição. Por isso, o Fórum enfatiza a necessidade de um desenho institucional que privilegie diversidade, transparência e independência editorial.

Experiências que inspiram, mas não resolvem

O documento analisa tentativas de países que buscaram alternativas para sustentar o jornalismo. Na Austrália, em 2021, o chamado código de negociação de notícias (news bargaining code) obrigou plataformas a negociar diretamente com veículos de imprensa, resultando em pagamentos expressivos. No entanto, a falta de transparência nos acordos e a exclusão de veículos pequenos e locais limitaram os efeitos positivos.

No Canadá, iniciativa semelhante gerou uma reação ainda mais drástica das plataformas: a Meta bloqueou a circulação de notícias em suas plataformas no país. Já a Áustria é o único país a vincular formalmente um imposto digital sobre publicidade online ao jornalismo, embora sem destinação específica até o momento.

Esses exemplos reforçam, segundo o Fórum, a necessidade de uma solução mais equilibrada e previsível, que corrija falhas dos códigos de negociação e garanta maior transparência.

O que é o M20 Summit?

O M20 Summit aconteceu nos dias 1 e 2 de setembro de 2025, em Joanesburgo, África do Sul, e é uma iniciativa independente focada em integrar a integridade da mídia e da informação à agenda de políticas do G20. O encontro funciona paralelamente à programação oficial do G20, dialogando com grupos de engajamento de empresas, think tanks e sociedade civil.

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