No dia 12 de junho, de uma hora pra outra, milhares de páginas do Reddit, rede social que reúne grupos de fóruns sobre assuntos variados, sumiram das listas de recomendação de buscas do Google. Em paralelo, o próprio site da plataforma apresentou instabilidades para quem tentava acessá-lo, chegando a ficar indisponível por um momento.
No centro do apagão, uma greve organizada pelos próprios moderadores das comunidades, que tornaram privados os respectivos fóruns, contra os planos da plataforma, anunciados em abril, de acabar com a gratuidade da sua API para projetos e produtos de terceiros.
O protesto generalizado dos moderadores ainda é recente, mas mostra um aspecto inquestionável do contexto digital atual: a insatisfação e relação dos próprios usuários com as plataformas digitais, seus respectivos modelos de negócio e estratégias de rentabilização.
Nesse quesito, os usuários do Reddit não estão só. Basta ver, por exemplo, as inúmeras vezes que os frequentadores do Twitter anunciaram a morte da rede social desde que Elon Musk assumiu o comando da administração, em outubro do ano passado. De lá para cá, o bilionário vem sendo amado por uns, mas bem mais odiado por outros, após procurar rentabilizar ao máximo serviços que antes eram gratuitos, inclusive a API.
As razões que levam a essas mudanças estratégicas nas plataformas já são minimamente sabidas. Por um lado, há a necessidade de mostrar lucro aos acionistas ansiosos depois de anos de investimento sem retorno financeiro e em meio a um cenário tecnológico de recessão. Por outro, as novas aplicações de Inteligência Artificial, que usam conteúdos postados nas redes para treinamento de sistemas, aparecem como concorrentes de peso na disputa de liderança de mercado.
Mas essas mudanças, obviamente, têm custos. Em artigo publicado recentemente, David Pierce, editor e co-apresentador do Vergecast, afirma que tais estratégias das big tech põem fim a uma era da web social que experimentamos nos últimos anos. O que surge no horizonte, ainda segundo o jornalista, são redes cada vez mais privadas e orientadas para uma rentabilização desenfreada, a qual abandona o objetivo principal de construir bons produtos que atendam às necessidades das pessoas.
E entre acionistas, CEOs e bilionários, estamos nós, os cidadãos comuns, com nossas práticas sociais, comunicativas, culturais e econômicas que dependem cada vez mais de todo esse aparato tecnológico.
A desconfiança em relação às plataformas e seus respectivos modelos de negócio, é importante esclarecer, não é nova e tampouco restrita aos usuários. Há anos pesquisadores, representantes da sociedade civil organizada e figuras políticas vêm apontando os riscos relacionados à privacidade e à desinformação que surgem a partir da atividade dessas empresas.
Mas, o que esses últimos acontecimentos mostram é que o movimento crítico ganhou novos adeptos: os próprios usuários. E isso de tal forma que o último dia 12 de junho talvez seja lembrado não só pelo protesto dos moderadores do Reddit, mas também como um passo decisivo de uma relação usuário/plataforma que começa a azedar.