Com algumas regulações esparsas pelo globo e uma autorregulação notoriamente falha, a sociedade civil e alguns legisladores regionais estão buscando medidas que possam amenizar os problemas que as redes sociais têm causado para crianças e adolescentes. Para quem ainda não está por dentro dos danos, segue abaixo uma síntese com dados recentes e graves:
– No Brasil, pela primeira vez na história, os registros de ansiedade entre crianças e jovens superam os de adultos, mostrou uma análise que a Folha de S. Paulo fez a partir da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) do SUS de 2013 a 2023. A taxa de pacientes de 10 a 14 anos atendidos pelo transtorno é de 125,8 a cada 100 mil, e a de adolescentes, de 157 a cada 100 mil. Já entre pessoas com mais de 20 anos, a taxa é de 112,5 a cada 100 mil, considerando dados de 2023.
– De acordo com procuradores norte-americanos, a exposição excessiva às plataformas tem provocado tentativas de suicídio, distúrbios alimentares e insônia.
– O Instagram recomenda regularmente vídeos sexuais para contas de adolescentes e o faz minutos após o primeiro login, de acordo com testes feitos pelos jornalistas do The Wall Street Journal e de um pesquisador.
– A Comissão Federal de Comércio dos EUA recomendou um processo civil contra o TikTok por supostas violações de uma lei destinada a proteger os direitos de privacidade online das crianças, segundo o Wall Streel Journal.
– O psicólogo e professor da Universidade de Nova York, Jonathan Haidt, autor de “A Gerarção Ansiosa” compara o uso das mídias sociais por adolescentes ao vício em heroína, em entrevista concedida à Folha de S. Paulo.
– Segundo dados da pesquisa mais ampla dos Estados Unidos sobre saúde e uso de drogas, o percentual de adolescentes que relataram ao menos um episódio depressivo grave saltou de menos de 15% em 2005 para quase 30% em 2020.
Agora vamos às propostas que têm surgido e que têm potencial para pressionar as poderosas big techs a fazerem mudanças em suas políticas de uso e no desenho das redes.
1 – Movimento Desconecta
Um grupo de mães de escolas particulares de São Paulo lançou um movimento que defende que o ambiente escolar seja livre de celulares. Além disso, propõe que as famílias façam um acordo para que os filhos só sejam presenteados com um smartphone depois dos 14 anos e tenham acesso a redes sociais apenas após os 16.
Está em sintonia com mobilizações semelhantes em outros países, como o Wait Until 8th(“espere até o 8º ano” para dar o celular, a série escolar dos 14 anos de idade), grupo dos Estados Unidos com mais de 50 mil famílias, e o Smartphone Free Childhood (“infância livre de celular”), organização da Inglaterra com mais de 60 mil pais e mães.
2- Feed seguro para crianças
– Uma lei aprovada no estado de Nova York proíbe o feed viciante para menores de 18 anos, ou seja, é a primeira lei que muda o design das redes sociais. Uma lei quase idêntica pode ser aprovada ainda este ano na Califórnia. Os menores teriam acesso a um feed mais geral, sem o desenho atual que vai sendo alimentado infinitamente de acordo com preferências pessoais.
Dizem os especialistas ouvidos pela Fast Company que podemos estar nos aproximando de uma era pós-algoritmo porque os legisladores estão mirando não apenas na tecnologia e nas big techs, mas também no design dessas plataformas para limitar a forma como elas podem afetar as pessoas.
– Ações em 45 Estados norte-americanos e no Distrito de Columbia querem obrigar a Meta a reforçar a proteção de adolescentes e crianças, alertando-os sobre os perigos das redes sociais. Na Flórida, legisladores também querem proibir menores de 16 anos de terem contas no X, TikTok e Snapchat como medida para preservar a saúde mental e a segurança online de crianças e adolescentes.
3 – Rótulo de advertência
É hora de exigir um rótulo de advertência das autoridades de saúde nas plataformas de redes sociais, afirmando que as redes sociais estão associadas a danos significativos à saúde mental dos adolescentes, publicou o médico Vivek Murthy, que representa hoje a maior autoridade de saúde dos EUA, na seção de opinião do New York Times.
Segundo ele, uma etiqueta lembraria regularmente aos pais e adolescentes que as redes sociais não são comprovadamente seguras, como o que se faz hoje com advertências nas embalagens de cigarros e bebidas alcóolicas. Quando questionados se um aviso do Ministério da Saúde os levaria a limitar ou monitorar a utilização das redes sociais pelos seus filhos, 76% das pessoas numa pesquisa recente feita com responsáveis latinos nos EUA disseram que sim.