O Painel Internacional sobre o Ambiente Informacional (IPIE, sigla em inglês) publicou nesta terça-feira (24) a pesquisa anual sobre o ecossistema informativo que revela uma perspectiva preocupante sobre o tema e aponta para o que pesquisadores do mundo todo acreditam ser a maior ameaça: os donos das plataformas digitais.
“Uma das preocupações mais urgentes apontadas por nossa pesquisa é a influência dos donos de plataformas de mídias sociais – sejam eles empreendedores bilionários, governos estrangeiros ou empresas controladoras. O controle deles sobre a distribuição de conteúdo e as políticas de moderação impacta significativamente a qualidade e a integridade da informação. O poder descontrolado dessas entidades representa um grave risco à saúde do nosso ambiente informacional global”, disse Phil Howard, cofundador e presidente do IPIE.
A pesquisa se baseou na resposta de 412 pesquisadores de 66 países sobre o ambiente informacional global. Os especialistas foram ouvidos em junho deste ano e envolvem personalidades das áreas de ciências sociais, humanidades e ciências da computação. De todos os respondentes, 63% acreditam que o ambiente informacional vai ser pior no futuro (em 2023, 54% tinham essa opinião) e a média é maior entre pesquisadores dos países do Sul Global, em que o número chega a 75%.
Os pesquisadores ouvidos acreditam que, entre as maiores ameaças ao ecossistema informacional, estão os donos das plataformas digitais, os governos locais e os governos e políticos estrangeiros, já os jornalistas são vistos como os que menos ameaçam esse ambiente.
As perspectivas sobre a inteligência artificial também foram questionadas na pesquisa e os especialistas parecem acreditar no potencial positivo e negativo da tecnologia na mesma medida. Dos entrevistados, 63% acreditam que vídeos, vozes, imagens e textos gerados por IA já impactaram negativamente o ambiente informacional, e 53% analisam que essas tecnologias terão um impacto negativo no futuro, nos próximos cinco anos.
Além disso, a maioria dos especialistas está preocupada que a inteligência artificial perpetue preconceitos, amplifique o assédio e agrave o problema da desinformação. Por outro lado, uma parcela significativa (67%) se diz esperançosa de que a IA generativa vai melhorar a detecção de conteúdo, facilitar o jornalismo, aprimorar a comunicação e aumentar a persuasão de informações confiáveis. De modo geral, pontua o relatório, os pesquisadores de países em desenvolvimento estavam mais preocupados com os efeitos negativos da IA generativa do que os especialistas em países desenvolvidos.
“Os especialistas veem a IA generativa como uma faca de dois gumes. Embora tenha o potencial de fazer muito bem, seu uso atual pode exacerbar preconceitos e desinformação. Equilibrar esses aspectos será crucial para a saúde do nosso ambiente informacional”, colocou Sacha Altay, autor principal do relatório.
Por fim, o relatório destaca a grande preocupação dos pesquisadores em relação ao acesso aos dados, 77% deles se preocupam com a capacidade de sequer compreender os desafios futuros ou formular boas políticas em razão dessa opacidade. “Os dados de que precisamos para avançar nossa compreensão do ambiente informacional não estão apenas trancados; estão barricados atrás de redes privadas e muros corporativos. Até que abramos esses portões, permaneceremos no escuro, e nossa pesquisa continuará atrasada em relação aos insights críticos de que tanto precisamos. Sem transparência e dados abertos, desenvolver políticas eficazes para combater a desinformação e as ameaças tecnológicas continuará sendo uma batalha difícil”, comentou Sebastián Valenzuela, diretor científico do IPIE.