Apesar de as mudanças climáticas estarem se tornando realidade, como prova a recente onda de calor extremo que assola grande parte do Brasil, informações falsas sobre a situação ambiental global ainda são compartilhadas nas redes sociais. O assunto, porém, não é novo para essas empresas, já que, nos últimos anos, algumas delas desenvolveram políticas destinadas a combater especificamente a disseminação de desinformação climática.
Com o objetivo de avaliar a qualidade dessas políticas, a coalizão Ação Climática contra Desinformação (CAAD, na sigla em inglês) lançou nesta segunda-feira (25) o relatório “Clima da desinformação” com um ranking das seis principais plataformas digitais de acordo com seus respectivos compromissos e ações de combate à desinformação e negação climática. Aplicação das diretrizes ainda é o principal problema.
Por meio de um sistema de avaliação com 21 pontos, o estudo analisou as seguintes redes sociais: Instagram, Facebook, Youtube, Pinterest, TikTok e Twitter/X. Entre elas, o Pinterest se destacou com o melhor desempenho (10 pontos) devido à construção de diretrizes que proíbem o compartilhamento de informações falsas sobre o clima tanto em conteúdos orgânicos como pagos, trazendo também uma definição mais detalhada sobre o que se entende por desinformação climática.
“O Pinterest recebeu a maior pontuação em nossa avaliação pela incorporação de desinformação climática em suas políticas, com uma definição clara e um reconhecimento de greenwashing e conteúdo enganoso que vai além da negação total do clima”, trouxe o relatório, reconhecendo, porém, que faltam pesquisas independentes que confirmem a aplicação dessas políticas climáticas.
O TikTok e as plataformas da Meta (Instagram e Facebook) vêm logo depois, quase empatadas, com 9 e 8 pontos respectivamente. Já o Youtube assume o penúltimo lugar com 6 pontos. Segundo o documento, as quatro redes possuem compromissos para abordar a desinformação climática, mas faltam esforços práticos na aplicação dessas políticas.
Já o Twitter (ou X) conseguiu somar apenas 1 ponto, ficando em último lugar na avaliação. A plataforma não possui políticas atuais claras que lidem com desinformação ou negação climática e nem transparência pública adequada, de acordo com o estudo.
“Desde a aquisição de Elon Musk, a moderação de conteúdo foi desconstruída e a negação climática e o discurso de ódio dispararam”, afirmou a coalizão internacional, que também criticou a ação do bilionário em processar organizações da sociedade civil que buscam evidenciar o aumento de divulgação de desinformação e discurso de ódio de maneira geral.
Mesmo com políticas, moderação é falha
Apesar de quatro das cinco plataformas analisadas possuírem políticas específicas sobre desinformação climática, o relatório questiona a falta de dados disponíveis para a avaliação da aplicação eficaz dessas diretrizes existentes. O que se tem, ainda de acordo com o estudo, são pesquisas independentes que mostram que a moderação em relação ao conteúdo desinformacional é falha. O documento faz referência, por exemplo, a investigações recentes realizadas pela BBC e pela Ekō que mostram como o TikTok e o Youtube não conseguem impedir a divulgação de informações falsas ou negacionistas sobre a crise ambiental.
Outro problema identificado pela coalizão é a falta do uso de um conceito universal de desinformação climática, o que acaba por tirar do radar da moderação certos conteúdos que atacam soluções climáticas e greenwashing, prática indevida de apropriação de virtudes ambientalistas e sustentáveis por meio de técnicas de marketing e relações públicas.
O greenwashing, inclusive, é tido pela organização como um “elefante na sala”, já que a estratégia está sendo utilizada por empresas de petróleo para enganar cidadãos sobre reais impactos ambientais de suas respectivas atividades, algo parecido com o que fizeram as marcas de cigarro no século passado. A CAAD afirma que, durante a COP 27, em novembro de 2022, cerca de 4 milhões de dólares foram investidos por essas corporações em anúncios com conteúdos de greenwashing em plataformas da Meta.
Documento cobra ação das plataformas
O relatório da CAAD também traz um chamado de ação por parte das plataformas para pôr em prática melhorias no combate à desinformação e negação climática, como a produção e divulgação de um plano empresarial transparente que inclua mecanismos de fiscalização e maior investimento em moderação de conteúdo em idiomas e dialetos diversos.
A organização também pede para que as plataformas adotem uma definição universal sobre desinformação climática, apresentem relatórios anuais sobre campanhas de desinformação prevalentes em seus ambientes virtuais, além de impedir que conteúdos sobre o tema, incluindo greenwashing, sejam monetizados.
“O relatório serve de alerta, não só para estas plataformas, mas também para os reguladores e a sociedade como um todo. As alterações climáticas são uma ameaça existencial e combater a desinformação e o marketing verde é um passo crítico para evitar a catástrofe. É chegada a hora de os gigantes das redes sociais intensificarem e priorizarem a batalha contra a miséria e a desinformação climáticas”, afirmou a coalizão. A CAAD conta com a participação de mais de 50 organizações internacionais empenhadas em abordar conteúdos que perpetuam narrativas falsas sobre o meio ambiente. O relatório, em inglês, está disponível aqui.