Mais de 1500 organizações de todo o mundo já se inscreveram para participar dos grupos temáticos do C20 (Society 20) no Brasil, grupo de engajamento do G20 que reúne organizações da sociedade civil para debater os temas-chave do fórum de cooperação internacional. Neste ano, o coletivo tem pela frente o desafio de discutir o desenvolvimento sustentável em meio a um contexto global marcado por conflitos territoriais, crises ambientais, aumento da fome e a presença generalizada de novas tecnologias digitais, como a Inteligência Artificial.
Henrique Frota, presidente do C20 e diretor da Abong (Associação Brasileira de ONGs), explicou que o número alto de inscrições é resultado tanto do trabalho de mobilização que o grupo de engajamento vem desenvolvendo fortemente na última década, como também do fato da cúpula deste ano acontecer no Brasil, um país conhecido internacionalmente pela abertura à participação social. “Não dá pra negar que o fato de ser no Brasil é um incremento fundamental para o interesse das organizações”, disse Frota. As inscrições seguem abertas até o próximo domingo (25), no site oficial do grupo de engajamento.
Em 2024, o clima é favorável para a sociedade civil. Uma das prioridades levantadas pelo governo federal no evento deste ano é a maior valorização da participação desse setor nas discussões dos líderes. Para isso, foi criado o G20 Social, que também contará com um evento oficial, chamado de Cúpula Social, previsto para acontecer entre os dias 15 e 17 de novembro, às vésperas da Cúpula de Líderes do G20, as duas no Rio de Janeiro.
“Para a cúpula deste ano, sob a presidência brasileira, o próprio governo brasileiro, por meio do G20 Social, está prometendo ampliar a escuta das diversas vozes da sociedade civil”, destacou o presidente do C20.
Mas este não será um ano fácil. O evento acontece em meio a uma escalada de tensões vindas de conflitos territoriais e militares, como a guerra da Ucrânia e o conflito Israel e Hamas, além do aumento dos níveis mundiais de fome e endurecimento da crise climática. “A crise climática, a crise da fome e o aumento da pobreza no Sul Global são situações dramáticas com as quais o C20 já vem trabalhando há muito tempo e que no ano de 2024 devem continuar no centro do que a gente discute”, pontuou Henrique.
Os conflitos e tensões geopolíticas também foram abordados nesta semana durante a primeira reunião ministerial do G20, realizada no Rio de Janeiro. Na abertura do evento, na quarta-feira (21), o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, pediu que membros do bloco econômico rejeitem o uso da força, bem como a manipulação em massa de mídias sociais.
Digital retoma destaque com C20 brasileiro
A digitalização e as novas tecnologias digitais serão um dos dez temas que formarão os grupos de trabalho do C20 deste ano. Nesse eixo temático, é esperado o debate de questões relacionadas à educação digital, governo aberto, Inteligência Artificial e regulação. Ainda de acordo com Henrique Frota, as discussões terão visão crítica, buscando entender os “efeitos da digitalização da vida humana hoje em dia, sempre numa perspectiva voltada aos direitos humanos”.
Frota também lembra que a temática do digital já esteve presente nos anos anteriores, mas perdeu força nas últimas edições do C20. Com o Brasil na presidência, a pauta do digital retomou novamente o destaque, muito em razão, segundo o ativista, pelo acúmulo de organizações brasileiras e latinoamericanas que estão acompanhando o tema da acessibilidade e do acesso às tecnologias digitais.
Segundo o presidente do C20, com o encerramento das inscrições, no próximo domingo (25), o grupo começa a se preparar para definir os facilitadores dos eixos temáticos. Em março, espera-se que as informações sejam publicadas e o coletivo inicie efetivamente a produção de conteúdos e proposições a serem levadas aos líderes do G20. Calendários específicos de cada um dos 10 grupos de trabalho também serão elaborados e divulgados posteriormente.
Organizações lançam caderno com orientações sobre G20
Para ajudar as pessoas a compreenderem as dimensões do G20, a BRICS Policy Center em conjunto com a Rede Jubileu Sul Brasil lançaram, nesta sexta-feira (23), um ebook explicando como funciona o fórum de cooperação internacional. O “Caderno para entender o G20”, de autoria das pesquisadoras Ana Garcia e Marta Fernández, tem o objetivo de familiarizar os cidadãos e participantes do evento sobre os significados das diversas nomenclaturas que estão em torno do fórum.
Termos como “Trilhas”, “Sherpas” e outras siglas são apresentadas de forma clara, acompanhadas também de análises contextuais sobre as possibilidades da presidência brasileira em 2024. A publicação contou com a colaboração de estudantes, pesquisadores, e organizações da sociedade civil como a Abong (Associação Brasileira de Organizações Não Governamentais), REBRIP (Rede Brasileira Pela Integração dos Povos) e INESC (Instituto de Estudos Socioeconômicos).