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O que esperar para o jornalismo em 2024?

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O Instituto Reuters lançou na semana passada o seu já tradicional relatório com as tendências e algumas previsões sobre jornalismo, mídia e tecnologia para 2024. Após um ano desafiador, a pesquisa da instituição ligada à Universidade de Oxford mostra que menos da metade dos editores de notícias (47%) está confiante sobre as perspectivas do jornalismo para este ano. A pesquisa foi realizada com 314 líderes de veículos noticiosos de 56 países, incluindo o Brasil. 

Os editores mais confiantes acreditam que 2024, por ser um ano com grandes eventos políticos – acontecerão mais de 50 eleições no mundo – e esportivos, como os Jogos Olímpicos, o número de usuários engajados com o jornalismo pode aumentar, ao mesmo tempo que se pode diminuir a fragmentação do público e a esquiva das notícias, fenômeno que vem preocupando os jornalistas nos últimos anos. 

“As eleições proporcionam muitas vezes um impulso temporário ao tráfego, mas existe também o risco de que políticas divisionistas e polarizadas possam minar ainda mais a confiança nos meios de comunicação social”, declara o relatório assinado por Nic Newman. Em entrevistas, os editores falaram do aumento do ceticismo em relação aos meios de comunicação tradicionais e do medo de que a polarização e a falta de literacia midiática prejudiquem o jornalismo a médio prazo.

Outra grande preocupação dos jornalistas se refere ao tráfego das redes sociais, ou seja, o quanto os usuários das plataformas realmente acessam os sites jornalísticos. De acordo com o relatório, o tráfego para sites de notícias do Facebook caiu 48% em 2023, o do Instagram 10% e o do X (ex-Twitter) diminuiu 27%. Quase dois terços (63%) dos entrevistados dizem estar preocupados com esse declínio.

O Instituto Reuters também indica duas mudanças nessa relação que trazem desafios para o jornalismo em 2024. A primeira destaca a transição de hábitos, em que muitas pessoas passam a conversar sobre notícias e política em espaços privados, como aplicativos de mensagens. A outra fala sobre o fortalecimento de redes como TikTok e YouTube e as mudanças na criação e distribuição dos conteúdos. 

“Isto é um desafio para muitos editores de notícias, em parte porque o vídeo não é o seu conjunto natural de competências e, em parte, porque oferecem poucas oportunidades de ligação a websites de notícias onde possam rentabilizar o conteúdo. Muitas organizações de notícias tradicionais também lutam para obter visibilidade, em comparação com jovens criadores que conhecem a linguagem e as convenções da plataforma”, explica a pesquisa.

Para driblar alguns dos desafios, mais de três quartos (77%) dos editores entrevistados afirmam que vão se concentrar mais nos seus próprios canais diretos no próximo ano, na criação de conexão direta com os consumidores por meio de sites, aplicativos, newsletters e podcasts – canais sobre os quais eles têm mais controle. 17% dos editores devem gastar mais em marketing e 20% colocarão mais esforços em plataformas alternativas.

No entanto, os esforços das redes sociais também serão considerados neste ano. Mais especificamente, os editores dizem que irão colocar mais esforços no WhatsApp e no Instagram. O interesse em redes de vídeo como TikTok e YouTube também permanece forte, ao contrário do Facebook e do X.

Instituto Reuters

Inteligência artificial e jornalismo

O avanço da Inteligência Artificial em 2023 também traz significativos desafios para o jornalismo em 2024. Um deles se refere aos sistemas de busca, isso porque pode haver uma redução ainda maior no tráfego gerado a partir de sites de pesquisa. Com a IA, as ferramentas estão começando a fornecer respostas diretas a consultas, em vez de mostrar a lista tradicional de links para sites, que leva aos sites de notícias.

“Mas não se trata apenas de pesquisa na Internet. Veremos este ano uma proliferação de assistentes de IA conversacionais integrados em computadores, telefones celulares e até carros que vão mudar a maneira como descobrimos conteúdo de todos os tipos”, alerta o relatório.

O relatório do Instituto Reuters prevê que, como consequência disso, as batalhas por direito autoral para o treinamento de IA generativa devem aumentar em 2024 no campo do jornalismo. Uma pesquisa em andamento do instituto sugere que cerca de metade dos principais editores já pararam de permitir que grandes plataformas de IA acessassem o seu conteúdo. “Ao remover a permissão, os editores ficam em melhor posição para fazer acordos com as plataformas”, avalia o centro.

Apesar de vários veículos pensarem em fazer acordos com plataformas de IA, não existe muito otimismo quanto ao compartilhamento de valores. 35% dos entrevistados pelo Instituto Reuters acreditavam que a maior parte do dinheiro iria para grandes editoras e 48% consideraram que, no final das contas, haveria muito pouco dinheiro para qualquer editora.

A pesquisa também avaliou o uso de IA pelas redações, 56% acreditam que tarefas de automação de back-end (como transcrição e edição de texto) serão importantes para o seu veículo em 2024, 37% analisam a melhor oferta de recomendações e 28% destacaram como muito importante a criação de conteúdo por IA com supervisão humana, como resumos e manchetes, por exemplo.

Além disso, o Instituto Reuters investigou como os editores analisam o impacto da IA na confiança em notícias. A maioria deles acredita que a tecnologia tem um impacto negativo: 31% acham que diminui muito a confiança e 39% que diminui um pouco. Apenas 16% analisam que a IA aumenta a confiança em notícias. 

Evitação seletiva

Assim como no ano passado, a fadiga das notícias e, consequentemente, a esquiva seletiva do conteúdo noticioso continuam sendo uma preocupação para os editores. “É realmente deprimente – preocupa-me que o jornalismo, enquanto negócio, tenha sido muito lento para reorientar e repensar o seu papel e propósito. As pessoas não sentem falta do jornalismo. Mas o jornalismo sente falta das pessoas”, disse Lea Korsgaard, editora-chefe do Zetland, na Dinamarca.

Já o diretor de receitas da Tamedia (Suíça) disse à pesquisa que “a evitação de notícias está aumentando na Suíça, o que precisamos combater com novas abordagens, tópicos e formatos jornalísticos”. Para esse combate, 76% pretendem estabelecer melhores formas de explicar questões complexas, 44% querem fornecer notícias que não apenas apontem problemas, mas que ofereçam soluções potenciais e 43% devem produzir histórias humanas mais inspiradoras.

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