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Notícias falsas estão segmentadas e circulam mais rápido que em 2018

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“Já se consolidou no Brasil um processo mais profissional de produção e circulação de Fake News se comparado a 2018. Elas estão cada vez mais especializadas em termos de conteúdo e com mais capilaridade. Isso torna a situação cada vez mais complexa”, avaliou Rodrigo Carreiro, diretor do Aláfia Lab e pesquisador do INTC.DD ao participar do debate “As fake news impactaram o resultado do primeiro turno?” promovido pelo *desinformante na última quinta-feira, 6 de outubro. 

O debate, que está disponível na íntegra no canal do *desinformante no Youtube, contou também com a participação de Nina Santos, coordenadora acadêmica do *desinformante, Pedro Prata, editor do Estadão Verifica e Magali Cunha, pesquisadora e editora-geral do Coletivo Bereia, que é uma iniciativa de checagem no contexto da fé cristã.

A pauta religiosa ganhou destaque no processo de disputa desinformativa nesse primeiro turno. É de Magali Cunha a análise de que a pauta focada na “cristofobia” ganhou força em 2022, utilizada como instrumento para diminuir a influência do candidato Lula no campo cristão, particularmente o evangélico. Aliada a ela, a pauta moral retorna com força, mas focada nas mulheres “principalmente com a entrada de Michelle [Bolsonaro] e Damares [ex-ministra e senadora eleita] na campanha, nós conseguimos acompanhar esse fortalecimento da pauta de perseguição aos cristãos e a pauta moral com foco nas mulheres, que são chefe de família, marcando a recuperação de Bolsonaro”.

Pedro Prata, do Estadão Verifica, corrobora essa análise, informando que “no nosso monitoramento de redes, nós enxergamos o que a Magali falou, o discurso de fechamento de igrejas etc.”, o que incluiu casos de utilização de descontextualização para atacar determinados candidatos que, durante a pandemia e devido a ela, restringiram a realização de cultos presenciais.

O editor do Estadão Verifica relatou que antes do pleito havia muita desinformação atacando os candidatos, programas de governo e pesquisa eleitoral, tentando descredibilizá-las. Chegando perto do dia da eleição, intensificaram-se as desinformações sobre as urnas e o processo eleitoral, como a fake news que circulou sobre a suposta proibição do uso da camisa da Seleção Brasileira pelos eleitores. “Após o pleito nós percebemos um aumento grande de desinformação, com ‘casos’ de discrepância de assinaturas, de Boletins e Urnas achados nas ruas etc., discrepância entre aptos a votar e votos computados etc.”. Para o jornalista, as fake news sobre o processo eleitoral seguem sendo as mais perigosas, contando com a polarização imposta entre candidatos no segundo turno.

“Quem espalha desinformação contra o processo eleitoral já tem uma desconfiança da Justiça Eleitoral, e daí cria uma dificuldade porque a checagem que fazemos é com a própria Justiça Eleitoral”, salienta Pedro Prata.

“Até as vésperas das eleições, tínhamos a impressão de que estávamos em um cenário melhor do que 2018, com alguns avanços nas plataformas, no TSE e na cultura política da população” aponta Nina Santos, para alertar, entretanto, que houve um crescimento muito grande de determinados discursos desinformativos logo antes e logo após o dia 2 de outubro, incluindo o da pauta religiosa que se fortalece nesse período, seguindo agora nesse início de campanha de segundo turno. A pesquisadora destaca ainda que o impacto da desinformação nesse primeiro turno pode ser delimitado em quatro eixos, que, além do aspecto religioso, se estabelecem pelo questionamento à integridade do processo eleitoral, pela questão moral e de gênero e pela ilação da relação entre o candidato do Partido dos Trabalhadores com facções criminosas.

Diferença das pesquisas e resultado

João Brant, coordenador-geral do *desinformante e mediador da mesa, perguntou aos convidados se acreditavam que esse reforço na circulação da desinformação nas vésperas do dia da eleição impactou nos votos efetivamente dados nas urnas, o que poderia explicar a diferença entre a projeção das pesquisas e intenção de voto e o resultado efetivo da votação.

Para Nina Santos, houve um deslocamento de votos nesses últimos momentos, justificando sua análise pela “modificação no padrão de comunicação, no nível das mensagens e no nível de circulação da desinformação”. Rodrigo Carreiro concordou, e acrescentou ser necessário pensar as eleições como um processo, como etapas, e que “na reta final essas fake news tenham circulado com mais força até porque, historicamente, as pessoas decidem o voto na última hora”. Magali Cunha trouxe o elemento do reforço da campanha para se impedir que o candidato Lula vencesse, utilizando-se do pânico moral e, paradoxalmente, das pesquisas que apontavam o candidato como favorito.

Os desafios para o segundo turno e o papel das plataformas

“A eleição vai passar e as plataformas vão continuar ali, a gente vai continuar usando. As plataformas deveriam estreitar mais as relações com as agências de checagem, muitas podem até criar suas agências, e coibir as principais fake news”, recomendou Rodrigo Carreiro, acrescentando que é necessário focar nos principais canais de circulação de desinformação, os quais “elas sabem quais são”.

Nina Santos fez um apelo às plataformas para que preparem um sistema especial para a véspera do segundo turno, já que no dia da eleição do primeiro turno a resposta das plataformas ainda foi muito lenta, muito problemática. “É essencial que elas tenham um esquema de trabalho nesses últimos dias para que as coisas efetivamente aconteçam na velocidade necessária.”

Pedro Prata reforçou que as pessoas precisam desconfiar do que circula e devem buscar agências de checagem. Foi o conselho também dado por Magali Cunha, que acredita que tanto as plataformas quanto o Tribunal Superior Eleitoral devem ser mais pressionados a adotarem medidas eficazes no combate às fake news.

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