Em uma das mesas mais concorridas do evento paralelo do G20 sobre integridade da informação, nesta quarta-feira (1), a jornalista e ganhadora do Nobel da Paz, Maria Ressa, contou como foi alvo de ataques misóginos na Internet nos últimos anos e as tendências da desinformação atuais. A filipina defendeu a necessidade de regulação das plataformas, alertou sobre os perigos da IA generativa e sugeriu caminhos de fortalecimento do jornalismo de qualidade.

Ressa foi alvo de dezenas de peças pejorativas, que utilizavam sua aparência como combustível de ataques, e de desinformação nos últimos anos. “Minha mãe mandou esse conteúdo pra mim”, apontou a jornalista para uma imagem de ódio com o próprio rosto produzida pelas redes filipinas de desinformação.

“As mulheres estão sob ataque no mundo inteiro, a mulher é um alvo, jornalistas, ativistas e que estão na política”, afirmou Ressa. “Protejam as mulheres aqui”. 

De acordo com Ressa, as principais tendências de redes desinformativas passam primeiro pelo trabalho de pessoas influentes não políticas responsáveis por espalhar narrativas conspiracionistas em grupos diferentes, rompendo bolhas e câmaras de eco e fazendo com que os discursos desinformativos cheguem a mais pessoas. Essas redes também rejeitam conteúdos da mídia tradicional e de checadores de fatos.

Além disso, há também a distorção de conceitos usados pelos direitos humanos e o uso de discursos que apelam à emoção em contraposição aos discursos racionais levantados pelos movimentos progressistas.

“A indústria menos regulada”

Quando questionada sobre a necessidade de regulação de plataformas e de IA, Ressa afirmou: “nós precisamos parar a impunidade”. Esse caminho, de acordo com ela, passa por reconhecer que as leis do mundo físico também devem valer para o mundo digital, um dos principais argumentos levantados pela jornalista nos últimos anos.

Além disso, ela também defendeu que os Estados Unidos revoguem a Seção 230 da Lei de Decência nas Comunicações, atualmente questionada no país, que garante a isenção das plataformas digitais em relação às publicações que circulam em seus ambientes e é atualmente o principal escudo legal para as bigtech. De acordo com Ressa, compreender as plataformas como mera infraestrutura “não é verdade, os algoritmos escolhem quem recebe os conteúdos”. 

Sobre os impactos das IAs generativas, a jornalista afirmou que as empresas “não estão preocupadas se as respostas [fornecidas pelas tecnologias] estão erradas”. De acordo com ela, “a IA não vai te assegurar que a informação é íntegra, por isso precisamos de regulação. Essa é a indústria menos regulada que existe”.