A ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, participou, ontem, (1/5) do painel sobre “Integridade da informação como fundamento da luta contra a mudança climática”, no evento paralelo do G-20. A ministra ressaltou que “todos os dias combatemos todas as formas de desinformação”, e que muitas vezes o preconceito e o discurso de ódio contra os povos originários acaba resultando em mortes.
“Temos citado um caso que aconteceu na Bahia quando um grupo de pessoas armadas, que são milicias que se articulam pelas redes sociais, cercaram e ameaçaram povos quilombolas e indígenas. O que chamam de invasão para nós é retomada de um território”, afirmou a ministra.
Se o negacionismo climático ainda é uma realidade, segundo Guajajara, o negacionismo sobre o protagonismo dos povos indígenas na conservação ambiental é ainda maior.
Além de desmentir as fakes news sobre o assunto, a ministra ressaltou a importância de se colocar em prática a Lei 11.845 que tornou obrigatório o ensino afro-indígena no ensino fundamental, o que ainda não acontece plenamente nas escolas brasileiras. “Buscamos aproximação com o MEC porque as escolas dizem que não estão preparadas para discutir o tema nas escolas. Mas precisamos trazer também para o ensino superior”.
O pesquisador e diretor de análise do Instituto Democracia em Xeque, João Guilherme Bastos dos Santos, abordou a necessidade de políticas públicas que possam contribuir para o combate à desinformação ambiental. Segundo ele, muitas vezes o público mais vulnerável a estas informações falaciosas não é contemplado por checagem de fatos ou jornalismo de qualidade. “Não basta dizer que é mentira. O outro lado tem os próprios jornalistas e cientistas que colocam em questão os consensos da comunidade científica, isso é muito mais complexo do que desmentir”, alertou.
A pesquisadora e diretora do NetLab da UFRJ, Marie Santini, mencionou a precariedade da cobertura da mídia sobre a questão ambiental. “A mídia hegemônica tradicional não se aprofunda em outros atores envolvidos na desinformação climática e ambiental quando se fala de Amazônia, principalmente. Melhorar o jornalismo é fundamental”, afirmou.
O NetLab monitorou 900 veículos de comunicação locais na Amazônia e verificou que alto índice de reprodução de conteúdos de assessorias de políticos locais e agências de notícias ligadas ao agronegócio predatório. No Mato Grosso, revelou Santini, o índice de reprodução de notícias chega a 95% dos veículos.
Esta situação se agrava, continuou Santini, com as campanhas desinformativas sobre o tamanho do agronegócio no Brasil e a minimização da sua atividade predatória. Os aplicativos de mensagens Telegram e Whatsapp cumpririam papel importante na engrenagem desinformativa como ambiente de teste para as fake news ambientais, além da falha política de anúncios das plataformas digitais, que permite a disseminação das informações falsas.
O painel contou ainda com a participação de Angie Holan, Diretora (International Fact-Cheking Network), Antonia Gawel, Diretora Global, Sustentabilidade e Parcerias do Google, com moderação de Hannah Balieiro, Diretora executiva (Instituto Mapinguari, Brasil) e pode ser assistido no canal do G20 no Youtube.