No último domingo, o presidente dos Estados Unidos Joe Biden anunciou a desistência da candidatura à reeleição e endossou o seu apoio a Kamala Harris como candidata substituta pelo partido Democrata. No mesmo dia, informações falsas e descontextualizadas sobre a atual vice-presidente começaram a surgir nas redes sociais.
Momentos depois do anúncio de Biden, parlamentares republicanos, influenciadores de direita e apoiadores de Donald Trump afirmaram que a desistência de Biden teria sido resultado de um golpe dado por Harris e outros políticos do partido, conforme mostrou a Wired. O presidente da Câmara dos EUA, Mike Johnson, foi um dos que compartilharam o argumento falso, escrevendo no seu perfil do X que “o Partido Democrata forçou o indicado democrata a sair da cédula a pouco mais de 100 dias das eleições”.
Palavras semelhantes foram proferidas por Donald Trump no seu perfil da rede Truth Social. O candidato republicano afirmou que os democratas “roubaram a corrida” de Biden, após ele ser escolhido nas primárias pelos eleitores do partido. Ainda no domingo, Trump respondeu a notícia da desistência de Biden, afirmando à CNN que Harris seria “mais fácil de vencer”.
Apesar de Biden ter sido até então o principal nome democrata para concorrer às eleições presidenciais deste ano, sua candidatura ainda não estava oficializada. A decisão final da chapa é feita apenas nas convenções do partido, que estão marcadas para acontecer no próximo mês em Chicago. Vale lembrar que Kamala Harris, apesar de ter o endosso de Biden, ainda pleiteia apoio para conseguir a nomeação oficial no evento de agosto.
Teorias da conspiração em torno da decisão de Biden também foram anunciadas por representantes republicanos, como a congressista da Geórgia, Marjorie Taylor Greene, a qual afirmou que um golpe foi dado em meio a uma “guerra civil” por um “estado profundo”, termo bastante proferido pelo grupo QAnon, conhecido por respaldar conspirações e desinformação em apoio a Donald Trump. Além disso, Greene afirmou que Biden e sua família teriam sido subordinados para que o político tivesse desistido da corrida presidencial.
Em outro caso, eleitores democratas resgataram um vídeo de uma campanha de 2019 de Harris, em que ela se dizia preparada para vencer Donald Trump. A peça, porém, circulou no X como se fosse um material publicitário inédito, dando a entender que a vice-presidente teria uma campanha pronta. “A campanha de Harris já lançou seu primeiro anúncio, muito rápido”, escreveu um perfil republicano na rede de micromensagens.
Semana passada, Donald Trump também foi alvo de teorias da conspiração após sofrer um atentado no dia 13 de julho. Dúvidas sobre o episódio, questionamentos sobre quem estava por trás do ataque e até contestações sobre a legitimidade do tiro sofrido foram algumas das estratégias que alimentaram publicações desinformativas.
Harris é alvo de montagens nas redes
A organização internacional Maldita.Es, especializada no combate à desinformação, encontrou peças desinformativas que circulam desde domingo nas redes envolvendo Kamala Harris. Em uma das postagens, uma montagem da vice-presidente em versão masculina sugeria que ela seria uma mulher transsexual nascida no exterior. “Você conhece este homem? Seu nome é ‘Kamal Aroush’. Ele nasceu em Bengasi. Kamal se tornou Kamala”, dizia o conteúdo.
A identidade de Kamala Harris também foi alvo de desinformação em diversas postagens que questionaram a negritude da candidata. A hashtag “Ela é indiana” chegou aos tópicos mais falados no X, segundo a CNN. A mãe de Harris nasceu na Índia e seu pai nasceu na Jamaica.
Imagens editadas buscaram mostrar a vice-presidente ao lado de figuras como Jeffrey Epstein, financista acusado de tráfico e assédio sexual. Em outro vídeo, que mostra Harris se vacinando contra a Covid-19, sugere que a democrata teria recebido uma seringa sem agulha, dando a entender que ela não tinha sido imunizada contra a doença. O vídeo em alta definição, porém, mostra a presença da agulha.