As manifestações golpistas e antidemocráticas que se espalharam pelo país após o segundo turno das eleições presidenciais também são marcadas por ataques a jornalistas. Neste domingo (8), enquanto invadiam o Congresso Nacional, o STF e o Palácio do Planalto, participantes dos atos de vandalismo agrediram uma repórter fotográfica do portal Metrópoles com socos e chutes. A profissional também teve seus equipamentos roubados.
Um jornalista do jornal O Tempo compartilhou o que viveu no domingo. Ele ficou cerca de 30 minutos em cárcere, teve o celular e a mochila tomados e alguns itens, como crachá e bloco roubados, além de ser agredido fisicamente com tapas, chutes e socos. O repórter também foi ameaçado de morte com uma arma de fogo, pediu ajuda a policiais, mas foi ignorado.
De acordo com o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Distrito Federal, pelo menos oito profissionais de diferentes veículos foram feridos no exercício da profissão. Marina Dias, jornalista que atuava cobrindo os atos para o jornal estadunidense The Washington Post, também relatou agressões.
No sábado (7), outros profissionais foram agredidos por bolsonaristas em Belo Horizonte, durante desmonte de acampamento, no mesmo local onde outro repórter já havia sido agredido pelos radicais antidemocratas.
A semana toda, na verdade, foi de ataques a jornalistas. No dia 6 de janeiro, a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) alertou para sete registros de violência política contra jornalistas no exercício da profissão em 2023 perpetrados por manifestantes antidemocráticos.
Em Porto Alegre (RS), um repórter cinematográfico da RDC TV foi agredido no dia 3 por um vereador, com um tapa na cara, ao tentar fazer reportagem sobre o acampamento de manifestantes bolsonaristas no entorno do Comando Militar do Sul. Outro episódio de violência também aconteceu em um acampamento, desta vez em Fortaleza. A agressão não foi verbal: uma equipe de reportagem da TV Jangadeiro foi hostilizada pelos manifestantes.
A associação, em parceria com a Federação Nacional dos Jornalistas, havia publicado no início do ano um levantamento sobre a violência política e contra a imprensa desde o fim do segundo turno das eleições, especialmente em acampamentos bolsonaristas. Do dia 30 de outubro até a posse do presidente Lula, em 1º de janeiro, foram 70 ocorrências registradas, entre hostilização, agressões físicas, ameaças, além de disparo de tiros em uma sede de veículo de imprensa e incêndio em uma rádio. Os episódios ocorreram em 19 estados e no Distrito Federal.
“A Abraji e a Jeduca repudiam de forma veemente a invasão e os ataques aos poderes e à imprensa, e se solidarizam com os jornalistas agredidos, seus familiares e colegas. E exortam as autoridades públicas a identificar e responsabilizar os culpados pelas tristes cenas registradas no coração político do Brasil”, destacou a organização em nota conjunta com a Associação de Jornalistas de Educação sobre os ataques ocorridos no domingo (8).