Atacado pelo presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro, desde o início do seu mandato, o jornalismo profissional teve um papel importante na campanha eleitoral, não mais decisivo, como acontecia antes de a internet capturar boa parte do debate público. E aí vai estar o desafio para as próximas eleições: como plataformas de tecnologia e jornalismo podem trabalhar em conjunto para defender democracias.
Jair Bolsonaro atacou a imprensa dez vezes por semana durante o mês de outubro, na reta final da campanha presidencial, de acordo com análise feita pela Folha em mensagens que ele publicou nas redes sociais, pronunciamentos e entrevistas.
O clima de medo e ameaças, com certeza, pairou sobre a cobertura jornalística das eleições. Um dos destaques deste cenário violento foi a ofensiva desferida por Bolsonaro à jornalista Vera Magalhães, da TV Cultura, escalada para uma pergunta ao então candidato, em debate do primeiro turno transmitido na TV aberta.
Os tradicionais debates na TV aberta conseguiram boa audiência, mas o que os candidatos protagonizaram ficou longe da discussão de ideias e propostas de governo e mais próximo de um grande bate-boca e desmentidos de fake news. Por outro lado, as entrevistas individuais dos candidatos para programas no formato podcast em canais do Youtube amealharam audiência de milhões e permitiram aos candidatos explorarem melhor planos para o país, criando uma empatia do formato com os espectadores.
As agências de checagem cumpriram um papel importante neste sentido, realizando a verificação das falas dos candidatos nestas ocasiões de debates e entrevistas. Mas o alcance do conteúdo desmentido, já explicaram os pesquisadores, têm alcance muito menor que a velocidade das declarações falsas nas redes.
Antes do último debate entre os dois candidatos à presidência, a agência Lupa sintetizou os principais temas alvos de fake news que deveriam ser repetidos pelos candidatos, numa estratégia de imunização informacional. Além disso, a Agência convocou encontros com especialistas, antes dos debates na TV, para tentar antecipar o que viria a seguir e preparar a audiência para eventuais conteúdos desinformativos. Novas estratégias para novos formatos de consumo de informação.
Nas redes, alguns usuários chegaram a pedir por checagem em tempo real, tamanho o volume de fake news proferidas pelos candidatos nos espaços concedidos pelas TVs.
A mídia tradicional bem como a nativa digital aumentaram os espaços consolidados para a desinformação, com destaque para a cobertura da jornalista Patrícia Campos Mello, no jornal Folha de S. Paulo, e Marlen Couto, no jornal O Globo. Agência Pública e Núcleo Jornalismo também ampliaram esforços para desvendar as tramas da desinformação na campanha eleitoral. O tema também alcançou espaços na TV por assinatura, com participação de pesquisadores e jornalistas especializados no tema.