A conta da primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja, no X (antigo Twitter) foi hackeada na noite desta segunda-feira (11). O hacker publicou textos de cunho sexual e ofensivo às mulheres, além de ofensas à honra do presidente Lula. A Polícia Federal instaurou investigação para apurar a invasão e a plataforma foi acionada pela Advocacia-Geral da União, que solicitou a identificação dos responsáveis. A Secretaria de Comunicação Social emitiu nota repudiando o ataque e destacando seu caráter misógino. “Todas as medidas cabíveis estão sendo tomadas. Não serão tolerados crimes, discursos misóginos, ódio e intolerância nas redes sociais.”
A violência política contra mulheres em cargos ou posição de poder é uma constante nas redes sociais. Janja foi um alvo preferencial durante a campanha presidencial de 2022. Ela e a esposa do então presidente, Michelle Bolsonaro, foram atacadas com discursos violentos.
Janja da Silva recebeu ao menos 799 ataques e Michelle Bolsonaro 273 em apenas dois meses de levantamento realizado pelo MonitorA, observatório de violência política online desenvolvido pela Revista AzMina, InternetLab e Núcleo Jornalismo.
E ataques pelo Twitter não são novidade. Durante o período analisado no ano passado, a misoginia foi a categoria que mais apareceu entre os ataques — quase um terço das ofensas a Janja no Twitter.
O debate sobre as mulheres que possuem influência no mundo político ainda se pauta em valores morais e estéticos, apontou um outro levantamento, realizado pela Escola de Comunicação, Mídia e Informação da Fundação Getúlio Vargas (ECMI-FGV) em parceria com FGV Direito Rio, Democracy Reporting International (DRI) e a Agência Lupa. O estudo mapeou publicações sobre o tema no Twitter, Facebook e Telegram entre 13 de janeiro e 13 de fevereiro de 2023.
Apesar da aprovação da Lei de Violência Política em 2021, a punição para este tipo de crime ainda é um desafio para a sociedade brasileira.
Kristina Wilfore, cofundadora da organização global #ShePersisted, voltada para a defesa da democracia e direitos das mulheres, acredita que “a radicalização da extrema direita combinada com a misoginia em grande escala no Brasil são impulsionadas pelo design das plataformas de mídia social, que desempenharam um papel inegável no crescimento de comunidades misóginas online, que atacam as mulheres líderes como uma tática para minar a democracia e a pauta das mulheres”.
“Embora os alvos de tais ataques, incluindo a primeira-dama Janja da Silva, permaneçam resilientes, o Brasil deveria tomar medidas mais fortes para responsabilizar as empresas de tecnologia pela falta de segurança e supervisão dos seus produtos”, alerta Wilfore.
Regulação das plataformas volta ao debate
O ministro Silvio Almeida reagiu, no próprio X, pedindo a regulação das plataformas sociais como providência “urgente e essencial”. “Mais uma vez, as redes sociais demonstram não ter nenhum compromisso com o usuário, seja ele quem for. Aqui as pessoas são completamente livres para ofender umas às outras, difamar e caluniar, sem nenhum tipo de consequência ou responsabilização. O resultado é dor, sofrimento e danos irreversíveis à reputação e até à saúde mental. A regulação das plataformas é providência urgente e essencial.”
O deputado federal André Janones também pediu urgência para a aprovação do 2630. “Um hacker teve acesso a conta da primeira dama do Brasil, fez posts misóginos e destilou ódio e a plataforma não ofereceu nenhum suporte. Sabe por que? Porque ela não tem nenhuma responsabilidade. Faz-se necessário a aprovação do PL 2630 o mais rápido possível. As bigtechs devem ter responsabilidades com a segurança digital e com tudo que é disseminado em suas plataformas.”
O relator do PL 2630, deputado Orlando Silva (PCdoB-SP), engrossou o coro se dirigindo ao presidente Lula:
Mas também houve vozes dissonantes sobre a regulação para combater misoginia, como a do professor e pesquisador do INCT.DD, Wilson Gomes, que comentou: