Estimular a segurança do ambiente digital, principalmente com o rápido desenvolvimento dos sistemas de Inteligência Artificial e a disseminação de desinformação online, foi um dos principais temas da terceira reunião do Grupo de Trabalho de Economia Digital do G20 (DEWG, na sigla em inglês), finalizada nesta quinta-feira (13) na cidade de São Luís, no Maranhão. Proteção de dados e investimentos em infraestrutura digital também foram discutidos no evento, que reuniu representantes governamentais, da academia e de organizações internacionais.
Na segunda-feira (10), primeiro dia de atividades, foi realizado um seminário sobre segurança cibernética, com o objetivo de discutir as formas de proteção ao cidadão dos riscos vindos das tecnologias digitais. O tema é transversal aos quatro eixos prioritários do grupo: conectividade universal e significativa, integridade da informação, governo digital e IA.
De acordo com Liina Arend, diretora do projeto europeu CyberNet, as ações de proteção devem ser centradas no ser humano e na educação. “Queremos que os usuários saiam da passividade e se tornem ativos na defesa de seus interesses”, afirmou a estoniana. “Nosso objetivo é empoderar as pessoas para que se protejam, combatam a desinformação, tenham consciência sobre o que consomem e em como utilizam os serviços digitais”.
O uso ético e a proteção de dados dos cidadãos, elemento importante no desenvolvimento de sistemas de IA, por exemplo, também esteve em pauta nas discussões do grupo. A promoção da educação crítica sobre consumo midiático foi avaliada como uma saída para a criação de um ambiente online mais seguro e confiável, de forma que os cidadãos consigam proteger as informações pessoais.
O diretor da Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD), Arthur Sabbat, destacou a importância da educação midiática neste cenário. “A área de proteção de dados é um assunto que interessa a todo mundo, não é algo só dos brasileiros”, avaliou Sabbat.
Uso ético dos dados
O tema da proteção de dados também está sendo encabeçada pela sociedade civil global, que nesta semana levantou a necessidade de inclusão de um grupo de engajamento específico sobre dados, o Data20 (D20). “Juntamente com outros atores da sociedade civil e grupos de reflexão envolvidos no G20, identificamos uma necessidade e uma oportunidade críticas para que o G20 lidere uma abordagem mais coesa e global para discussões intersetoriais e intergovernamentais sobre dados”, trouxe o manifesto assinado por Bruno Bioni, diretor executivo da Data Privacy Brasil, Astha Kapoor, co-fundadora do Aapti Institute, e Stephanie Diepeveen, pesquisadora associada na Universidade de Cambridge.
O debate sobre uso ético de dados para treinamento de sistemas inteligentes esquentou nesta semana, quando diversos usuários descobriram que a Meta está utilizando postagens publicadas nas redes sociais para aperfeiçoar a sua IA. Uma forma de se opor ao uso dos dados pela empresa foi disponibilizada aos brasileiros.
Grupos de engajamento adiantam recomendações sobre IA
Na segunda-feira, também em São Luís, representantes de diversos grupos de engajamento em torno do G20, além de convidados de organizações da sociedade civil e da academia, participaram do evento “AI Summit: superando limites” realizado pelo T20 (Think Tank 20) para a discussão sobre governança nacional e internacional de IA.
Na ocasião, integrantes do W20 (Women 20), que discute questões relacionadas à gênero, e o B20 (Business 20), que reúne o setor empresarial, adiantaram algumas das recomendações estabelecidas em torno do tema da IA. A publicação dos documentos finais com as recomendações de grande parte dos grupos de engajamento está prevista para o final deste mês.
O W20, por exemplo, tomou como áreas prioritárias a equidade de gênero no desenvolvimento ético de IA e na educação sobre a tecnologia. O grupo recomenda que tecnologias que facilitam violências baseadas em gênero sejam consideradas nos escopos legislativos dos países e que impactos da tecnologia em meninas e mulheres sejam consideradas nos guias de práticas éticas de IA.
A promoção de iniciativas éticas de pesquisa, desenvolvimento e limpeza de dados, além da expansão de acesso à Internet significativo à meninas e mulheres também foram levantados.
Já o B20 listou três recomendações aos países integrantes do G20 que envolvem a promoção de uma conectividade significativa por meio de regulações e parcerias público-privadas, a proteção de indivíduos e organizações por meio da cibersegurança e da proteção de dados, além do controle responsável dos potenciais da IA.
O “AI Summit” foi organizado pelo Data Privacy Brasil, Ceweb.br e o Cebri (Centro Brasileiro de Relações Internacionais), com patrocínio da Microsoft.
Com informações da assessoria do G-20