Os ministros do G-20 endossaram as prioridades estabelecidas pelo governo brasileiro enquanto presidente do bloco neste 2024, incluindo a necessidade de reforma dos organismos de governança global (as outras duas se referem à sustentabilidade ambiental e social; e ao combate à fome e à pobreza).
No encerramento do encontro, que reuniu 32 chanceleres dos países membros (as maiores economias do mundo) e outros convidados, o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, fez uma avaliação positiva dos debates e destacou o consenso obtido para uma próxima reunião ministerial do G-20 em setembro, à margem da abertura da Assembleia Geral das Nações Unidas em Nova York, para promover um “chamado à ação” em favor da reforma da governança global.
“Todos concordaram quanto ao fato de que as principais instituições multilaterais – ONU, Organização Mundial do Comércio, Banco Mundial e Fundo Monetário Internacional, entre outras – precisam de reforma para se adaptarem aos desafios do mundo atual.”, afirmou o ministro.
Quanto à ONU, segundo ele, houve consenso da necessidade de inclusão de novos membros permanentes no Conselho de Segurança, sobretudo da América Latina e Caribe e da África. Sobre os bancos multilaterais de desenvolvimento e o FMI, também houve grande convergência sobre a necessidade de facilitar acesso a financiamentos aos países mais pobres, informou o ministro, bem como sobre a urgência de se aumentar a representatividade do Sul Global em sua governança.
As reuniões técnicas do G-20 no nível das forças-tarefas, grupos de trabalho e de engajamento também caminham nesta direção de valorização dos laços entre os países do Sul. A força-tarefa de Transformação Digital Inclusiva do T20 (Think Tanks 20), grupo de engajamento multissetorial com participação do setor privado, da academia, instituições e organizações dos países que formam o G20, tem forte presença de pessoas dos países do Sul Global, com 8 representantes brasileiros.
A importância de pautar o debate de governança digital internacional a partir do Sul Global, termo utilizado para designar o que antes era chamado de “países em desenvolvimento” ou “terceiro mundo”, é uma perspectiva que vem sendo colocada em destaque pelo governo federal, que busca consolidar as discussões sobre os principais temas atuais pelas lentes da equidade e da justiça social sob a ótica desses países.
Tensões geopolíticas
No primeiro dia de reunião do G-20, os ministros se debruçaram sobre o tema as tensões geopolíticas e o papel do G20 em relação aos conflitos, especialmente na Palestina e na Ucrânia.
Segundo o ministro Mauro Vieira, vários países reiteraram a condenação da guerra na Ucrânia e “grande número de países” expressou preocupação com o conflito na Palestina, destacando o risco de alastramento aos países vizinhos.
“Foi conferido especial destaque ao deslocamento forçado de mais de 1 milhão e 100 mil palestinos para o sul da Faixa de Gaza. Nesse contexto, houve diversos pedidos em favor da liberação imediata do acesso para ajuda humanitária na Palestina, bem como apelos pela cessação das hostilidades”, relatou Vieira.
Muitos se posicionaram contrariamente à anunciada operação de Israel em Rafah, segundo ele, pedindo que o governo de Israel reconsidere e suspenda imediatamente essa decisão.
O ministro destacou por fim uma unanimidade no apoio à solução de dois Estados como sendo a única solução possível para o conflito entre Israel e Palestina.