Foi registrado um crescimento de 35% nos golpes e fraudes nos anúncios realizados na Meta após a “polêmica do PIX” no começo do ano, em que narrativas desinformativas circularam a partir do anúncio de medidas de fiscalização sobre o modo de transação financeira, resultando na revogação das novas regras. Isso é o que revela o novo estudo do NetLab, Laboratório de Estudos de Internet e Redes Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), publicado no início do mês.
A pesquisa, que analisou 1.770 anúncios fraudulentos entre 10 e 21 de janeiro de 2025, destaca o crescimento alarmante de golpes e a manipulação de figuras públicas com Inteligência Artificial (IA). O laboratório já acompanha constantemente os anúncios fraudulentos na plataforma e percebeu que, com o assunto do PIX em alta, as peças de manipulação foram rapidamente moldadas para a nova narrativa.
De acordo com o relatório, os anúncios fraudulentos divulgavam supostos direitos a saques por parte da população: 95,5% (1.656) prometiam a liberação de dinheiro mediante pagamento prévio de uma suposta taxa de serviço ao governo, o que era falso. Esses conteúdos já utilizavam imagens falsas de políticos e outros atores relevantes e famosos para ludibriar os usuários.
“O anúncio da revogação da norma da Receita Federal, na tarde do dia 15 de janeiro, inspirou uma rápida mudança no conteúdo fraudulento impulsionado por anunciantes”, coloca o relatório. Rapidamente, em poucas horas, os anúncios fraudulentos começaram a utilizar deepfakes do deputado federal Nikolas Ferreira (PL/MG). Isso porque o político foi um dos protagonistas na pressão contra o governo e as medidas – o vídeo que publicou nas redes sociais chegou a mais de 320 milhões de visualizações, o que é mais que o dobro que a população brasileira.
Assim, a imagem do deputado foi amplamente utilizada e manipulada. Como destaca o relatório, muitos anúncios tratavam a revogação da norma da Receita Federal como uma “vitória” popular, que deveria ser acompanhada de saques dos valores aos quais os cidadãos tinham direito. Um dos conteúdos mostra Ferreira “afirmando” que o Governo Federal estaria escondendo da população a possibilidade de resgate de valores esquecidos em instituições financeiras via Pix para que o próprio governo embolsasse essas quantias.
De acordo com a pesquisa conduzida pelo NetLab UFRJ, 31,7% dos anúncios encontrados usavam a imagem de Nikolas. Do total analisado, 70,3% dos anúncios analisados usaram imagens adulteradas com IA, incluindo deepfakes de outras figuras públicas. Além disso, outra estratégia comumente utilizada foi a falsificação de páginas governamentais, com 40,5% dos anúncios sendo veiculados por páginas que se passavam pelo Governo Federal.
O laboratório de pesquisa aponta que as fraudes como essas no Brasil prosperam por dois aspectos. “Primeiro, há no país uma vasta população ávida por oportunidades de ascensão social, que precisa de suporte e políticas públicas do Estado para mudar de vida , o que faz com que os mais necessitados se tornem um alvo prioritário de golpes online”, coloca o relatório. Em segundo lugar está o papel das plataformas digitais e as suas ferramentas de segmentação. Para o grupo de pesquisa, essas possibilidades vêm sendo usadas para “pescar suas vítimas ideias”.
Além disso, o grupo da UFRJ concluiu que os diferentes padrões de transparência e classificação de anúncios entre EUA e Brasil e que as mudanças nos termos de serviço da Meta no começo do ano e priorização do lucro geram preocupações sobre segurança digital.