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maio 23, 2025 | Destaques, Notícias

Autonomia digital e fomento à educação midiática marcam evento internacional em Brasília

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Com foco na construção de uma sociedade mais consciente, crítica e preparada para os desafios do mundo digital, teve início nesta quinta-feira (22) o 3º Encontro Internacional de Educação Midiática. Realizado presencialmente na Casa Thomas Jefferson, em Brasília, e com transmissão ao vivo pelo canal Futura no YouTube, o evento reúne especialistas, educadores, gestores públicos e representantes da sociedade civil para debater caminhos possíveis para ampliar o acesso à educação midiática no Brasil.

Sob o tema “Autonomia e pensamento crítico para toda a sociedade”, o encontro, que é promovido pelo Instituto Palavra Aberta, reflete sobre a urgência de formar cidadãos capazes de lidar com o excesso de informação, a desinformação e os impactos das tecnologias nas diferentes etapas da vida.

Em um ano no qual o tema da segurança online de crianças e adolescentes ganha destaque, o primeiro dia de atividades trouxe discussões sobre a importância de políticas públicas voltadas à formação de professores e inclusão digital, o papel das famílias na educação digital e a necessidade de incluir também a população idosa nos esforços de letramento midiático.

Mesa de abertura defende regulação e letramento midiático

O primeiro dia do evento começou com uma mesa de abertura que reuniu representantes do governo, da sociedade civil, de organismos internacionais e da academia. Em comum, os discursos reforçaram o papel estratégico da educação midiática para promover a autonomia digital, combater a desinformação e proteger os públicos mais vulneráveis.

Lúcia Maria Martins dos Santos, diretora-executiva da Casa Thomas Jefferson, falou sobre a urgência de preparar a sociedade para os desafios digitais com base na esperança de uma educação que promova justiça e democracia. Patricia Blanco, presidente do Instituto Palavra Aberta, destacou a importância de levar a educação midiática para dentro e fora da escola, alcançando todas as idades. “O receio do desconhecimento deve nos movimentar”, afirmou.

A secretária nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC) Pilar Lacerda e a senadora Teresa Leitão (PT/PE) alertaram para os riscos enfrentados por crianças e adolescentes online, defendendo regulação de plataformas e políticas públicas voltadas à proteção desses públicos. A senadora, que preside a Comissão de Educação e Cultura no Senado, também defendeu o PL 1010/2025, de sua autoria, que trata da educação midiática como política pública nacional. 

João Brant, secretário de Políticas Digitais da Secom, reforçou a atuação estatal com a atualização da Estratégia Brasileira de Educação Midiática e Iniciativa Global para a Integridade da Informação sobre Mudança do Clima, articulada para a COP30. Segundo ele, não é possível falar em integridade informacional sem abordar também a desinformação ambiental, fenômeno com potencial para atrasar decisões urgentes na agenda climática.

Adauto Soares, coordenador do setor de Comunicação e Informação da Unesco, lembrou que a alfabetização midiática fortalece a democracia e o acesso à informação. Já Katia Schweickardt, Secretária da Secretaria de Educação Básica  do Ministério da Educação, Daniela Garrossini, da Universidade de Brasília, e Roni Miranda, do Conselho Nacional de Secretários de Educação, enfatizaram o papel das escolas, universidades e redes de ensino na formação crítica e intencional sobre o uso das mídias, responsabilidade que deve ser compartilhada entre educadores, gestores e famílias.

Educação midiática como responsabilidade coletiva

A primeira palestra internacional do evento foi conduzida por Merve Lapus, vice-presidente da Common Sense Education. Com o tema “Respondendo ao momento global: o enfoque do Common Sense para a educação midiática”, Lapus apresentou um panorama sobre os impactos profundos da vida digital na formação de crianças e adolescentes, destacando a necessidade de uma resposta coletiva e coordenada.

Segundo ele, a educação midiática deve ser responsabilidade compartilhada entre escolas, famílias, governos e empresas de tecnologia, e deve abordar temas como saúde mental, bem-estar digital, desinformação e uso ético da inteligência artificial. Com base na atuação da organização, defendeu a adoção de currículos integrados e acessíveis, formação docente e desenvolvimento de habilidades críticas desde a infância.

Desafios etários e políticas públicas em debate

O painel “Educação midiática em todas as idades: o papel das políticas públicas” trouxe um panorama das ações governamentais para ampliar o acesso à educação midiática em diferentes etapas da vida. Representantes do MEC, SECOM, MDHC e do Conselho Nacional de Educação debateram os desafios e caminhos possíveis para garantir que a formação crítica sobre tecnologias e mídias se torne um direito de todos, da infância à velhice.

Ana Dal Fabbro (MEC), destacou três dimensões fundamentais da Estratégia Nacional de Escolas Conectadas: infraestrutura, competências digitais e formação de professores. “O objetivo é de conseguir olhar para as escolas e proporcionar uma igualdade no acesso às tecnologias, especialmente em regiões como a Norte e Nordeste”, afirmou. A gestora defendeu que a educação midiática precisa preparar os estudantes para compreender os mecanismos da inteligência artificial, o funcionamento das redes e a construção das informações no ambiente digital.

Também presente na mesa, David Almansa (SECOM/PR), anunciou o lançamento do Guia de Educação Digital e Midiática: como elaborar e implementar o currículo nas escolas, uma parceria com o MEC. Segundo ele, é essencial que as políticas alcancem territórios fora dos grandes centros urbanos, onde os desafios estruturais são ainda maiores.

Ampliando o olhar para além da educação básica, Kênio Costa (MDHC), reforçou a urgência de pensar a educação midiática como um direito também da população idosa, que representa uma grande parcela da população brasileira. “É preciso tirar a educação do eixo exclusivo da infância e adolescência, e incluir a EJA e a terceira idade nas estratégias formativas sobre tecnologias”, defendeu.

Já o conselheiro do CNE, Israel Batista, explicou o contexto de formulação da Política Nacional de Educação Digital, surgida no contexto da pandemia, quando os efeitos da desinformação, especialmente na área da saúde, evidenciaram a urgência de uma resposta institucional. “A expectativa é de que a lei seja efetiva, mas é um longo caminho a ser percorrido”, pontuou.

Práticas que conectam

Exemplos que vão do jornalismo estudantil à formação digital de idosos, passando por práticas inovadoras em escolas, universidades e organizações da sociedade civil. A mesa “Educação Midiática em todas as idades: experiências práticas” reuniu iniciativas que demonstram a potência da educação midiática como ferramenta de inclusão, cidadania e produção de conhecimento em diferentes contextos. 

Maíra Moraes (MultiRio), destacou a importância de integrar novas tecnologias ao processo educativo com intencionalidade pedagógica, não apenas como resposta às tendências digitais. A iniciativa Andar foi apresentada como um exemplo de rede colaborativa entre estudantes, professores e escolas para fortalecer projetos de jornalismo estudantil.

Já Bia Lima (Fundação Roberto Marinho) lembrou que o uso da mídia na educação pela FRM tem raízes no Telecurso e hoje segue vivo no Canal Futura, que aposta na produção de conhecimento com os territórios, a partir do vínculo e da autonomia.

Também participaram da mesa Fernando Paulino (UnB), que resgatou o histórico da educação midiática na universidade com projetos de extensão como o SOS Imprensa; Juliana Cunha (SaferNet), que compartilhou ações formativas em cidadania digital e segurança na internet para educadores e estudantes; e Meire Cachioni (USP60+), que relatou o impacto da educação midiática e da inclusão digital na vida de pessoas idosas, por meio de uma formação cidadã que valoriza o envelhecimento ativo.

>> Leia também: Como fazer educação midiática? Conheça alguns exemplos e se inspire! 

Premiação e olhar para o futuro da educação midiática no Brasil

O encerramento do primeiro dia contou com a entrega dos troféus da 2ª edição do Prêmio YouTube Educação Digital, que reconhece criadores de conteúdo educacional com vídeos selecionados para compor o YouTubeEdu. A cerimônia foi acompanhada de um painel sobre “Educação midiática e o papel dos criadores de canais de educação”, destacando como esses comunicadores têm contribuído para ampliar o acesso à informação de qualidade e promover o pensamento crítico nas redes.

A programação desta sexta-feira (23) começará com a palestra “Entender de forma crítica as mídias e o mundo digital é para todos”, com Safa Ghnaim, da Tactical Tech. Em seguida, serão apresentadas iniciativas brasileiras de educação midiática desenvolvidas em escolas, por organizações da sociedade civil e pelo poder público. Um dos destaques será a exposição da Estratégia Brasileira de Educação Midiática, com participação de Mariana Filizola, da Secretaria de Comunicação Social da Presidência (Secom/SPDig).

No período da tarde, será realizada a palestra internacional “Currículo do Hit Pause: encontrando seu público onde ele está”, com Brittani Kollar, do projeto MediaWise. O dia termina com atividades práticas e discussões aprofundadas, por meio de oficinas e rodas de conversa presenciais, que não serão transmitidas online. As vagas são limitadas e as inscrições devem ser feitas pelo site oficial do encontro.

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