Se as demissões em massa que marcaram a compra do Twitter pelo bilionário Elon Musk, no final de outubro, já preocupavam especialistas e a sociedade civil sobre a continuidade das políticas e diretrizes, os últimos acontecimentos na gestão da empresa apontam para um caminho ainda mais incerto.
Ontem (17), a imprensa internacional noticiou uma onda de demissões voluntárias entre os 2.900 funcionários que ainda restavam na empresa. Isso ocorreu logo após Musk dar um ultimato para aqueles que quisessem sair da plataforma sob sua gestão, que ele chamou de Twitter 2.0.
Como resultado, engenheiros remanescentes de diversas áreas, inclusive as mais importantes para o funcionamento da plataforma, como front-end e biblioteca de códigos, demitiram-se. Ao The Verge, alguns dos funcionários afirmaram que com essa debandada seria provável que a rede social começasse a quebrar em breve.
O Brasil já havia sido afetado pelas demissões em massa, no início do mês, quando cortaram integralmente a equipe nacional. “Neste momento, não há ninguém a quem recorrer”, afirmou Nina Santos, coordenadora acadêmica do *desinformante, “todas as pessoas com quem conversávamos não estão mais lá”.
Na tarde desta sexta-feira (18), a jornalista Zoe Schiffer, que acompanha de perto os desdobramentos do Twitter sob a gestão de Musk, noticiou em seu próprio Twitter que o empresário enviou e-mail para a equipe chamando “qualquer um que realmente possa escrever software” para uma reunião presencial na sede da empresa, nos Estados Unidos. Não houve justificativas e informações adicionais sobre o propósito do encontro.
Outro e-mail havia sido enviado aos funcionários no Twitter na noite de quinta (17), comunicando que a empresa fecharia temporariamente os escritórios e só os reabriria na próxima segunda-feira (21).
Usuários fazem funeral virtual do Twitter e debandam para outras redes sociais
Já na noite de quinta, diversos perfis na rede social começaram a alegar o fim do Twitter. Hashtags como #RIPTwitter e tweets envolvendo o nome de Elon Musk chegaram aos principais tópicos debatidos na plataforma. As próprias postagens irônicas de Musk na rede social, como a de um suposto enterro do Twitter, não ajudaram muito a acalmar os ânimos no dia de hoje.
Entre diversos memes e lamentações, usuários começaram a sugerir uma migração para outras redes sociais parecidas. Tutoriais de como salvar e guardar os tweets antigos também foram assuntos de conversas.
A Mastodon, que já havia ganhado mais de 1 milhão de novos usuários desde o anúncio da compra do Twitter, conseguiu mais 172 mil novos seguidores de quinta para sexta-feira.
Já a rede social indiana, Koo App, que possui proposta semelhante ao Twitter, ganhou destaque entre os brasileiros. Nomes como a deputada federal eleita Erika Hilton (PSOL) criaram novas contas no ambiente digital.
Porém, como apontou Yasmin Curzi, professora e pesquisadora do Centro de Tecnologia e Sociedade da FGV Direito Rio, a plataforma Koo, assim como a Gettr e a a Parler, ambas consideradas redes sociais alternativas, possui uma perspectiva absolutista de liberdade de expressão, servindo também como ferramenta de vigilância de cidadãos indianos.