Após anunciar publicamente o apoio à candidatura do ex-presidente Donald Trump para as eleições norte-americanas deste ano, Elon Musk vem utilizando o próprio perfil no X (antigo Twitter), nos últimos dias, para fazer campanha contrária à Kamala Harris, principal nome cotado para substituir Joe Biden como a candidata democrata para o pleito. O bilionário também endossou discursos da extrema direita da América Latina nesta segunda-feira (29), após as eleições na Venezuela, dando prosseguimento à quebra da tradicional neutralidade política seguida até então pelos diretores executivos de big techs.
Na noite da última sexta-feira (26), Musk compartilhou um vídeo alterado da campanha de Harris sem avisar da real natureza do conteúdo. A peça traz imagens do material oficial da vice-presidente, mas narradas com uma suposta voz da pré-candidata chamando Biden de senil e ela mesma de incompetente. “Isto é maravilhoso”, escreveu o dono do X, sem especificar que o conteúdo se tratava de informação enganosa.
A falta de rótulo oficial no retuíte de Musk, indicando que o vídeo é uma paródia ou foi manipulado, pode violar as próprias políticas do X sobre mídia sintética e manipulada. De acordo com as diretrizes da plataforma, o usuário “não pode compartilhar mídia sintética, manipulada ou fora de contexto que possa enganar ou confundir as pessoas ou causar danos”. Musk tem o perfil mais seguido do X, com mais de 191 milhões de seguidores.
O governador da Califórnia, Gavin Newsom, comentou o ocorrido afirmando que manipular a voz em materiais de campanha “deveria ser considerado ilegal”. Musk respondeu o tuíte do político com uma fala em tom de trollagem, afirmando que publicar paródias não era algo fora da lei.
Em uma declaração, a porta-voz da campanha de Harris, Mia Ehrenberg, criticou Musk e o ex-presidente Donald Trump. “Acreditamos que o povo americano quer a verdadeira liberdade, oportunidade e segurança que o vice-presidente Harris está oferecendo; não as mentiras falsas e manipuladas de Elon Musk e Donald Trump”, afirmou Ehrenberg.
Musk endossa extrema-direita latinoamericana depois das eleições na Venezuela
Na madrugada desta segunda-feira, enquanto crescia no X o debate sobre as eleições presidenciais venezuelanas, Musk aproveitou para continuar com sua campanha contra Harris, que foi alvo de desinformação nas redes sociais na última semana. O bilionário retuitou uma postagem de um usuário na qual dizia que os Estados Unidos corriam o risco de virar “uma Venezuela” caso Donald Trump não ganhasse as eleições – narrativa bastante compartilhada pelos movimentos brasileiros de extrema-direita. “Penso que o risco disso é real”, escreveu o dono da Tesla.
Musk também tuitou e compartilhou postagens sobre a própria eleição da Venezuela, que ocorreu ontem (28) e que reelegeu Nicolás Maduro como presidente do país. O dono da rede de micromensagens chamou Maduro de “ditador”, além de republicar o posicionamento do presidente da Argentina, o ultra-conservador Javier Milei. “A Argentina não vai reconhecer outra fraude e espera que as Forças Armadas desta vez defendam a democracia e a vontade popular”, escreveu Milei na mensagem endossada por Musk.
A intromissão de Musk no cenário político latinoamericano, com aproximação de movimentos e narrativas da extrema-direita, já vinha acontecendo nos últimos meses. Em abril, o dono do X chegou a atacar as instituições brasileiras e o ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes.