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abr 9, 2024 | destaques, notícias

Elon Musk amplifica extrema direita global enquanto clama por “liberdade de expressão”

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“Se você apoia o lado que censura a liberdade de expressão e os fatos, você não está alerta ou é progressista, você é um tirano”. A mensagem postada em formato de meme por Elon Musk no seu perfil do X, na madrugada desta terça-feira (9), após dias de ataques diretos ao ministro Alexandre de Moraes, parece mostrar que o bilionário ainda não desistiu de sua bravata contra as instituições brasileiras.

O meme, nos moldes da comunicação de trolls de fóruns como 4chan, também evidencia um argumento que o dono do X levanta antes mesmo de adquirir a plataforma: a liberdade de expressão como valor prioritário. Porém, ao mesmo tempo em que Musk defende com unhas e dentes o direito de expressão, afirmando que o X será um “espaço para todos”, também se articula com figuras de extrema direita global, zombando de populações minoritárias e atuando em prol de conspiracionistas.

Como apontou o jornalista norte-americano Charlie Warzel, Musk pode até assumir oficialmente um posicionamento neutro e centrista, mas as suas ações nos últimos anos, como dono do X, mostram o alinhamento a um determinado espectro político. “A compra do Twitter foi um ato explicitamente político baseado na noção de preservação da liberdade de expressão. Mas a noção de liberdade de expressão de Musk é uma ampla correção de rumo que envolve amplificar e promover os interesses dos reacionários de direita enquanto trollam a esquerda”, escreveu Warzel para The Atlantic.

As evidências da amplificação dos interesses da extrema direita são muitas. Em novembro de 2022, por exemplo,  Musk apoiou os candidatos republicanos, do partido do ex-presidente Donald Trump, nas eleições para o Congresso norte-americano. Esse seria o início de uma série de iniciativas de apoio a políticos, celebridades e personalidades que representam esse espectro político. O próprio Trump teve a conta reestabelecida no Twitter menos de um mês após a compra da plataforma por Elon Musk. O ex-presidente norte-americano, um dos maiores expoentes da extrema direita no mundo, havia sido banido do Twitter por insuflar, pela rede social, ações violentas que acabaram resultando na invasão do Capitólio em janeiro de 2021.

Discursos de ódio, antissemitismo e teorias da conspiração 

De novembro de 2022 pra cá, após prometer afrouxar as regras de moderação da plataforma, foram inúmeros os casos de perfis restaurados de figuras polêmicas da extrema direita internacional. Em dezembro de 2023, o dono do X trouxe de volta a conta do teórico da conspiração Alex Jones, revertendo uma decisão de 2018 que baniu o perfil do radialista, após ele compartilhar discursos de ódio e teorias da conspiração antissemitas na rede. 

Na ocasião, Musk também se reuniu com Alex no spaces, ferramenta de conversas em áudio da plataforma, com a participação de Andrew Tate, celebridade da Internet conhecido por opiniões misóginas e indiciado por tráfico humano e estupros na Romênia.

Em março deste ano, o austríaco Martin Sellner, conhecido por pregar a superioridade de grupos étnicos europeus, também teve seu perfil devolvido por Musk, após ser banido da plataforma em 2020. Em 2019, Sellner foi alvo de buscas pelas autoridades austríacas sob suspeita de cooperar com o terrorista de Christchurch, que matou 51 pessoas na Nova Zelândia.

Em agradecimento, Sellner elogiou Musk: “Estou feliz e grato por estar de volta ao Twitter/X. Gostaria de agradecer especialmente a Musk por tornar esta plataforma mais aberta novamente. Espero que a tendência continue e que todos os outros que foram banidos voltem”.

Também em março, Musk se intrometeu no julgamento do fundador de um movimento estudantil de extrema direita nacionalista belga, Dries Van Langenhove. O bilionário criticou a sentença proferida pela justiça da Bélgica, que considerou Dries culpado após o compartilhamento de memes racistas, antissemitas e misóginos. Musk chamou a sentença de “tirania total” e chegou a conversar com Dries pelo Twitter.

Ao longo do primeiro ano do X sob a gestão Musk, diversos estudos evidenciaram como as estratégias em prol do discurso de liberdade de expressão aumentaram vertiginosamente os discursos de ódio na plataforma. Em junho de 2023, o Centro de Combate ao Ódio Digital (CCDH, na sigla em inglês), mostrou como a rede não estava conseguindo combater postagens odiosas publicadas pelos assinantes do X Premium, levantando dúvidas sobre a possibilidade de a própria plataforma aumentar o alcance desses tuítes tóxicos.

O CCDH, uma das principais organizações da sociedade civil empenhadas em mostrar as falhas de moderação do X, foi processado por Musk em julho do ano passado. O bilionário alegou que os estudos divulgados estavam prejudicando a receita da empresa. Em março deste ano, o processo foi encerrado pela justiça do estado da Califórnia.

Musk fez vista grossa aos excessos da Índia e baniu jornalistas que o criticaram

Apesar de parecer bastante preocupado com a liberdade de expressão no Brasil, o bilionário sul-africano não parece compartilhar a mesma preocupação com excessos de governos de fato autoritários mundo afora. Em janeiro de 2023, o X (então Twitter) seguiu as exigências do governo indiano para remover um documentário da BBC que criticava o primeiro-ministro Narendra Modi, sob alegações de “propaganda odiosa” contra o governo.

Na época, Musk chegou a ser questionado por seguidores no seu perfil pessoal sobre a ação em relação ao governo indiano, mas respondeu: “Não é possível para mim consertar todos os aspectos do Twitter em todo o mundo da noite para o dia, enquanto eu administro Tesla e SpaceX, entre outras coisas”.

Neste ano, o X também bloqueou 177 contas e postagens específicas em torno de um protesto de agricultores a mando do governo indiano, sob penalidade de “multas significativas” e até prisão. Apesar da empresa ter se posicionado em discordância com a ação, o acontecimento não foi evidenciado por Musk em seu perfil pessoal.

Além disso, um outro caso ganhou bastante repercussão logo nos primeiros meses do X sob a gestão de Musk: o banimento de perfis de jornalistas que criticavam o empresário. Profissionais da CNN, do The New York Times e do The Washington Post tiveram o acesso aos seus perfis bloqueados. Na época, a imprensa internacional relatou a influência unilateral que o bilionário estava tendo na moderação de conteúdo da rede.

Extrema direita reage em apoio a Musk

“Como Alexandre de Moraes se tornou um ditador no Brasil? Ele tem Lula na coleira”, postou Musk no seu perfil na noite da segunda-feira (8). As falas de Musk, que como sempre atraíram dezenas de respostas com memes e zombarias endereçadas ao ministro do supremo, se assemelham bastante aos discursos proferidos por representantes da extrema direita brasileiros.

Musk tem sido alvo de lobby dos bolsonaristas pelo Twitter há anos. Como analisou Natalia Viana, da Agência Pública, um dos principais articuladores junto ao bilionário sul-africano com as pautas da extrema direita brasileira foi o ex-apresentador da Jovem Pan, Paulo Figueiredo, que instou o dono do Twitter a não respeitar as regras do TSE na noite do sábado (6).

Com os ataques proferidos contra Alexandre de Moraes, políticos da extrema direita brasileira lançaram, ainda no final de semana, um manifesto em apoio a Musk, pedindo também o impeachment do presidente do Tribunal Superior Eleitoral. 

Nesta terça-feira (9), a Comissão de Segurança Pública (CSP) do Senado, a pedido do senador Eduardo Girão (Novo-CE), concordou em ouvir o empresário e funcionários do X sobre as alegações de abuso de poder por parte da Justiça brasileira. Girão comemorou a notícia da CSP. “Vitória do Brasil e da Liberdade”, publicou o político no seu perfil pessoal.

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