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Joedson Alves/Agência Brasil

nov 26, 2024 | Destaques, Notícias

Como a desinformação foi elemento central no plano golpista investigado pela PF

Joedson Alves/Agência Brasil
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Na última quinta-feira (21), a Polícia Federal (PF) concluiu as investigações de um plano articulado por integrantes do governo Bolsonaro para aplicar um golpe de Estado em 2022. Em meio a intenções antidemocráticas – que visava o assassinato do presidente recém eleito Luis Inácio Lula da Silva, o vice-presidente Geraldo Alckmin e o então presidente do Tribunal Superior Eleitoral Alexandre de Moraes –, a  desinformação era um elemento central tanto para incitar o público apoiador como para justificar a ação golpista do grupo investigado.

De acordo com a PF, que obteve as provas por meio de diligências policiais realizadas por quase dois anos, os 36 investigados se estruturam em cinco núcleos com tarefas específicas, sendo o primeiro deles destinado a gerar desinformação e ataques ao sistema eleitoral. Nesta terça (26), o ministro Alexandre de Moraes retirou o sigilo do relatório final, mas algumas informações já foram compartilhadas pela imprensa desde a semana passada. O caso segue para a Procuradoria-Geral da República (PGR), que vai decidir se apresenta denúncia sobre os indiciados. 

De acordo com a CNN Brasil, o relatório afirma que Jair Bolsonaro atuou diretamente nesse primeiro grupo, apesar de transitar por todos os outros quatro que buscavam, por exemplo, dar apoio jurídico e operacional ao plano golpista. A PF também disse que o ex-presidente era o “líder da organização criminosa”.

O núcleo de Desinformação e Ataques ao Sistema Eleitoral também contou, segundo a PF, com a participação dos seguintes investigados:

  • Mauro Cesar Barbosa Cid;
  • Anderson Torres;
  • Angelo Martins Denicoli;
  • Fernando Cerimedo;
  • Eder Lindsay Magalhães Balbino;
  • Hélio Ferreira Lima;
  • Guilherme Marques Almeida;
  • Sergio Ricardo Cavaliere De Medeiros;
  • Tércio Arnaud Tomaz.

Vale lembrar que a desinformação espalhada por Bolsonaro em 2022 também foi ponto central para o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), no ano passado, condenar o ex-presidente como inelegível. A decisão da corte foi motivada por ataques ao processo eleitoral com informações falsas proferidas por Bolsonaro em reunião com embaixadores e, em seguida, compartilhados na TV e nas redes sociais.

Essa não é a primeira vez que a PF aponta Bolsonaro como propagador de desinformação durante o exercício do mandato. No final de dezembro de 2022, o órgão federal já tinha concluído que o ex-presidente cometeu crimes ao disseminar informações falsas na pandemia durante uma live em suas redes sociais, na qual ele relacionou a vacina contra o coronavírus à Aids.

Narrativa de fraude foi argumento para articulação do golpe

A imprensa também compartilhou detalhes do plano de golpe que buscava assassinar o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, o vice-presidente Geraldo Alckmin e o então presidente do STF, Alexandre de Moraes. As articulações para manter Bolsonaro no poder depois de 2022 ganharam tração logo após o segundo turno das eleições daquele ano, como mostrou o Fantástico.

Em áudios coletados com exclusividade pela reportagem do programa, é possível ouvir que o argumento para a proposta golpista chamada de “Punhal Verde e Amarelo” levantado por Mário Fernandes, general da reserva e ex-número 2 da Secretaria-Geral da então Presidência, foi uma suposta fraude eleitoral. “Tá na cara que houve fraude, não dá mais pra gente aguentar essa p*”, afirmou Fernandes em áudio compartilhado em um grupo de mensagens no dia 4 de novembro.

Fernandes também fez menção a chamada “live argentina”, realizada por Fernando Cerimedo, que levantou informações falsas sobre uma possível fraude eleitoral no país vizinho. “O relatório do MD [Ministério da Defesa], ele não pode ser diferente do que disse essa live argentina”, afirmou o general.

As investigações da PF apontaram que Mário Fernandes também estava em contato direto com os organizadores do movimento antidemocrático que montou acampamento em frente ao Quartel General em Brasília no fim de 2022 e que foi essencial para a invasão da praça dos três poderes no dia 8 de janeiro de 2023. 

“O contexto das mensagens evidenciam que MÁRIO FERNANDES era o ponto focal do governo de JAIR BOLSONARO com os manifestantes golpistas. Além de receber informações, também servia como provedor material, financeiro e orientador dos manifestantes antidemocráticos instalados nas adjacências do QG-Ex em Brasília/DF, que teve papel fundamental na tentativa de golpe de Estado perpetrada no dia 08/01/2023”, trouxe a investigação.

A PF concluiu que: “a organização criminosa investigada tinha o objetivo de incitar parcela da população ligada à direita do espectro político a resistirem à frente das instalações militares para criar o ambiente propício ao golpe de Estado. Para isso, utilizaram o modus operandi da milícia digital, para disseminar, por multicanais, fake News sobre possíveis fraudes nas eleições de 2022 e ataques sistemáticos a ministros do STF e do TSE”.

A relação de integrantes do governo Bolsonaro com representantes das forças armadas e o movimento golpista também já tinham sido alvo da PF em fevereiro deste ano, quando o órgão deflagrou uma operação autorizada pelo ministro Alexandre de Moraes.

Segundo a decisão de Moraes da época, um “núcleo de desinformação” atuava na produção, divulgação e amplificação de notícias falsas quanto à lisura das eleições presidenciais de 2022 com a finalidade de estimular seguidores a permanecerem na frente de quartéis e instalações das Forças Armadas, criando ambiente propício para o golpe de Estado.

Além disso, um segundo núcleo era responsável por incitar militares ao golpe de Estado, também com uso de desinformação e com a participação de influenciadores. Segundo o relatório da época, este grupo elegia alvos para amplificação dos ataques pessoais contra militares em posição de comando que resistiam à ideia do golpe de Estado.

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