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Além de turbinar desinformação climática, IA aumenta (e muito) o consumo de água e energia

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A coalizão global “Climate action against disinformation” e outras organizações parceiras lançaram neste mês um relatório identificando as ameaças que a Inteligência Artificial oferece para as mudanças climáticas. “A evidência é clara: a produção de IA já está impactando negativamente o clima. A responsabilidade de lidar com esses impactos cabe às empresas que produzem e lançam IA a uma velocidade vertiginosa”, disse Nicole Sugerman, gerente de campanha da Kairos Fellowship. 

De acordo com o relatório lançado, a IA apresenta dois perigos significativos e imediatos: 1) o grande aumento no consumo de energia e água exigido por sistemas de IA como o ChatGPT; e 2) a ameaça de a IA turbinar a desinformação sobre um tema já repleto de informações falsas e anti-científicas. 

A primeira ameaça se deve ao fato de que os sistemas de Inteligência Artificial requerem uma enorme quantidade de água e energia, mas há uma opacidade em relação a isso. “As empresas que desenvolvem e utilizam tecnologias de IA não divulgam adequadamente detalhes sobre o uso de energia dos seus sistemas de IA, mas as declarações que estão disponíveis, além de pesquisas independentes, mostram que a proliferação de sistemas de grandes modelos de linguagem (LLM) já está causando o aumento vertiginoso do uso de energia”, diz o relatório.

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De acordo com pesquisadores, existem três fases principais de uso de energia: 1) o desenvolvimento inicial de materiais como chips de computador, que requerem grandes quantidades de recursos naturais e energia; 2) o treinamento, quando os desenvolvedores inserem dados no modelo para que ele possa “aprender”; e 3) o próprio uso, ou seja, quando as pessoas realmente começam a usar o modelo. Estima-se que o treinamento do Chat GPT-3 consumiu tanta energia quanto 120 casas nos Estados Unidos ao longo de um ano.

O relatório ainda indica um estudo da Hugging Face e da Carnegie Mellon University que descobriu que gerar apenas uma imagem a partir de um modelo de IA consome tanta energia quanto carregar totalmente um smartphone. Ampliando isso, gerar 1.000 imagens resulta na mesma produção de carbono que um carro por 6,5 quilômetros.

Outra pesquisa, da Amsterdam School of Business, revelou que os servidores de IA poderiam usar tanta energia quanto a Suécia até 2027 Já a Agência Internacional de Energia estima uma duplicação dos data centers – centros que alimentam a IA, a criptografia e a computação em nuvem – em até 10 anos. Isso poderia fazer com que o consumo dos centros de dados poderá passar de 1% da procura global de electricidade para 13%.

As organizações alertam também para a integração da IA nos motores de busca de empresas como Google e a Microsoft. De acordo com os autores, com essa integração, o uso energia se tornará ainda mais intenso. Isso porque hoje uma busca no Google retorna dados armazenados em cache, já os sistemas de linguagem criam a resposta do zero, pesquisando e interpretando todo o conjunto de dados.

Além do uso de energia, há um impacto significativo no consumo de água. Estes centros de dados e sistemas de IA utilizam grandes quantidades de água nas operações para resfriar os sistemas de computação e gerar eletricidade, mas estão frequentemente localizados em áreas que já enfrentam escassez de água. O relatório do Climate action against disinformation destaca dados do Departamento de Energia dos Estados Unidos, que estimou que os data centers do país consumiram 1,7 bilhão de litros por dia em 2014 ou 0,14% do uso diário de água nos EUA.

Já a segunda ameaça mapeada pelo relatório se relaciona com o que é em si produzido pelas inteligências artificiais. Os autores relembram diversas informações falsas promovidas para impulsionar o negacionismo climático ainda antes do boom da IA. “A IA generativa tornará essas campanhas muito mais fáceis, rápidas e baratas de produzir, ao mesmo tempo que permitirá que se espalhem cada vez mais rapidamente”, pontua. “Em vez de ter que redigir o conteúdo uma peça de cada vez, a IA pode produzir conteúdo infinito para artigos, fotos e até mesmo sites com apenas breves instruções”, acrescenta o relatório.

O relatório destrincha o uso de IA para a criação de deepfakes e ressalta essa facilidade, mas também coloca como a tecnologia contribui para a disseminação das informações falsas, seja pela recomendação das redes sociais ou pela distribuição de anúncios por mídia programática.

O relatório também destaca o panorama político da IA, que “revela uma preocupante falta de regulamentação”, e pontua recomendações para o cenário a partir de questões de transparência, segurança e responsabilidade:

  • Transparência: As empresas devem reportar publicamente sobre a utilização de energia e as emissões produzidas, avaliar preocupações de justiça ambiental relacionadas com o desenvolvimento da tecnologia de IA e divulgar como os seus modelos produzem informações que priorizem a ciência climática;
  • Segurança: As empresas precisam mostrar que os seus produtos são seguros para os utilizadores e para o ambiente. Os governos devem desenvolver normas sobre relatórios de segurança e investir em investigação que mapeie os riscos da IA para a disseminação de desinformação climática;
  • Responsabilidade: Governos devem aplicar regras sobre a investigação e mitigação dos impactos climáticos da IA, com sanções claras e fortes para o descumprimento. 
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