O combate à desinformação e a crise de confiança em sociedades democráticas é o tema da Cúpula do Prêmio Nobel deste ano, realizada em Washington, nos Estados Unidos. A segunda edição do evento começou nesta quarta-feira (24) e se estende até esta sexta (26), reunindo pesquisadores, representantes da sociedade civil e laureados do prêmio, como a jornalista filipina Maria Ressa, para discutir o tema. Pesquisadoras e ativistas brasileiras integraram a programação do primeiro dia do evento.
A coordenadora de campanha da organização internacional Eko, Flora Rebello, foi um dos nomes brasileiros que participaram do evento. Uma das convidadas do painel “Toda informação é local”, Flora lembrou dos efeitos da desinformação no país, como o afastamento entre familiares, amigos e conhecidos, bem como os atos golpistas do 8 de janeiro.
A ativista também levou à cúpula global os esforços brasileiros para a regulação das plataformas e das tecnologias digitais, frisando o projeto de lei 2630 e o projeto recente de regulação da Inteligência Artificial.
“A receptividade tem sido extremamente positiva. Diversos vencedores de Nobel, inclusive, mencionam em suas falas a importância de regulamentar as redes e alterar o modelo de negócios que prioriza cliques ao invés de conteúdo de qualidade”, disse Flora ao *desinformante.
Já a professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro e diretora do NetLab, Marie Santini, abordou os desafios do Sul Global no combate à desinformação durante a divulgação dos projetos de código aberto selecionados pela campanha de financiamento da Digital Public Goods Alliance (DPGA) e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).
Na fala, a pesquisadora levantou o problema da transparência de dados públicos e a falta de confiança nas instituições no Sul Global. “Portanto, dados livres, tecnologias colaborativas e soluções inovativas abertas são essenciais e fundamentais para nossos países”, concluiu.
O projeto “Querido Diário”, desenvolvido pela Open Knowledge Brasil, foi uma das nove iniciativas globais selecionadas na chamada da DPGA em parceria com a PNUD. A iniciativa busca tornar os diários oficiais dos municípios brasileiros em formato aberto para a livre consulta da sociedade civil.
Rede internacional de pesquisadores sobre ambiente informacional é lançada no evento
Durante a programação da cúpula do Nobel também foi lançado o Painel Internacional sobre o Ambiente Informacional (IPIE, na sigla em inglês), um consórcio independente e global de cientistas que busca fornecer conhecimento sobre ameaças ao ambiente internacional de informações.
De acordo com o diretor do IPIE e professor da Universidade de Oxford, Phil Howard, a iniciativa é a maior rede global de pesquisa comprometida em construir um ambiente informacional mais saudável. Manipulação algorítmica, vieses, discurso de ódio e deep fakes são algumas das temáticas que serão tratadas pelo consórcio.
O projeto conta com mais de 200 pesquisadores de 55 países que irão contribuir com pesquisas e produções em áreas de conhecimento distintas. A lista inclui profissionais brasileiros, como a coordenadora do *desinformante Nina Santos, Raquel Recuero, Letícia Cesarino e João Guilherme Bastos dos Santos.