Início 9 Destaques 9 Desinformação mobiliza atos bolsonaristas pró-anistia

Últimas notícias

abr 10, 2025 | Destaques, Notícias

Desinformação mobiliza atos bolsonaristas pró-anistia

COMPARTILHAR:

A manifestação realizada em 6 de abril na Avenida Paulista foi a primeira convocada por aliados de Jair Bolsonaro desde que o ex-presidente se tornou réu no Supremo Tribunal Federal (STF) por incitar uma tentativa de golpe de Estado. Assim como o ato ocorrido em 16 de março, no Rio de Janeiro, a mobilização teve como mote central os pedidos de “anistia já” e se sustentou em narrativas marcadas por desinformação, teorias da conspiração e apelos emocionais que distorcem a realidade dos condenados pelos ataques de 8 de janeiro de 2023.

Nos dois eventos, o ex-presidente e seus aliados voltaram a afirmar — sem provas — que Lula não venceu as eleições, que o STF atua por vingança política, e que os presos do 8 de janeiro seriam “vítimas” de perseguição ideológica. Uma análise feita pela Agência Lupa apontou que Bolsonaro distorceu deliberadamente fatos sobre o processo eleitoral, o sistema de Justiça e a atuação do governo federal​.

Uma análise dos dados apresentados no relatório do Instituto Democracia em Xeque – que aborda o debate nas redes sociais sobre a manifestação do dia 06 de abril – indicou que a mobilização se ancora em cinco grandes eixos narrativos:

  • “Presos políticos”: deslegitima as condenações determinadas pelo STF e apresenta os envolvidos como vítimas.
  • Releitura dos ataques de 8 de janeiro: versões alternativas dos eventos circulam com força, culpando “infiltrados” ou sugerindo armação da esquerda.
  • Demonização do Judiciário: ministros do STF são retratados como ditadores e perseguidos religiosos.
  • Narrativas religiosas e moralizantes: elementos messiânicos e apelos à fé tornam os atos mais simbólicos e engajantes.
  • Fake news sobre os presos: alegações de tortura, prisões sem julgamento ou abusos, sem qualquer comprovação.

Os manifestantes que foram às ruas empunhavam cartazes com frases como “liberdade para os patriotas” e “presos políticos”, alimentando a falsa ideia de que os condenados do 8 de janeiro são vítimas de uma ditadura judicial. No último domingo, a TV Folha foi à avenida Paulista, em São Paulo, e mostrou algumas das narrativas levantadas pelas pessoas presentes.

Discursos emocionais como o de Michelle Bolsonaro, com referências religiosas e menções à luta “por justiça”, foram usados para engajar emocionalmente a base de apoiadores. Em discursos e vídeos que circularam on-line foram feitas, inclusive, associações dos detidos a mártires religiosos, como “Débora”, símbolo frequentemente citado pelos bolsonaristas, representada como “uma mulher comum, injustamente punida”. 

O papel central das redes sociais

Os dados do relatório do Instituto Democracia em Xeque mostram que o debate digital sobre a anistia foi amplamente dominado por vozes do campo conservador. Em um universo de mais de 5.500 postagens monitoradas nas redes sociais entre 6 e 7 de abril, 3.753 foram realizadas por atores identificados como conservadores — mais do que o triplo das publicações atribuídas a perfis progressistas, que somaram 1.129.

O estudo revela ainda uma assimetria significativa no engajamento gerado. Do total de mais de 138 milhões de interações computadas no período, os conservadores concentraram cerca de 82%, entre curtidas, compartilhamentos, comentários e visualizações. Em contraste, os perfis progressistas somaram 14,2 milhões de interações, seguidos por atores da imprensa (6,2 milhões) e de outros grupos políticos (4 milhões).

A plataforma com maior impacto conservador foi o Instagram, com 77,8 milhões de interações. O YouTube aparece como outro polo de engajamento relevante, com 19 milhões de interações conservadoras. Esse domínio no formato audiovisual revela a aposta em conteúdos longos e opinativos, com alto potencial de fidelização de audiência.

Atores políticos e estratégias de mobilização

Entre os principais influenciadores do campo conservador que impulsionaram a manifestação figuram Nikolas Ferreira, Flávio Bolsonaro, Space Liberdade, Revista Oeste e o próprio Jair Bolsonaro. As postagens desses perfis destacaram discursos, imagens da Avenida Paulista e mensagens de apoio aos condenados — constantemente referidos como “patriotas” e “perseguidos políticos”.

Um dos vídeos mais viralizados, publicado por Nikolas Ferreira, trazia o bordão “Eles têm a toga, mas nós temos o povo”, numa tentativa de opor simbolicamente o STF à vontade popular. A frase foi compartilhada por diversos perfis e acumulou mais de 1,2 milhão de curtidas no Instagram.

A narrativa de união entre diferentes alas da direita também foi fortemente explorada. Publicações exaltaram a presença de governadores, senadores e deputados no ato, com ênfase em imagens coletivas e slogans como “Juntos pela anistia”. Segundo o relatório, essas estratégias visam consolidar Jair Bolsonaro como figura central da direita mesmo após sua inelegibilidade, com vistas às eleições de 2026.

Entre as hashtags mais utilizadas estiveram #AnistiaJá, #LiberdadeParaOsPatriotas, #PovoNasRuas e #PaulistaPorJustiça. 

Reação progressista

Embora em menor volume, o campo progressista também reagiu nas redes. Publicações ironizaram a baixa adesão ao ato, apelidando-o de “flopado”, e resgataram trechos do discurso em inglês de Bolsonaro para ridicularizá-lo.

Frases como “bandido bom é bandido sem anistia” foram amplamente utilizadas por parlamentares da oposição para reforçar a legalidade das condenações e a gravidade dos ataques à democracia.

O relatório também aponta que as pesquisas de opinião foram usadas como munição pelos críticos da anistia. Um levantamento da Genial/Quaest, repercutido nas redes progressistas, indicou que 56% dos brasileiros são contra a concessão de anistia aos envolvidos no 8 de janeiro. Outro dado, da Datafolha, mostrou que 52% da população acredita que Jair Bolsonaro deveria ser preso.

COMPARTILHAR: