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nov 30, 2021 | Destaques, Notícias

Deplataformização é medida paliativa, conclui estudo

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Após o presidente Bolsonaro associar erroneamente, em sua live semanal, a vacina contra covid-19 e o risco de se contrair Aids, o Facebook e Instagram decidiram deletar o vídeo publicado pelo presidente. O ex-presidente dos EUA, Donald Trump, sofreu um revés maior, teve sua conta permanentemente excluída do Twitter, Facebook e Instagram. Múltiplas medidas de remoção de conteúdo, também conhecido como deplataformização, foram aplicadas a contas e postagens avaliadas como não alinhadas aos termos de uso das plataformas ou que apresentavam riscos à segurança pública. Segundo pesquisadores da Universidade de Cardiff, apesar de essa medida ajudar no controle da qualidade da informação, isoladamente, ela não é suficiente, já que usuários estão criando formas de replataformização.

Durante a pandemia, a desinformação acerca do coronavírus se misturou com as campanhas políticas igualmente poluídas. Pesquisadores mostraram como o YouTube aplicou uma combinação de técnicas de moderação “rígidas” e “leves” para conter a disseminação de informações incorretas durante a pandemia

Adobe Stock/Aditchii

O Facebook decidiu adotar, em agosto de 2020, a remoção de quaisquer grupos que se identificassem com movimentos sociais militarizados (as milícias digitais ou grupos que apóiam e organizam atos violentos em meio a protestos) ou quaisquer associações fomentando a violência nas redes através de teorias de conspiração ou rumores, como o QAnon. A partir dessa decisão, pesquisadores da Universidade de Cardiff analisaram dois casos de teorias da conspiração que ganharam notoriedade na mídia: o teórico da conspiração associado às teorias de Nova Era e QAnon, David Icke, e a novata, Kate Shemirani, cujo perfil cresceu durante a pandemia. 

Essas contas foram removidas pelo Facebook, avaliadas como apresentando riscos à segurança pública em 2020, conforme definido pela Política de Organizações e Indivíduos Perigosos da plataforma. Apesar da remoção da conta de Icke resultar numa redução do conteúdo conspiratório, nos meses seguintes, foi observado que apoiadores começaram a criar grupos com o seu nome para compartilhar conteúdos relacionados (ou até mesmo as postagens deletadas). Os autores definiram esses usuários como contas minions, ou seja, uma série de contas secundárias que são configuradas para continuar a missão de disseminar conteúdo falso ou enganoso. 

PL das fake news - crimes

A vasta maioria do conteúdo compartilhado por essas contas (94%) direcionava para outras plataformas ou sites de mídia alternativa. Isso sugere que no curto prazo os efeitos da deplataformização são limitados devido tanto aos apoiadores, que encontram formas alternativas de impulsionar o conteúdo, quanto à presença multiplataforma desse conteúdo. Essa replicação da informação após uma remoção é chamada pelos acadêmicos de efeito Streisand. Um estudo publicado na revista Fronteiras mostrou como essa replataformização está criando uma infraestrutura digital com sites que clonam redes sociais e emulam uma aparência de conteúdo gerado por usuário para hospedarem informações incorretas e manipuladas sobre a Covid-19 e seu entorno.

Esse efeito nem sempre acontece da mesma forma. Como o perfil de Shemirani não tinha a mesma base de apoiadores que Icke, nem uma rede estabelecida de páginas e grupos de apoio, a deplataformização da teórica da conspiração resultou numa forma efetiva de controle da disseminação de desinformação. No entanto, o efeito de supressão pareceu ser temporário, com sinais de renascimento a partir do final de 2020, onde o número de compartilhamentos de vídeo no Facebook aumentou de de dez, entre outubro e novembro de 2020, para mais de 60 nos dois meses seguintes. 

A amplificação do conteúdo de Shemirani após a deplataformização deu-se principalmente após a presença dela em eventos cobertos pela mídia. Para os pesquisadores, essa atenção ajuda a promover as narrativas da novata independentemente de sua presença na plataforma. Ao concluir, os pesquisadores defendem que a deplaformização “tem algum impacto disruptivo, mas não foi sustentado [no longo prazo]”. Por isso, medidas devem ser tomadas em paralelo.

 

Telegram direciona a plataformas alternativas 

No Brasil, a situação não é diferente. O professor do departamento de Ciência da Computação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Fabrício Benevenuto, confirmou que existe esse movimento no país. “Assim que o YouTube remove determinada conta, o usuário sobe o conteúdo em outra plataforma alternativa, usando o Telegram, por exemplo, como mecanismo de espalhamento”, lembra Benevenuto. O professor explica que isso é facilitado pela falta de uma política de deplataformização do aplicativo de mensagens concorrente do WhatsApp, tornando o app uma importante ferramenta para comunicação em massa.

Adobe Stock/Anna

“Além disso, o Telegram acaba sendo uma plataforma bem utilizada para disseminação de mensagens, já que tem uma Interface de Programação de Aplicações (no jargão de computação, a API) bem amigável, o que facilita a criação de contas automatizadas para propagação de conteúdo”, acrescentou o pesquisador Wilson Ceron da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Por isso, “a estratégia pode usar perfis automatizados e mesclar com compartilhamentos orgânicos”, complementou Benevenuto.

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