Tanto já começamos a falar sobre as eleições de 2024 e tanto desconhecemos as realidades municipais. São 5.568 municípios, segundo o IBGE, que irão eleger seus prefeitos e vereadores no próximo ano em contextos diversos, ainda que a polarização informativa e política da disputa pelo Executivo em 2022 tenha seus discípulos espalhados pelo território, com capacidade e poder para influir no processo eleitoral. Aí entra a importância do ecossistema de informação local.
Na última semana, nós do *desinformante e alguns outros membros da Sala de Articulação contra Desinformação, tivemos um encontro muito proveitoso com organizações sociais de Salvador para iniciar uma conversa sobre desinformação, impactos sociais, eleições 2024, papel da comunicação, entre outros tópicos que surgiram, como a manutenção do jornalismo em tempos de plataformização do debate público.
Em pleno 2023 temos ainda a relação dependente de meios de comunicação e órgãos públicos e zero participação, por exemplo, das plataformas digitais na sustentação de veículos que precisam existir para garantir que a informação não seja falseada por agentes maliciosos. Ou seja, precisamos debater a sustentabilidade do jornalismo de interesse público e local.
A verba da publicidade precisa de transparência e participação de entes públicos e privados. As plataformas que tanto dinheiro ganham com o conteúdo produzido nos municípios brasileiros – aqui estamos falando de uma das mais importantes capitais do país – precisam financiar este tipo de conteúdo de interesse público, produzido localmente.
“ A gente sabe que hoje os grupos jornalísticos tradicionais se preocupam mais com as capitais e suas pautas. Por isso é importante ter um jornalismo forte e independente de base local. A gente acredita que deve haver uma política púbica para garantir a subsistência desse jornalismo de modo que ele não seja cooptado por quem está no poder e tenha independência para ser exercido”, afirma Ramênia Vieira, coordenadora executiva do Intervozes.
Para falar de eleições limpas em 2024, a discussão da comunicação de interesse público deve ter um lugar de destaque. O Vale do Silício precisa abrir os olhos e ter ferramentas e recursos para atender ao Vale do Dendê.
O problema é mais grave ainda em outras regiões sensíveis, como a Amazônia, onde os desertos de noticias proliferam e a comunicação é bastante centrada em informações oficiais, muitas vezes, financiadas com o dinheiro do garimpo e de outras atividades ilícitas na região. O mundo está de olho na Amazônia, mas quem acompanha a qualidade da informação que está circulando nos municípios indígenas brasileiros, por exemplo? como podemos garantir processos eleitorais éticos nas cidades brasileiras se a comunicação de interesse público falir e diante do cenário de que as fontes de informação das pessoas cada vez mais passam por plataformas digitais que monetizam desinformação?
Este texto é pra exprimir a urgência da regulação da comunicação e das plataformas digitais especialmente. É necessário participar da construção do ambiente informacional saudável se queremos de fato viver em democracia. No caso das plataformas que têm aqui imenso mercado esta seria apenas uma contrapartida. Os processos eleitorais não podem ficar à mercê das informações de determinados grupos políticos e ou financeiros. É preciso garantir informação diversa, plural e local.
A Vale do Dendê, por exemplo, que nos abrigou durante os debates em Salvador, é uma organização social que tem como objetivo fomentar ecossistemas de empreendedorismo e impacto social com foco em diversidade. Ali foi fortalecida a iniciativa Aoca Game Lab, desenvolvedora de games com narrativas que destoam do que chega pra nós das grandes indústrias. Um exemplo de por onde pode caminhar nossa soberania digital.
É pelo NordesTeuSou que moradores do bairro Luis Anselmo puderam ficar sabendo do último golpe que está rolando pelo WhatsApp que printa o rosto de quem atende a uma ligação aleatória e o associa a pedofilia. Uma iniciativa de notícias locais, tenho certeza, que a Meta gostaria de apoiar porque não quer ver seu aplicativo de mensageria invadido por golpes.
Eleições saudáveis estão diretamente relacionadas a ecossistemas locais de informação.
Mais dendê e menos silício, por favor!