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ago 10, 2023 | destaques, notícias

Cenário melhorou, mas 26,7 milhões de brasileiros ainda vivem em desertos de notícias

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A edição 2023 do Atlas da Notícia, divulgada nesta quarta-feira (9), mostra que, pela primeira vez, desde 2017, há mais cidades no Brasil com veículos de comunicação do que aquelas consideradas desertos de notícias, ou seja, municípios que não possuem informação jornalística local. No ano passado, 2.968 cidades eram desertos e 1.460 eram classificadas como quase desertos. Neste ano, a pesquisa mostrou uma redução de 8,6% no total de desertos de notícias, ou seja, 256 municípios a menos nesta situação. 


A evolução, no entanto, é vulnerável. “É um crescimento frágil na medida em que ele se estabelece pela expansão da atividade de meios nativos digitais, em parte conduzidos por empreendedores individuais, e, em alguma medida, pela identificação de rádios, sobretudo comunitárias, que veiculam conteúdos noticiosos. Obter sustentabilidade nesse ambiente é algo desafiador que exige um repertório que o jornalista nem sempre domina”, afirma Sérgio Lüdtke, coordenador da equipe de pesquisadores do Atlas da Notícia. 


De acordo com a pesquisa, surgiram novas 575 iniciativas nativas digitais e 239 rádios. Agora, segundo os dados do Atlas da Notícias, há 5.245 veículos digitais e 4.836 rádios oferecendo notícias em seus canais. O relatório indica que, juntos, os dois meios representam 70% do total de veículos mapeados em 2023. 

“Há poucos obstáculos para se começar um empreendimento digital, mas há muitos desafios no caminho até a maturidade. Essa expansão precisa ser assistida e apoiada com capacitação para gestão para os empreendedores, entendimento por parte da sociedade da relevância do jornalismo para melhorar o ambiente de informação e de políticas públicas que possam apoiar a sobrevivência e o crescimento dessas iniciativas”, avalia Lüdtke.
As particularidades de cada região do país também foram identificadas pelos pesquisadores. No ano passado, a região Norte representava a região com o maior território descoberto por veículos de comunicação local, 63,1% das suas cidades eram desertos.  Neste ano, houve uma redução de 95 municípios neste cálculo, o que representou uma queda de 30% de desertos na região Norte. 

A região Nordeste também eliminou dezenas de municípios da lista de desertos, ao todo foram 87. A região que possuía 62,4% dos municípios sem informação local, atualmente possui 56,74%. No entanto, apesar da queda, é a região com mais desertos no Brasil. No Piauí e no Rio Grande do Norte, a taxa de cidades sem veículos ultrapassa os 75%.
“Há muitas cidades pequenas que são cobertas por veículos de locais vizinhos. Mas sem a cobertura jornalística no próprio território, o acesso a conteúdos qualificados e críticos sobre ações do poder público local, por exemplo, quase sempre fica comprometido. Esse vácuo informativo também torna as populações dos desertos de notícias mais vulneráveis a notícias falsas”, afirmou Mariana Correia, uma das pesquisadoras responsáveis pelo estudo.

Os desertos de notícias também recuaram na região Sul. Ao todo 44 municípios deixaram de ser categorizados como tal, o que representa uma queda de 8% em relação ao ano anterior. No Sudeste, o mesmo. Houve uma queda de 2,5% de municípios desérticos na região, caindo para um total de 51,5%.
Já na região Centro-Oeste, o movimento foi inverso. A região segue sendo a menor proporção de desertos de notícias do Brasil, mas teve destaque para a quantidade de veículos que fecharam. No Distrito Federal, foram 41 veículos fechados, no Mato Grosso, 6; no Mato Grosso do Sul, 2 empresas e em Goiás, 1. Isso representa 1% da base de dados da região no censo.

A mitigação de desertos de notícias é uma das missões que a legislação sobre a remuneração do conteúdo jornalístico deve assumir, defendem entidades do setor e organizações da sociedade civil. Em carta divulgada nesta semana, o PL 2370, que está em debate na Câmara dos Deputados, deve incluir critérios para o pagamento que não sejam “meramente ligados ao negócio das empresas jornalísticas, como a audiência” e precisam “considerar a atuação dos veículos para mitigar desertos de notícias, informar comunidades específicas e impactar socialmente o fomento a negócios locais”.


 “A remuneração do jornalismo por plataformas é um modo de financiar o jornalismo, ainda que não esteja claro como isso será feito, mas provavelmente não alcance os meios que operam em pequenas e médias cidades e certamente não incentivará o surgimento dessas iniciativas nos desertos de notícias. Identificamos mais de 14 mil veículos em atividade no Brasil, ainda assim quase 5 em cada dez cidades não contam com nenhum veículo. Esse ambiente tão vasto vai precisar de políticas de incentivo. Informação de qualidade é como educação. Precisa da sociedade e de políticas públicas”, pontua Sérgio Lüdtke sobre o tema.


O Atlas da Notícia é um projeto do Instituto para o Desenvolvimento do Jornalismo (Projor) em parceria com Volt Data Lab e inspirado no projeto America’s Growing News Desert, da revista Columbia Journalism Review, que realizou um levantamento sobre a presença de jornais nos Estados Unidos. A iniciativa brasileira é, desde 2018, patrocinada pelo Meta Journalism Project. A pesquisa é realizada em parceria com a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) e com a Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação (Intercom).

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