Se está cada vez mais claro o que é a Educação Midiática e a sua importância para enfrentar os desafios que o mundo digital nos apresenta, uma pergunta permanece: como fazê-la? Buscando ajudar, o *desinformante selecionou 5 projetos aplicados no Brasil que podem servir de exemplo tanto para profissionais da área da educação como para responsáveis preocupados com a imersão dos seus filhos no ambiente da internet e das novas tecnologias.
“Hoaxbusters” – Colégio Super Ensino (Ourinhos-SP)
“Caçadores de boatos”, em tradução livre, este projeto surgiu depois que o professor de Biologia Estêvão Zilioli percebeu que poderia pensar em alguma iniciativa que permitisse que os seus estudantes fossem capazes de responder, por eles próprios, às dúvidas trazidas à sala de aula sobre temas que encontraram circulando na internet.
No princípio, Estêvão apenas respondia que as informações não eram verdadeiras e explicava porque não faziam sentido. Até que, um dia, resolveu usar uma tática diferente: “parei de responder e pedi que eles mesmos investigassem e trouxessem o resultado da pesquisa para a sala de aula”, conta.
Depois de participar de um workshop promovido pela Agência Lupa, o professor propôs a criação de uma atividade extracurricular no contraturno para se dedicar à checagem, sem deixar de lado o uso ocasional dessa estratégia nas aulas regulares. A gestão da escola aceitou, e as oficinas se tornaram optativas para os estudantes do Ensino Médio. Nelas, Estêvão e alunos compartilham notícias e boatos de redes sociais e investigam a existência de evidências científicas que confirmassem ou desmentissem esses conteúdos.
O projeto envolveu alunos do 9º ano do Ensino Fundamental ao 3º ano do Ensino Médio. Atualmente, conta com uma página própria na qual podem ser encontrados planos de aula e outras dicas de implementação de atividades de educação midiática.
“Velozes e Curiosos” – Colégio Estadual Manuel Dantas (Cedro de São João-SE)
O nome do projeto já dialoga com o universo adolescente, sendo uma referência à franquia de filmes “Velozes e Furiosos”. O objetivo principal do projeto é o de mostrar aos estudantes como as notícias são produzidas e discutir como são consumidas nos tempos atuais.
“Buscamos ampliar a capacidade de expressão dos estudantes e também estimular o pensamento crítico sobre as informações que eles consomem diariamente nos veículos de comunicação, além de tratar da importância de ter um projeto de vida”, explicou a professora Mara Villar, uma das responsáveis pelo projeto, ressaltando que durante as aulas também são discutidas atualidades que envolvem a área de Ciências Humanas.
O projeto envolveu cerca de 42 estudantes das turmas de 1ª, 2ª e 3ª séries do Ensino Médio, e consistiu em trabalhar de forma transversal temas abordados pela grande mídia e articular a participação de profissionais da imprensa para que dialogassem com os estudantes envolvidos, apresentando o dia a dia dos profissionais de imprensa e também como são realizados seus trabalhos.
Imprensa Jovem – Agência de Notícias na Escola (Secretaria Municipal de Educação de São Paulo-SP)
Premiado pela UNESCO no ano de 2020 como um dos seis melhores projetos de educação midiática do mundo naquele ano, O Imprensa Jovem estimula a participação e amplia os canais de comunicação da escola com a sua comunidade por meio de atividades práticas. Busca desenvolver habilidades e a criatividade a partir de pesquisas e produção de reportagens que são compartilhadas por meio de blogs, rádios virtuais, canais no YouTube e mídias sociais.
Carlos Lima, um dos líderes do projeto, acredita que “o prêmio [recebido pela Unesco] mostra o que a educação brasileira pode desenvolver de bom quando a gente consegue ter uma proposta em que o estudante está ao lado do professor no desenvolvimento das ações e da produção de conhecimento. No caso do Imprensa Jovem, o estudante vai muito além disso, e produz intervenções efetivas na comunidade”.
Fundado em 2009, o projeto está presente em centenas de escolas da rede municipal de educação de São Paulo, envolvendo estudantes na criação de agências de notícias que “potencializam os recursos de comunicação disponíveis, em favor do aluno-repórter numa proposta de comunicação livre e democrática”, conforme descrição na página do programa, que é promovido pela Secretaria Municipal de Educação de São Paulo. Nela também é possível encontrar planos de aulas e a produção realizada pelos estudantes.
“10 propostas de educação para as mídias na escola (Unisinos – RS)
Neste e-book, lançado no final do ano passado, há a reunião de 10 projetos desenvolvidos em escolas particulares e públicas do Rio Grande do Sul, e foi resultado da última etapa do Desafio Nuvem de Educação Midiática, programa de formação online e gratuita realizado pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), com apoio da Embaixada e Consulados dos EUA no Brasil. O acesso é gratuito e pode ser realizado aqui.
A coordenação da publicação coube a Taís Seibt e Luciana Kraemer e traz cinco experiências realizadas no Ensino Fundamental e outras cinco no Ensino Médio. Dentre os temas abordados, estão desinformação e fakenews, funcionamento de coleta de dados no mundo virtual, cooperação na vida digital e as bolhas culturais. Cada projeto apresentado apresenta contextualização e propostas de atividades.
“Esses projetos podem inspirar outros educadores do país a seguirem desenvolvendo novas e diferentes práticas de educação midiática, colaborando para um ecossistema educacional mais preparado para difundir formas de comunicação não violenta, mais empática e construtora de diálogos para o encontro de caminhos e soluções para os problemas sociais do país”, escrevem as organizadoras no prefácio da publicação
Educação midiática para Jovens e Adultos (EJA) – (Secretaria Municipal de Educação de Belo Horizonte-MG)
A escola não é espaço exclusivo para crianças e adolescentes. O programa de Educação para Jovens e Adultos (EJA) é uma modalidade de Educação Básica voltada a pessoas com mais de 15 anos que não concluíram o ensino médio. Visando esse público, a secretaria municipal de educação de Belo Horizonte possui o caderno pedagógico “EJA, EDUCAÇÃO MIDIÁTICA: Direito à Informação e à Comunicação”, disponível gratuitamente aqui.
Organizado por Heli Sabino de Oliveira, a publicação contou com a colaboração de 30 professores e professoras da rede pública que atuam na modalidade EJA e também com o auxílio de estudantes e professores universitários.
Cada seção da obra é escrita por meio de quatro tipos de narrativas distintas: a) um “Causo Pedagógico”, ou seja, uma crônica que abre o capítulo, por meio de uma situação-problema; b) uma “Escrita Acadêmica”, que busca sistematizar e aprofundar os principais conceitos e categorias desenvolvidos no capítulo; c) um “Relato de Experiência”, escrito por um/a educador/a ou por jovens extensionistas, estudantes de cursos de licenciaturas da UFMG que participaram do projeto “Curso de Formação Continuada em Produção de Cadernos Pedagógicos para Educação de Jovens e Adultos (EJA)”; e d) uma “Sequência Didática”, com sugestões de atividades para serem desenvolvidas em sala de aula.
“Esta coleção celebra, sob muitos aspectos, os ideais de Paulo Freire, que propunha que a leitura da palavra não pode ser dissociada da leitura de mundo. Dessa forma, este trabalho pretende se constituir em uma proposta pedagógica transformadora e cidadã, colocando em xeque hierarquias e interesses que sustentam injustiças e desigualdades sociais”, escreve Heli Sabino de Oliveira na apresentação da cartilha.
SAIBA MAIS
Conheça sites e plataformas que oferecem cursos e materiais gratuitos sobre educação midiática
Existem projetos que oferecem cursos e materiais para o desenvolvimento de educação midiática, além de oficinas de formação. Confira:
Realizado pelo Instituto Palavra Aberta, o Educamídia foi criado com apoio do Google para capacitar professores e organizações de ensino, além de engajar a sociedade no processo de educação midiática dos jovens, desenvolvendo seus potenciais de comunicação nos diversos meios. Foi construído a partir de três competências centrais: interpretação crítica das informações, produção ativa de conteúdos e participação responsável na sociedade.
Oferece planos de aula, manuais, cursos e notícias sobre o tema. Possui ainda uma parte específica voltada à educação midiática para a população 60+.
Se autodenomina um “um curso online ultrapop para entender – e combater – fake news e desinformação”. Idealizado por Ivan Paganotti, Leonardo Sakamoto e Rodrigo Ratier, possui quatro módulos e é gratuito.
Foi fundado em 2018, e possui materiais escritos e audiovisuais. Com apoio do Facebook, é possível adquirir um certificado ao realizar as atividades propostas pelas 12 etapas de formação distribuídas pelos módulos “Informação e desinformação: principais conceitos”, “Identificar e combater Fakenews”, “Fakenews e política” e “Desinformação na pandemia e além”.
Fundado em 2021, o VERO é um instituto formado por pesquisadores e comunicadores digitais comprometidos com a proteção da democracia, a promoção do discurso online e a construção de soluções para o combate à desinformação.
A equipe do instituto produz pesquisas, campanhas e projetos que inspiram transformação social por meio do uso crítico de tecnologias digitais. É uma iniciativa mantida pelo influenciador Felipe Neto.